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Capitão América # 08

Por Rafael Borges

Stranger in a Strange Land (*)

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Cinco mil pés acima de Genosha:

— Ejetar! — ordena o Capitão América.

Segundos antes que uma misteriosa rajada de energia atinja o jato da SHIELD que pilota, Steve Rogers é lançado ao ar pelo sistema ejetor. Devido a sua velocidade ultrassônica, ele não é capaz de ouvir a explosão que destroça inteiramente a aeronave que o trouxe até aqui.

Sentindo as ondas de choque, ele tenta acionar seu pára-quedas. A cada segundo, diminuem suas chances de sobreviver. Quando finalmente consegue puxar a corda, percebe que as amarras do pára-quedas estão emaranhadas pelo vento.

Meses atrás, ele foi capaz de sobreviver a uma queda desta altura, usando as propriedades de seu escudo para absorver o impacto. (**) A diferença é que, naquela oportunidade, ele não estava a uma velocidade tão alta.

Não resta alternativa. O Capitão América segura firme o escudo que o acompanha desde a Segunda Guerra e se prepara para o impacto iminente. Qual a sua surpresa ao perceber que sua queda é suavemente interrompida, sem razão aparente.

— Bem-vindo a Genosha, Steve. — diz o Homem de Ferro.

Um pouco desconfortável com a situação, o vingador dourado flutua usando os jatos palmares de sua invencível armadura. Ao seu lado, paira o novo soberano daquele país e responsável pelo providencial resgate do sentinela da liberdade: Magneto.

— Mil perdões pela reação exagerada de minha artilharia antiaréra. — enquanto realiza uma descida suave até o nível da praia, o mestre do magnetismo inicia um diálogo para o qual não parece dar muita atenção — Como deve saber, defender nosso espaço aéreo é uma das principais missões de meus soldados. Nunca se sabe quando um invasor estrangeiro pode tentar invadir nossas fronteiras.

— Eu estava pilotando um jato da SHIELD! — exclama o Capitão, que finalmente volta a colocar os pés em terra firme — Como Genosha teve acesso a armamento capaz de destruir a nave daquela forma?

— Não olhe pra mim! — retruca Tony Stark, por trás de sua máscara metálica — A Stark Internacional está fornecendo apenas a tecnologia usada para reconstruir a capital do país! E só estou fazendo isso como um favor pessoal ao presidente Fox.

Magneto, que já caminhava pela praia para retornar ao recém-construído palácio do governo, finalmente se dispõe a responder:

— Qual a necessidade de armas, Capitão? — indaga, em tom solene — Cada um dos cidadãos de minha nação é uma arma em potencial.

— Nem mesmo você seria baixo o bastante para usar os sofridos mutantes deste país como armas vivas, Magneto! — esbraveja o Homem de Ferro — Depois de tudo o que essas pessoas passaram...

Por um instante, Erik Lehnsherr se detém. De dentro de seu elmo, ele dispara um olhar massacrante sobre os dois heróis que o acompanham.

— Engraçado que faça esse comentário, americano! — responde o mutante — Dê uma boa olhada no seu colega vestido com as cores da bandeira e me diga se vocês têm alguma moral para questionar as decisões que eu tomo em favor da segurança de meu país.

Antes que o clima se torne ainda mais tenso, a ex-x-man conhecida como Vampira realiza uma suave e elegante aterrissagem na areia fina.

— Olá, Capitão! — ela se apressa em saudar o vingador recém-chegado — Fez boa viagem?

Ao longe, é possível escutar o distante som de uma peça da fuselagem do jato do Capitão colidindo com o mar.

— Ainda bem que chegou, Vampira. — interrompe o mestre do magnetismo — O Capitão América veio a nosso país como inspetor oficial do governo americano. Acho que ele apreciaria se você lhe mostrasse como estão caminhando os preparativos para a realização das eleições no final do ano.

— Claro, Magnus. — responde a garota, sem entender muito bem a situação — Se você aceitar uma carona, fofo, posso te levar voando até o centro da cidade. Só tome cuidado para não encostar na minha pele, ou eu posso absorver suas energias vitais.

— Sei como seus poderes funcionam, Vampira. — explica Steve Rogers, acomodando o escudo em suas costas — Eu fui um dos primeiros a cair quando você atacou os Vingadores com a Irmandade de Mutantes, lembra? (***)

— Hã... velhos tempos, né? — meio constrangida, Vampira alça vôo, carregando o herói americano como caronista.

Horas mais tarde:

Depois de passar toda a tarde inspecionando a reconstrução de Baía Hammer, Vampira e o Capitão tiram alguns minutos para apreciar o impressionante pôr-do-sol do alto de uma das montanhas que formam a ilha-nação. Mesmo para duas pessoas que já vislumbraram os mais distantes confins do universo, é uma visão impressionante.

— Tenho de admitir, Vampira. — diz Rogers, sem tirar os olhos da silhueta dourada que começa a se banhar no Oceano Índico — É um belo país este que vocês estão reconstruindo.

— Apesar de toda a arrogância, Erik realmente se importa com essas pessoas. — responde a mutante sulista, arrumando as madeixas brancas de seu longo cabelo — Infelizmente, vencer a eleição com cem por cento dos votos se tornou uma questão de honra para ele. Mas eu fiquei em Genosha justamente para ter certeza de que Magneto não vai se valer de nenhum artifício sujo para conseguir o que quer.

— Qual a diferença? — Indaga o velho soldado — Por que um ditador aclamado por seu povo seria melhor ou pior do que outro que se impõe?

A resposta para essa pergunta tem de ficar para outro momento. Ao longe, ouve-se o som de explosões e o grito dos pedestres é a primeira coisa em que o Capitão fixa sua atenção.

— Já estou a caminho! — a única prova de que o mutante conhecido como Mercúrio passou por ali é a frase que ele solta para o casal que observa atônito ao terror se desencadear.

Pietro já foi um vingador e também atuou ao lado dos X-Men. Agora, ele assumiu seu lugar de direito ao lado de seu pai, Magneto, na liderança de Genosha. Sua responsabilidade é manter a capital protegida contra os ataques dos pequenos grupos da resistência humana que ainda se opõem ao controle mutante da nação.

Uma vez mais, Vampira segura o Capitão e o leva até a área de conflito. Dessa vez, porém, o vôo não é tão suave quanto anteriormente. Ela está apreensiva e teme pela segurança dos mutantes que começavam a levar vidas normais naquele país. Quando eles aterrissam, Mercúrio já encontrou o responsável pelo ataque.

— Foi um ataque suicida. — explica Pietro. Agora, em ritmo desacelerado — Esse maldito humano dirigia um carro cheio de explosivos. Ele sabia que não poderia sobreviver.

A visão do corpo do terrorista dilacerado pelas explosões é horrenda. Vampira busca abrigo no ombro do Capitão América. Mas, infelizmente, essa será uma imagem que os três levarão marcadas em suas memórias até o dia de suas mortes.

Palácio do governo de Genosha, momentos depois:

— Cale-se, Capitão América! — esbraveja o mestre do magnetismo — Você está em meu país há poucas horas e não tem o direito de interferir em assuntos que dizem respeito à nossa segurança nacional!

Steve Rogers se contém. Seus instintos clamam para que ele encare a provocação de Magneto e parta para o combate. Mas a verdade é que o mutante é, no momento, a autoridade reconhecida em Genosha. Agredí-lo apenas pioraria a situação.

Ao lado do vingador, está seu colega Homem de Ferro, que permanece sem palavras. A mutante Vampira interrompe o silêncio apenas com um suspiro, mostrando seu estado de espírito nada tranqüilo. Mercúrio completa o grupo que se reúne no gabinete central do governo genoshano.

— A localização da base rebelde foi confirmada pelos nossos telepatas, meu pai. — explica Pietro. Ele aguarda apenas as ordens para comandar o ataque que vingará as mortes no atentado de momentos atrás.

— Não há motivo para colocar as vidas de meus soldados em risco. — afirma Magnus, colocando seu elmo — Bombardearei pessoalmente a base rebelde com descargas magnéticas e encerraremos o problema em questão de minutos.

— Magneto, você está falando de assassinato! — intervém Tony Stark, com a característica voz metálica amplificada por sua armadura.

— Guarde seus sermões, vingador! — ordena Magneto. Com um gesto, ele força o Homem de Ferro a dar um passo para trás, em uma demonstração de que seu poder voltou ao nível total — Há poucos meses, seu país invadiu a Latvéria com a desculpa de que estavam se defendendo dos ataques terroristas a Wall Street. (****) Qual a razão para que Genosha não possa oferecer o mesmo tratamento às pessoas que ameaçam nossa nação?

— Ele tem razão. — afirma, para a surpresa geral, o Capitão América — Mas tenho uma proposta a fazer. Dê uma hora e prometo trazer todos os rebeldes para que respondam por seus crimes perante a corte genoshana.

Por um instante, Magneto reluta. Aproveitando essa brecha, Vampira o envolve em um suave abraço e aconselha serenamente:

— Erik, é a sua oportunidade de mostrar ao mundo que não é mais um assassino.

Trinta minutos depois, nas semi-destruídas docas da Baía Hammer:

— Agora! — grita o Capitão América.

Após dar voz de comando, ele se joga com toda a força de seus músculos sobre um dos vigias que guarda a entrada da improvisada base da resistência humana. Com seu escudo, ele usa a cabeça do soldado para amortecer sua queda, deixando-o desacordado.

Obedecendo ao sinal de Steve Rogers, o Homem de Ferro usa o gerador de campo de força de sua armadura para isolar a área da base rebelde. Dessa forma, os soldados da resistência não poderão escapar e o combate não coloca vidas civis em risco. A partir deste momento, cabe somente ao Capitão derrotar a milícia formada pelos magistrados que dominavam o antigo regime político de Genosha.

Com um lançamento preciso de seu escudo, o sentinela da liberdade desarma o outro soldado que montava vigia. A arma retorna às mãos do americano a tempo de ser usada para desviar os disparos que vêm em sua direção. Devido à movimentação suspeita, todos os soldados liderados pela magistrada Anderson deixam sua base disparando para matar.

— Está bem longe de casa, cowboy! — ironiza a comandante da resistência. Com um aceno de sua mão, ela ordena que interrompam os disparos contra o herói -Volte para os seus hambúrgueres e tortas de maçã! Aqui em Genosha, resolvemos nossas guerras da nossa forma!

— Magistrada Anderson, eu vim lhe oferecer uma última chance de rendição. — argumenta o Capitão América — Dentro de alguns minutos, Magneto vai bombardear toda essa região. Entreguem-se e respondam por seus crimes enquanto ainda é tempo!

A mulher ri da proposta. Não resta alternativa a não ser partir para o combate.

De maneira ensandecida, o Capitão corre na direção de seus oponentes, confiando apenas em seu escudo para protegê-lo dos disparos inimigos. As rajadas de energia ricocheteiam na superfície lisa da liga única de adamantium e vibranium, causando um sensacional show de luzes.

Quando se aproxima o bastante, Steve Rogers salta espetacularmente sobre a barreira de soldados que formam a linha de frente do combate e aterrissa ao lado da magistrada. Antes que a mulher possa sacar a arma em seu cinto, ele já a agarrou e usa as bordas afiadas de seu escudo para ameaçar cortar o pescoço da rebelde.

— Cessar fogo! — ordena a líder da resistência, percebendo que não há escapatória — Rendam-se... rendam-se todos!

Ao som dessas palavras, o Homem de Ferro desliga o campo de força e se prepara para aterrissar. Magneto e Mercúrio, que observavam o combate de longe, também descem às docas e usam seus dons mutantes para desarmar os soldados derrotados. A primeira pessoa a ir ao encontro do Capitão América, entretanto, é Vampira.

— Obrigada, Capitão! — ela agradece, com um abraço carinhoso — Não tenho como retribuir o que você fez pelo governo de Genosha!

— Tem sim, Vampira! — responde Steve Rogers, desvencilhando-se do abraço e segurando a garota pelos braços — Diga a Magneto que, se esses soldados não receberem um tratamento adequado e um julgamento justo, não importa que o governo americano que o esteja apoiando no governo deste país, eu voltarei aqui e destituirei Magneto, custe o que custar!

A mutante não responde. Ela apenas observa enquanto o Capitão caminha para longe e torce para que nunca mais precise vê-lo tão alterado.


Na próxima edição: De volta à América.


:: Notas do Autor

(*) O título desta edição remete ao clássico da banda inglesa de heavy metal Iron Maiden. (Nota do editor: a música da banda inglesa, por sua vez, é inspirada no clássico de ficção científica homônimo de Robert Heilein.) voltar ao texto

(**) Como visto na edição anterior. voltar ao texto

(***) Na clássica Avengers Annual # 10, primeira aparição de Vampira, por Chris Claremont e Michael Golden. Essa história foi republicada no Brasil pela última vez em Origens dos Super-Heróis Marvel # 04, da Editora Abril. voltar ao texto

(****) Confira em Capitão América # 02. voltar ao texto




 
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