hyperfan  
 

Lobo # 09

Por Lucio Luiz

Ninguém Provoca o Maioral

:: Sobre o Autor

:: Edição Anterior
:: Próxima Edição
:: Voltar a Lobo
:: Outros Títulos

Universo. Espaço finito, mas sempre em expansão. Dotado de belezas tão magnânimas que fogem à nossa imaginação. Possuidor de tantas formas e possibilidades de vida que tornam a Terra, nosso planeta, apenas um grão de areia diante de toda a imensidão.

Mesmo assim, Lobo existe...

Há muitos e muitos anos (mais precisamente 400 anos, segundo a cronologia oficial da DC, se é que essa informação interessa a alguém), no adorável planeta Czárnia, nasceu Lobo. Os czarnianos eram pacíficos e, de tão isolados no universo, nunca tiveram contato com a maldade que prevalece em boa parte das culturas de todos sistemas planetários e coisas do gênero.

Quando Lobo veio ao mundo, ninguém entendeu o que acontecia. Aquele bebê recém-nascido já chegou mordendo os dedos do médico e matando toda a equipe do hospital com os instrumentos cirúrgicos que estavam à mão. Aos 18 anos, no auge da rebeldia natural da adolescência (rebeldia, por sinal, que o persegue até hoje), Lobo matou toda a população do planeta por um simples motivo: teve vontade. Depois disso ele singrou o universo e viveu inúmeras aventuras, além de ter matado, estripado, violentado, trucidado e esbofeteado muita gente. Mas esqueçamos esse preâmbulo e partamos para a história propriamente dita, que ocorre neste exato momento (na verdade, assim que você começar a ler o próximo parágrafo)...

Em algum ponto do espaço (não importa exatamente onde), Lobo adentra um bar espacial (que é espacial por estar no espaço, embora não houvesse necessidade deste adjetivo, já que bar é bar e pronto). Com seu linguajar prolixo e articulado, o Maioral (como é conhecido nosso... ahn... digamos... "herói") solicita gentilmente ao barman:

— Me dá logo uma porra duma cerva!

Lobo está fatigado após um dia de labuta. Como todos devem saber, ele é um caçador de recompensas espacial (o que nos traz de novo à história da necessidade do adjetivo "espacial") que ganha dinheiro honestamente fazendo o que faz de melhor: estripando, matando, violentando, detonando, estraçalhando e caçando qualquer um que tenha uma recompensa por sua cabeça.

Nesse momento de calma e tranqüilidade, Lobo sorve calmamente alguns goles de sua bebida com base de cevada (por falar nisso, como é que pode existir cerveja no espaço? Há plantações de cevada e de cana-de-açúcar em todo o universo? Além do mais, como todo mundo fala inglês? Pelo menos quase nenhum ET tem dificuldade em chegar na Terra e conversar com os heróis de nosso mundo...).

De repente, surge um estranho ser de cabelos roxos e pele avermelhada, com curiosas protuberâncias faciais e um corpo longilíneo, portador de apêndices muito sinistros que parecem asas...

Esquece. Encheu. Não tenho saco de ficar descrevendo mais nada. O estranho chega no bar, dá um soco nas costas de Lobo e saiu voando pelo espaço. O maioral pega sua moto e vai atrás do cara estranho. É isso aí.

Corte para o Brasil. Isso mesmo: Brasil. Mas Lobo ainda não está no Brasil. Pelo menos por enquanto. Bom... deixa pra lá. De qualquer forma, é necessário falar do Brasil agora. Uma espécie de interlúdio. Ou ínterim. Ou até um intermezzo. Cá estou eu filosofando de novo... se bem que isso nem é filosofar. É só gastar uns caracteres a mais numa descrição de... de nada!

Vamos voltar ao ponto: na praia de Copacabana, uma ilustre brasileira está pegando um bronzeado. É a famosa super-heroína Fogo, codinome de Beatriz da Costa. Ela já fez parte da Liga da Justiça, mas atualmente não tem uma atividade fixa no ramo do heroísmo e resolveu visitar o seu país natal.

Fogo está na praia (acho que já disse isso) com um biquíni bem brasileiro (ou seja, bem brasileiro), quando olha para cima e vê alguma coisa caindo do céu. Seria um meteoro? Seria um anjo de asa quebrada? Seria um avião da TAM? Acho que nem preciso perder tempo nessas perguntas no estilo Super-Homem, já que mesmo o mais neófito perceberia que é exatamente Lobo perseguindo o estranho.

Por que será que nós, escritores, sempre fazemos isso? Por que fazemos coisas tão óbvias como personagens estrategicamente colocados nos pontos exatos em que eles deveriam estar? Por que as coisas são tão providenciais? Por que é tão difícil ser original? Mas... como eu estava dizendo... Lobo chega ao Brasil, parando nas areias de Copacabana e chamando a atenção de Fogo. A heroína reconhece aquele extraterrestre branquelo de quando fazia parte da Liga da Justiça. Como as lembranças não são de momentos muito felizes, ela acha importante interpelá-lo:

— Lobo! O que você está fazendo aqui?

— Qualé, gata? Se tu tá querendo um encontro comigo e com o Lobinho tu vai tê que esperar! Agora tô caçando um filho duma frag que eu tenho que estripar!

— Er... será que você não poderia brigar com esse seu amigo em outro lugar? Aqui, vocês podem ferir as pessoas...

— Hahahahaha!!! — responde o Maioral — Tô cagando e andando se alguém vai se ferrar! Na verdade, tu até que deu uma boa idéia pra ficar mais divertido, desfragar aquele filhote de khúndia remelenta!

— Ops...

Depois dessa conversa enriquecedora, o Maioral começa a bater no estranho e, devido a essas atitudes inconseqüentes, os pobres-coitados que estão na praia acabam sendo atingidos pelas sobras do combate. Fogo não consegue ver isso tudo impassível, então ativa seu poder, cobrindo seu corpo com fogo verde e lançando uma rajada desse fogo em cima dos dois combatentes. Eles nem sentem.

O estranho consegue se desvencilhar de Lobo, que se mostra impressionado:

"Como alguém tão mirradinho consegue agüentar tanta porrada?"

Então, o adversário de Lobo abre suas asas (ou coisa parecida) e sai voando como se estivesse procurando por algo.

Lobo assobia, chamando novamente sua moto SpazFrag666 e parte atrás do estranho. Fogo não tem asas nem moto, mas vai voando atrás deles assim mesmo.

Um pequeno momento de mistério: em algum lugar do universo ou de algum universo paralelo ou de alguma dimensão extradimensional, alguém descobre um terrível segredo que une o estranho e o último czarniano. Isso é apenas para que todo mundo fique lendo os próximos capítulos querendo saber o que vai acontecer. E também para mostrar que, apesar de tudo, há uma certa lógica nos acontecimentos tão mal descritos neste relato. Mas é melhor voltarmos para a trama principal.

Cenário: Pão-de-Açúcar. O estranho continua procurando por alguma coisa. Lobo procura por ele. Fogo procura por ambos. O estranho pára em cima de um dos bondinhos, assustando os turistas que estão dentro dele. Dentro do bondinho, é claro. Lobo não demora muito para chegar até ele, já que seu faro é surpreendente: ele pode sentir o cheiro de um putardo até os confins do universo. Fogo conta com a sorte para achar ambos. Além do fato de que a luta dos dois causa tanto barulho que dá para ouví-los mesmo de longe.

De qualquer forma, lá estão eles, Lobo e o estranho, lutando em cima do bondinho do Pão-de-Açúcar. De repente, o cabo se rompe e as pessoas que estão no bondinho começam a rezar. Fogo não é nenhum membro da tropa dos Lanternas Verdes, mas tenta usar seu poder de lançar fogo verde (já disse que é por isso que ela tem esse nome?) para impedir a queda do bondinho. Como ela consegue salvar a todos? Eu explico isso em algum episódio posterior. Juro.

O estranho foge novamente das mãos do Maioral e voa bem alto, novamente como se procurasse algo. Ele aparenta ter visto alguma coisa e foge rapidamente. Porém, ao olhar com mais atenção, vê a estátua do Cristo Redentor e voa desesperadamente na direção contrária. Mais um mistério! Mais um mistério! Estou ficando bom nisso! Só vou explicar num capítulo posterior!

Por falar nisso, impressionante como os escritores gostam de fazer suspense, não? Pegam a coisa mais idiota possível e só explicam no último capítulo de uma saga mais longa do que o necessário. Depois, a explicação acaba sendo mais idiota do que o acontecido. Bons tempos em que autores mais competentes conseguiam fazer histórias muito boas em apenas um gibi. Agora todo mundo quer estender as tramas por vários capítulos. Por que nós, escritores incompetentes, fazemos esse tipo de coisa? Será que achamos que os leitores são tão bobos que vão cair nessa armadilha de ver pequenos detalhes insignificantes e juntar peças que não fazem sentido para solucionar um mistério ilógico? Por que agimos assim? Por quê? Por quê???

Lobo voa vários quilômetros perseguindo o estranho. Nem percebe que o inimigo aparenta procurar alguma coisa. A caçada de Lobo continua por todo o Rio de Janeiro. Eles sobrevoam diversas favelas (sendo quase atingidos por balas e mísseis perdidos) e seguem em direção noroeste, mais ou menos. Não que isso importe, mas se alguém conferisse um mapa do Rio estranharia de onde eles saíram e para onde eles foram se essa informação não existisse. Perto da estação de trem de São Cristóvão, Lobo consegue acertar o inimigo com seu gancho. O Maioral então salta em cima do estranho e os dois caem em cima da linha do trem.

— Agora eu vou te detonar, seu corno dos infernos! — grita Lobo, sem ouvir resposta — Tu não vai responder, não? — insiste o czarniano — Tu é do tipo caladão, né? Vou te dar tanta porrada que no final tu vai tá até gritando pros santos te ajudarem! Mas aí eu dou porrada neles também!

Fogo fica desesperada ao perceber que um trem superlotado, com vagões usados por duas vezes mais pessoas que sua capacidade máxima, além de diversos pivetes surfando alegremente neles, corre velozmente em direção ao ponto onde os dois sujeitos lutam. Com a esperança de que seu fogo verde funcione para evitar essa tragédia, assim como funcionou com o bondinho, Fogo o lança em direção ao trem. De alguma forma, o trem desaparece e reaparece nos trilhos depois de onde estava acontecendo a luta, numa espécie de salto hiperdimensional paralelo. Prometo de novo explicar isso em breve. Mas você precisa antes prometer que vai engolir a explicação que eu vou dar...

O estranho consegue escapar das garras de Lobo e volta a voar. O Maioral nem presta atenção no fato de que está olhando para todos os lados como se procurasse algo (acho que já usei essa frase). De qualquer forma, o Maioral só está preocupado em estripar, matar, violentar, detonar e estraçalhar o adversário. Ele também nem nota que uma mulher envolta em fogo verde voa em sua direção, preocupada em evitar qualquer tipo de destruição. Afinal, ela conhece Lobo e os resultados de suas últimas visitas à Terra. De qualquer forma, o Maioral só está preocupado em estripar, matar, violentar, detonar e estraçalhar o adversário. Ele também nem nota que o estranho dá um pequeno sorriso quando olha na direção do estádio do Maracanã. Por sinal, passa a voar em direção ao estádio nesse mesmo momento. De qualquer forma, o Maioral só está preocupado em estripar, matar, violentar, detonar e estraçalhar o adversário. Ele também nem nota que o autor deste texto não sabe como concluir esse capítulo dando aos leitores interesse a ler a próxima parte desta história e descobrir a origem do estranho e de seu sorriso. Talvez o melhor seja concluir o texto colocando de novo o parágrafo recorrente: De qualquer forma, o Maioral só está preocupado em estripar, matar, violentar, detonar e estraçalhar o adversário.


No próximo capítulo:

Um jogo de futebol como nunca se viu antes! (Bom, na verdade ele vai estar bem violento com a presença do Lobo, mas do jeito que os jogadores estão violentos hoje em dia não vai haver tanta diferença...)

Uma exploração inédita da cultura nacional! (Bom, na verdade vai ter uma ceninha no MASP, mas nada muito diferente do que os artistas pós-pós-modernos fazem com suas obras esquizofrênicas...)

Uma história como jamais se imaginou! (Bom, na verdade não vai ser tão criativa assim, já que histórias de super-heróis existem há tanto tempo que ser criativo nesse ramo não é pra qualquer um...)



 
[ topo ]
 
Todos os nomes, conceitos e personagens são © e ® de seus proprietários. Todo o resto é propriedade hyperfan.