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Lobo # 08

Por Alexandre Mandarino

Anarchy in the Uk

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As carnacumbas eram terrivelmente frias. Seguindo ordens indiretas de Tarodequi, o vume vulvar caminhava trôpego pelos tortuosos caminhos orgânicos. As paredes de carne tremiam e arrotavam à sua passagem. Logo, ele estaria revivendo o maior terror que já havia assolado Uk, o planeta-natal dos magos geneticistas.

Em sua carnocâmara no palácio real, Tarodequi meditava e buscava insights na secular posição de Peidus. Na mente do mago mestre pairava apenas um pensamento: vingança imediata contra o maior dos mercenários cósmicos. Das dimensões carnevoadas de Umbilicus, um pensamento terrível foi conjurado. Tarodequi foi informado carnalmente que, graças à maldição da Eternidade, Lobo estava sendo teleportado aleatoriamente naquele exato momento. O sacerdote levantou-se e correu em busca de seu par de dados cônicos. Feitos da mais fina bile solidificada de cabras aruquianas, os dados rolavam e alteravam probabilidades universais. Entre elas, claro, o aleatoteleporte.

Em meio à sua viagem involuntária, oriundo do Mundo de Mojo, nosso herói sentiu que forças estranhas trabalhavam para mudar seu curso aleatório.

— Neguinho quer que eu vá parar em algum lugar. Uma armadilha. Bom, vão ter que encarar a maior porradaria.

Logo, o Maioral surgia em meio a uma movimentada avenida Ukiana. Em seu carnuário, Tarodequi sorria, satisfeito com a chegada de seu algoz. Encostando a ponta da língua no carnofone, ele disse aos guardiões das carnacumbas:

— O monstro está aqui. Avenida 447, no centro do bairro de Ukiânia. Abram já a saída 145363B das carnacumbas.

— Taquiupa, essa parada de ficar sendo teleportado por aí sempre que eu mato alguém tá arruinando a minha carreira. Já tem o maior tempo que eu não pego um contrato decente e matar aquelas duas bichinhas mutantes não me rendeu nem um puto. Preciso arranjar um serviço logo mas, pra isso, tenho que anular a maldição da piranha cósmica.

Mal estas sábias palavras saíram de sua boca, Lobo se viu atacado por um esquadrão de paragenéticos. Feixes de saliva paralisante quase atingiram nosso herói.

— Hã? Não, não vão me lambuzar de novo, não. Mas, peraí... cês são aquelas travecas de geneticistas. Então eu devo tá em Uk, o planetinha escroto de vocês. Tarodequi, se tu me trouxe aqui, cometeu o maior erro da tua vida.

— Cale-se, ser perdigotal — disse uma voz vinda de uma das naves paragenéticas. — Fomos informados que, se matar um de nós, será teleportado para o caos. Portanto, você nada pode fazer.

— "Nada posso fazer"? Fala sério, perôba! Posso matar logo um de vocês e vazar daqui. Se bem que, se fizer isso, eu não resolvo essa parada. Preciso pensar e dar um jeito em vocês de uma vez por todas.

Nesse instante, as portas mais próximas que levavam às carnacumbas foram abertas. Pedestres e motoristas, aterrorizados, fugiram em busca de segurança. Do interior dos fétidos corredores, surgiam os inomináveis Coproliuns. Zumbis e vumes vulvares feitos de saliva, carne fétida, humor vítreo, sangue, esterco, urina, esperma e líquidos carnais de todas as raças do império Ukiano.

— Que bleargh! Essas merdas devem ter um monte de doença. Mas podem vir, negada, encarar o Maioral!

O coproliun mais próximo virou-se de lado e, posicionando-se em frente ao nosso herói, exalou gases mortais de um de seus inúmeros orifícios.

— Ih, ó: peida não, hein?

Com uma das mãos tapando as narinas, Lobo começou a desmembrar e destroçar os seres que, por não estarem necessariamente vivos, não ativavam a maldição da Eternidade. A luta durou mais de duas horas, para espanto dos geneticistas. No fim da batalha, Lobo jazia em pé, urrando de alegria, em meio a um verdadeiro mar de corpos destroçados. Tomado pelo ódio, o Maioral passou a destruir a capital real, derrubando prédios e viadutos, enfrentando novos esquadrões paragenéticos.

— Tarodequi, seu merda, até agora não matei nenhum ukiano só pra não ter que sair daqui sem esmurrar tua cara feia. Vem me enfrentar, seu prego!

O mago genético se carnojurou para o local imediatamente.

— Estou aqui, ser patético! Mas você não pode me matar, pois isso fará com que seja teleportado.

— É, só que aproveitei esse massacrezinho pra pensar e cheguei a uma conclusão. Se eu matar muita de gente em cada vez menos tempo, a maldição vai ficar maluca. Vou ser teleportado a velocidades cada vez mais absurdas, matando cada vez mais gente, até a merda do feitiço da Eternidade pifar.

— Isso é ridículo, nunca vai funcionar.

— Não? Olha o que eu achei em uma das naves — disse nosso herói, exibindo para o mago uma caixa com um pequeno botão marrom.

— Não! — exclamou Tarodequi. — É... É o Desidratador Universal! Seu tolo, com este dispositivo, você pode...

— Eu li as instruções no verso. Eu posso dizimar metade da população de Uk.

— Seu idiota, isso liberará agentes higienizantes e desidratadores, que ressecarão os fluidos corporais sagrados dos Ukianos! Nossos agentes carregavam esta máquina como garantia contra os Coproliuns. Não aperte este botão! Não...

Lobo apertou o botão e um aterrorizante grito uníssono de dor tomou o planeta. Naquele instante, 400 milhões de Ukianos morreram e o Maioral foi instantaneamente teleportado para o continuum espaço-temporal. Atrás dele, Tarodequi aproveitava seu choro de dor para coletar em um tubo as próprias lágrimas.

— Tá bom, chega dessa porra. — exclamou o czarniano. — Vou acabar agora com essa maldiçãozinha. O lance é matar a primeira pessoa que pintar no pedaço assim que eu aparecer no lugar.

Titã, satélite de Saturno, hoje.

A Serpente da Lua meditava em seu quarto quando foi interrompida pela chegada do Maioral.

— É você mermo, careca. Vem morrer!

— Por Urano! Quem é você, ser fedorento?

— Vem morrer!

No instante do golpe fatal, um servo da sacerdotisa de Titã colocou-se em seu lugar, sendo destroçado instantaneamente por um golpe do mercenário.

Terra, Espaçoporto Steve Rogers, centenas de anos no futuro.

Martinex e Yondu se preparavam para decolar, quando uma figura sinistra surgiu no meio da pista.

— O que é aquilo?

— Não sei, mas veja, arrancou a cabeça daquele funcionário do espaçoporto.

— E sumiu!

Lua, Área Azul, anos atrás.

— Jean, não faça isso! Você não precisa se suicidar!

— É o único jeito, Scott. Só assim estaremos livres da terrível Fênix Negra.

Sem que a dupla percebesse, um mercenário ativava um raio desintegrador Kree, apontando-o para a bela mutante. Em um segundo, ela não mais existia.

Terra, Berlim, 1944.

— Vamo lá, negada! É hoje que os planos de Hitler vão por água abaixo! — gritava o sargento Nick Fury. Ao seu lado, o Comando Selvagem e a Companhia Moleza, liderada pelo Sargento Rock, caminhavam em direção ao bunker que seria a fortaleza final do führer. Soldados soviéticos tentavam invadir o local. Em seu interior, um lunático balbuciava:

— Eles pensam que é o meu fim. Mas Arnim Zola já coletou meu material genético e, quando menos esperarem, voltarei da morte para erigir um novo Reich.

— Pra voltar da morte tem que morrer primeiro, boiola.

— Quem é você? Como entrou aqui? Nããããããõoo!!

— Minha(o) senhor(a), o mercenário está agindo como prevíamos.

— Ótimo, Intermediário.

Terra, Rio de Janeiro, hoje.

Uma festa com mais de quarenta adolescentes vestidos de preto. Em um canto, um deles bradava:

— Claro, afinal estou na noite há dois anos! Já vi de tudo. Olha só, é Sisters of Mercy, vamos dançar.

Os patéticos movimentos de dor travestidos de dança foram interrompidos.

Arrrgghhhh! Seus merdas!

Depois da proeza de executar três decapitações simultâneas, Lobo novamente sumiu.

E o mercenário prossegiu em sua jornada de matança. Da pré-história de Anthro à câmara da Suprema Inteligência Kree; de um subúrbio da capital skrull à Idade Média de uma terra alternativa; de uma colônia de bactérias sensientes a uma rave na 17ª lua de Alraanânia, Lobo matou o primeiro ser que cruzou seu caminho. A energia Kundalini que executava o teleporte se tornava cada vez mais escurecida. De um verde claro, passou para o verde musgo até que, no 867º teleporte, estava completamente negra. Uma fumaça negra saía de cada um dos sete chakras do nosso herói.

As mortes e teleportes agora aconteciam em uma velocidade estonteante. Lobo havia se tornado o verdugo cósmico definitivo. Seus chakras se uniram e explodiram em um amálgama de dor e prazer, cumprindo afinal a função da Kundalini: o orgasmo. Em um último teleporte, Lobo foi enviado para a câmara da Eternidade.

— Basta, ser inconcebível. Já cumpriu sua função.

— Hã? Eternidade? Quer dizer que isso tava planejado desde o princípio, lá no Capítulo Um dessa série, em www.hyperfan.com.br/tits/lobo01.htm?

— Temo que sim. Era necessário que alguns seres fossem eliminados para manter o equilíbrio cósmico.

— Sua hipócrita! Quer dizer que eu banquei o mercenário de graça pra você esse tempo todo?

— Sim. Seus teleportes foram controlados por mim. Todas as mortes estavam em meus planos. Agora parta, sem a maldição Kundalini. Ela não me é mais necessária, tampouco você.

— Peraí, sua cachorra espacial! E essa parada que eu senti agora há pouco?

— Apenas um efeito colateral que ocorre quando se abusa da energia Kundalini. Afinal, a Kundalini existe para que sejamos um só com o cosmos, através do orgasmo.

— Quer dizer que eu fodi com o universo? Eh, eh... Hehehehehehe... BWA-HAHAHAHAHAHA...

— Parta, triste ser.

O cheiro de filé mogadício acordou nosso herói. Ele estava novamente em sua cabana.

— Putz. Tô em casa de novo. Bom, tomara que ainda tenha cerveja. Ei! Peraí. Aquela é a minha Argh-Davidson! Ela foi reconstruída. Beleza, sem moto eu não sou ninguém.

O vento gélido levantava uma nuvem de poeira cor-de-rosa, que envolvia os cinco homens enquanto caminhavam pelo planetóide. O grupo parecia realizar aquela tarefa aparentemente ridícula com um cuidado extremado e quase patético. Cada passo era recheado de olhares para os lados, conversas monossilabicamente sussurradas. Depois de caminharem por cerca de quinhentos metros pela savana rosa, o que aparentava ser o líder parou e levantou o braço esquerdo.

— Parem. E mantenham silêncio completo. Vislumbro uma construção mais à frente. Esperem aqui um instante enquanto me aproximo mais alguns passos e verifico se é o refúgio do alvo.

Enquanto ele desaparecia no fog colorido, o quarteto remanescente permaneceu em extremo silêncio. Irrequietos, pareciam crianças esperando o pai que havia saído para verificar que barulho estranho era aquele do lado de fora da casa. A respiração abafada do grupo era suplantada somente pelo uivar do vento e pelo irritante estalar dos dedos do engenheiro-assistente. Após intermináveis minutos, ouviu-se o crepitar do que parecia ser um galho quebrando. Passos se ouviram e o quarteto sacou rapidamente de suas pistolas laser.

— Guardem isso, seus idiotas! Sou eu! — disse o engenheiro-chefe, que retornava de sua curta missão de reconhecimento.

— E... e então? — perguntou o nervoso engenheiro-assistente. — Este é o lendário refúgio da fera?

— As cabeças cortadas ao longo do terreno e o terrível mau cheiro de sangue, carne apodrecida, urina e cerveja indicam que sim.

— Mas então devemos... — desesperou-se o assistente.

— Acalme-se! — ordenou o líder. — Aparentemente, a criatura não está em seu habitat. Podemos entrar no refúgio e tentar capturar os indícios de que tanto precisamos.

— ... Entrar... no refúgio?...

— Você está louco? — protestou um dos homens.

— Devo lembrar-lhe, engenheiro 714, que está falando com seu superior imediato? — sussurrou com desprezo o engenheiro-chefe.

— Perdão, milorde. — aquiesceu o homem, que tremia a olhos vistos.

O engenheiro-chefe prosseguiu.

— Nossa estratégia é a seguinte: entraremos no refúgio e procuraremos qualquer pista que nos indique a atual localização da fera. Ela não é vista há exatos 44 ciclos andromedares.

— Talvez tenha morrido...

A frase do assistente foi seguida por olhares de escárnio e descrença.

— Chega de bobagem. Vamos!

O grupo parou novamente em frente a uma construção de médio porte, feita em aço oxidado. Portas e janelas estavam abertas e batiam levemente com o vento frio. Cuidadosamente, o quinteto entrou no cômodo principal. O fedor os obrigou a tapar os narizes com a barra das mangas ou lenços.

— Esta é certamente a grota do demônio! — bradou o assistente.

— Pssssss! Silêncio!

— Hã? Que porra é essa? Cês são geneticistas! Tão aqui pra se vingar pelo que fiz em Uk?

— É a fera! Atirem!

Uma sinfonia de disparos laser se fez ouvir, disputando com os gritos histéricos do engenheiro-chefe:

— Seus idiotas! O que estão fazendo? Parem! Vocês vão nos condenar a todos!

Aterrorizados e em frenesi, os quatro subordinados mantiveram o fogo na direção de onde vinham os ruídos da criatura que parecia estar provocando os rodamoinhos. Depois de cinco minutos de disparos ininterruptos, o som dos tiros foi substituído pelo ruído de estalar de dedos, característico de pistolas laser descarregadas.

Lobo gargalhava na frente do grupo, emitindo sons assustadores.

— Cês vão morrer, seus manés!

Uma série de golpes com as próprias mãos e as cabeças dos cinco homens haviam sido arrancadas. Sentindo-se mais vivo do que nunca, nosso herói correu pelo planetóide. Logo foi encontrado pelos seus golfinhos cor-de-rosa, que o saudaram carregando-o pelo fog colorido.

— YEAAAHHHHH!

"A tragédia do lobo é ser ao mesmo tempo caçador e caça, predador e presa".

:: Notas do Autor

Com esta
edição se encerra esta saga de Lobo. Aguarde para breve o retorno do nosso herói em novas aventuras.



 
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