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Por
Alexandre Mandarino
Anarchy
in the Uk
As carnacumbas eram
terrivelmente frias. Seguindo ordens indiretas de Tarodequi, o
vume vulvar caminhava trôpego pelos tortuosos caminhos orgânicos.
As paredes de carne tremiam e arrotavam à sua passagem.
Logo, ele estaria revivendo o maior terror que já havia
assolado Uk, o planeta-natal dos magos geneticistas.
Em sua carnocâmara no palácio real, Tarodequi meditava
e buscava insights na secular posição de
Peidus. Na mente do mago mestre pairava apenas um pensamento:
vingança imediata contra o maior dos mercenários
cósmicos. Das dimensões carnevoadas de Umbilicus,
um pensamento terrível foi conjurado. Tarodequi foi informado
carnalmente que, graças à maldição
da Eternidade, Lobo estava sendo teleportado aleatoriamente naquele
exato momento. O sacerdote levantou-se e correu em busca de seu
par de dados cônicos. Feitos da mais fina bile solidificada
de cabras aruquianas, os dados rolavam e alteravam probabilidades
universais. Entre elas, claro, o aleatoteleporte.
Em meio à sua viagem involuntária, oriundo do Mundo
de Mojo, nosso herói sentiu que forças estranhas
trabalhavam para mudar seu curso aleatório.
Neguinho quer que eu vá parar em algum lugar. Uma
armadilha. Bom, vão ter que encarar a maior porradaria.
Logo, o Maioral surgia em meio a uma movimentada avenida Ukiana.
Em seu carnuário, Tarodequi sorria, satisfeito com a chegada
de seu algoz. Encostando a ponta da língua no carnofone,
ele disse aos guardiões das carnacumbas:
O monstro está aqui. Avenida 447, no centro do bairro
de Ukiânia. Abram já a saída 145363B das carnacumbas.
Taquiupa,
essa parada de ficar sendo teleportado por aí sempre que
eu mato alguém tá arruinando a minha carreira. Já
tem o maior tempo que eu não pego um contrato decente e
matar aquelas duas bichinhas mutantes não me rendeu nem
um puto. Preciso arranjar um serviço logo mas, pra isso,
tenho que anular a maldição da piranha cósmica.
Mal estas sábias palavras saíram de sua boca, Lobo
se viu atacado por um esquadrão de paragenéticos.
Feixes de saliva paralisante quase atingiram nosso herói.
Hã? Não, não vão me lambuzar
de novo, não. Mas, peraí... cês são
aquelas travecas de geneticistas. Então eu devo tá
em Uk, o planetinha escroto de vocês. Tarodequi, se tu me
trouxe aqui, cometeu o maior erro da tua vida.
Cale-se, ser perdigotal disse uma voz vinda de uma
das naves paragenéticas. Fomos informados que, se
matar um de nós, será teleportado para o caos. Portanto,
você nada pode fazer.
"Nada posso fazer"? Fala sério, perôba!
Posso matar logo um de vocês e vazar daqui. Se bem que,
se fizer isso, eu não resolvo essa parada. Preciso pensar
e dar um jeito em vocês de uma vez por todas.
Nesse instante, as portas mais próximas que levavam às
carnacumbas foram abertas. Pedestres e motoristas, aterrorizados,
fugiram em busca de segurança. Do interior dos fétidos
corredores, surgiam os inomináveis Coproliuns. Zumbis e
vumes vulvares feitos de saliva, carne fétida, humor vítreo,
sangue, esterco, urina, esperma e líquidos carnais de todas
as raças do império Ukiano.
Que bleargh! Essas merdas devem ter um monte de doença.
Mas podem vir, negada, encarar o Maioral!
O coproliun mais próximo virou-se de lado e, posicionando-se
em frente ao nosso herói, exalou gases mortais de um de
seus inúmeros orifícios.
Ih, ó: peida não, hein?
Com uma das mãos tapando as narinas, Lobo começou
a desmembrar e destroçar os seres que, por não estarem
necessariamente vivos, não ativavam a maldição
da Eternidade. A luta durou mais de duas horas, para espanto dos
geneticistas. No fim da batalha, Lobo jazia em pé, urrando
de alegria, em meio a um verdadeiro mar de corpos destroçados.
Tomado pelo ódio, o Maioral passou a destruir a capital
real, derrubando prédios e viadutos, enfrentando novos
esquadrões paragenéticos.
Tarodequi, seu merda, até agora não matei
nenhum ukiano só pra não ter que sair daqui sem
esmurrar tua cara feia. Vem me enfrentar, seu prego!
O mago genético se carnojurou para o local imediatamente.
Estou aqui, ser patético! Mas você não
pode me matar, pois isso fará com que seja teleportado.
É, só que aproveitei esse massacrezinho pra
pensar e cheguei a uma conclusão. Se eu matar muita de
gente em cada vez menos tempo, a maldição vai ficar
maluca. Vou ser teleportado a velocidades cada vez mais absurdas,
matando cada vez mais gente, até a merda do feitiço
da Eternidade pifar.
Isso é ridículo, nunca vai funcionar.
Não? Olha o que eu achei em uma das naves
disse nosso herói, exibindo para o mago uma caixa com um
pequeno botão marrom.
Não! exclamou Tarodequi. É...
É o Desidratador Universal! Seu tolo, com este dispositivo,
você pode...
Eu li as instruções no verso. Eu posso dizimar
metade da população de Uk.
Seu idiota, isso liberará agentes higienizantes
e desidratadores, que ressecarão os fluidos corporais sagrados
dos Ukianos! Nossos agentes carregavam esta máquina como
garantia contra os Coproliuns. Não aperte este botão!
Não...
Lobo apertou o botão e um aterrorizante grito uníssono
de dor tomou o planeta. Naquele instante, 400 milhões de
Ukianos morreram e o Maioral foi instantaneamente teleportado
para o continuum espaço-temporal. Atrás dele, Tarodequi
aproveitava seu choro de dor para coletar em um tubo as próprias
lágrimas.
Tá bom, chega dessa porra. exclamou o czarniano.
Vou acabar agora com essa maldiçãozinha.
O lance é matar a primeira pessoa que pintar no pedaço
assim que eu aparecer no lugar.
Titã, satélite
de Saturno, hoje.
A Serpente da Lua meditava em seu quarto quando foi interrompida
pela chegada do Maioral.
É você mermo, careca. Vem morrer!
Por Urano! Quem é você, ser fedorento?
Vem morrer!
No instante do golpe fatal, um servo da sacerdotisa de Titã
colocou-se em seu lugar, sendo destroçado instantaneamente
por um golpe do mercenário.
Terra, Espaçoporto
Steve Rogers, centenas de anos no futuro.
Martinex e Yondu se preparavam para decolar, quando uma figura
sinistra surgiu no meio da pista.
O que é aquilo?
Não sei, mas veja, arrancou a cabeça daquele
funcionário do espaçoporto.
E sumiu!
Lua, Área
Azul, anos atrás.
Jean, não faça isso! Você não
precisa se suicidar!
É o único jeito, Scott. Só assim estaremos
livres da terrível Fênix Negra.
Sem que a dupla percebesse, um mercenário ativava um raio
desintegrador Kree, apontando-o para a bela mutante. Em um segundo,
ela não mais existia.
Terra, Berlim,
1944.
Vamo lá, negada! É hoje que os planos de
Hitler vão por água abaixo! gritava o sargento
Nick Fury. Ao seu lado, o Comando Selvagem e a Companhia Moleza,
liderada pelo Sargento Rock, caminhavam em direção
ao bunker que seria a fortaleza final do führer.
Soldados soviéticos tentavam invadir o local. Em seu interior,
um lunático balbuciava:
Eles pensam que é o meu fim. Mas Arnim Zola já
coletou meu material genético e, quando menos esperarem,
voltarei da morte para erigir um novo Reich.
Pra voltar da morte tem que morrer primeiro, boiola.
Quem é você? Como entrou aqui? Nããããããõoo!!
Minha(o) senhor(a),
o mercenário está agindo como prevíamos.
Ótimo, Intermediário.
Terra, Rio de
Janeiro, hoje.
Uma festa com mais
de quarenta adolescentes vestidos de preto. Em um canto, um deles
bradava:
Claro, afinal estou na noite há dois anos! Já
vi de tudo. Olha só, é Sisters of Mercy,
vamos dançar.
Os patéticos movimentos de dor travestidos de dança
foram interrompidos.
Arrrgghhhh! Seus merdas!
Depois da proeza de executar três decapitações
simultâneas, Lobo novamente sumiu.
E o mercenário
prossegiu em sua jornada de matança. Da pré-história
de Anthro à câmara da Suprema Inteligência
Kree; de um subúrbio da capital skrull à Idade Média
de uma terra alternativa; de uma colônia de bactérias
sensientes a uma rave na 17ª lua de Alraanânia, Lobo
matou o primeiro ser que cruzou seu caminho. A energia Kundalini
que executava o teleporte se tornava cada vez mais escurecida.
De um verde claro, passou para o verde musgo até que, no
867º teleporte, estava completamente negra. Uma fumaça
negra saía de cada um dos sete chakras do nosso herói.
As mortes e teleportes agora aconteciam em uma velocidade estonteante.
Lobo havia se tornado o verdugo cósmico definitivo. Seus
chakras se uniram e explodiram em um amálgama de dor e
prazer, cumprindo afinal a função da Kundalini:
o orgasmo. Em um último teleporte, Lobo foi enviado para
a câmara da Eternidade.
Basta, ser inconcebível. Já cumpriu sua função.
Hã? Eternidade? Quer dizer que isso tava planejado
desde o princípio, lá no Capítulo Um dessa
série, em www.hyperfan.com.br/tits/lobo01.htm?
Temo que sim. Era necessário que alguns seres fossem
eliminados para manter o equilíbrio cósmico.
Sua hipócrita! Quer dizer que eu banquei o mercenário
de graça pra você esse tempo todo?
Sim. Seus teleportes foram controlados por mim. Todas as
mortes estavam em meus planos. Agora parta, sem a maldição
Kundalini. Ela não me é mais necessária,
tampouco você.
Peraí, sua cachorra espacial! E essa parada que
eu senti agora há pouco?
Apenas um efeito colateral que ocorre quando se abusa da
energia Kundalini. Afinal, a Kundalini existe para que sejamos
um só com o cosmos, através do orgasmo.
Quer dizer que eu fodi com o universo? Eh, eh... Hehehehehehe...
BWA-HAHAHAHAHAHA...
Parta, triste ser.
O cheiro de filé
mogadício acordou nosso herói. Ele estava novamente
em sua cabana.
Putz. Tô em casa de novo. Bom, tomara que ainda tenha
cerveja. Ei! Peraí. Aquela é a minha Argh-Davidson!
Ela foi reconstruída. Beleza, sem moto eu não sou
ninguém.
O vento gélido levantava uma nuvem de poeira cor-de-rosa,
que envolvia os cinco homens enquanto caminhavam pelo planetóide.
O grupo parecia realizar aquela tarefa aparentemente ridícula
com um cuidado extremado e quase patético. Cada passo era
recheado de olhares para os lados, conversas monossilabicamente
sussurradas. Depois de caminharem por cerca de quinhentos metros
pela savana rosa, o que aparentava ser o líder parou e
levantou o braço esquerdo.
Parem. E mantenham silêncio completo. Vislumbro uma
construção mais à frente. Esperem aqui um
instante enquanto me aproximo mais alguns passos e verifico se
é o refúgio do alvo.
Enquanto ele desaparecia no fog colorido, o quarteto remanescente
permaneceu em extremo silêncio. Irrequietos, pareciam crianças
esperando o pai que havia saído para verificar que barulho
estranho era aquele do lado de fora da casa. A respiração
abafada do grupo era suplantada somente pelo uivar do vento e
pelo irritante estalar dos dedos do engenheiro-assistente. Após
intermináveis minutos, ouviu-se o crepitar do que parecia
ser um galho quebrando. Passos se ouviram e o quarteto sacou rapidamente
de suas pistolas laser.
Guardem isso, seus idiotas! Sou eu! disse o engenheiro-chefe,
que retornava de sua curta missão de reconhecimento.
E... e então? perguntou o nervoso engenheiro-assistente.
Este é o lendário refúgio da fera?
As cabeças cortadas ao longo do terreno e o terrível
mau cheiro de sangue, carne apodrecida, urina e cerveja indicam
que sim.
Mas então devemos... desesperou-se o assistente.
Acalme-se! ordenou o líder. Aparentemente,
a criatura não está em seu habitat. Podemos entrar
no refúgio e tentar capturar os indícios de que
tanto precisamos.
... Entrar... no refúgio?...
Você está louco? protestou um dos homens.
Devo lembrar-lhe, engenheiro 714, que está falando
com seu superior imediato? sussurrou com desprezo o engenheiro-chefe.
Perdão, milorde. aquiesceu o homem, que tremia
a olhos vistos.
O engenheiro-chefe prosseguiu.
Nossa estratégia é a seguinte: entraremos
no refúgio e procuraremos qualquer pista que nos indique
a atual localização da fera. Ela não é
vista há exatos 44 ciclos andromedares.
Talvez tenha morrido...
A frase do assistente foi seguida por olhares de escárnio
e descrença.
Chega de bobagem. Vamos!
O grupo parou novamente em frente a uma construção
de médio porte, feita em aço oxidado. Portas e janelas
estavam abertas e batiam levemente com o vento frio. Cuidadosamente,
o quinteto entrou no cômodo principal. O fedor os obrigou
a tapar os narizes com a barra das mangas ou lenços.
Esta é certamente a grota do demônio!
bradou o assistente.
Pssssss! Silêncio!
Hã? Que porra é essa? Cês são
geneticistas! Tão aqui pra se vingar pelo que fiz em Uk?
É a fera! Atirem!
Uma sinfonia de disparos laser se fez ouvir, disputando com os
gritos histéricos do engenheiro-chefe:
Seus idiotas! O que estão fazendo? Parem! Vocês
vão nos condenar a todos!
Aterrorizados e em frenesi, os quatro subordinados mantiveram
o fogo na direção de onde vinham os ruídos
da criatura que parecia estar provocando os rodamoinhos. Depois
de cinco minutos de disparos ininterruptos, o som dos tiros foi
substituído pelo ruído de estalar de dedos, característico
de pistolas laser descarregadas.
Lobo gargalhava na frente do grupo, emitindo sons assustadores.
Cês vão morrer, seus manés!
Uma série de golpes com as próprias mãos
e as cabeças dos cinco homens haviam sido arrancadas. Sentindo-se
mais vivo do que nunca, nosso herói correu pelo planetóide.
Logo foi encontrado pelos seus golfinhos cor-de-rosa, que o saudaram
carregando-o pelo fog colorido.
YEAAAHHHHH!
"A tragédia do lobo é ser ao mesmo tempo caçador
e caça, predador e presa".
:: Notas
do Autor
Com esta edição
se encerra esta saga de Lobo. Aguarde para breve o retorno do
nosso herói em novas aventuras.
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