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Dr. Samson - Delírios e Sonhos no Asilo Arkham # 02

Por Rafael Borges

Aqui vai uma pergunta clássica.

— Quer falar sobre o seu pai?

Na cadeira, com um bloco de anotações e um penteado extravagante, este é o doutor Leonard Samson, o psiquiatra dos super-heróis. Ele deixou Gotham City e veio até esta penitenciaria especial para meta-humanos como forma de manter os compromissos que firmou antes de entrar para a equipe do Asilo Arkham.

Deitado ao seu lado em um divã improvisado nesta cela de segurança máxima, encontra-se Pietro Maximoff, o ex-vingador Mercúrio. Recentemente, ele perdeu o controle e passou de todos os limites em sua missão de combater o crime e foi detido pelo governo dos Estados Unidos. (*)

— Eu estou cansado disso, sabia? — responde o mutante de cabelos alvos — Há mais de uma década eu defendo o planeta ao lado dos Vingadores. Será que já não provei o meu valor? Será que sempre serei visto como o filhinho do terrível Magneto? Tenho sempre de lembrar a mim mesmo que não vou me tornar igual a ele. Já não é o bastante o fato de eu ser perseguido por ser mutante e cigano? Depois disso, vieram os anos que passei com aquela embaraçosa 'Irmandade de Mutantes'. Éramos um bando de pessoas coagidas por Magneto. Não havia irmandade nenhuma ali, a não ser entre minha Wanda e eu.

— Que bom que tocou no assunto, Pietro. — interrompe o médico — Como está sua relação com sua irmã? Tem falado com ela nos últimos dias?

— O que você acha? — diz Mercúrio, em seu habitual tom irônico — Sou mantido em uma prisão federal ultra-secreta construída com tecnologia genoshana para desativar meus poderes mutantes. Se não fossem os seus contatos com a SHIELD (**), nem mesmo você poderia estar realizando essas repetitivas sessões de análise.

— Achei que tínhamos concordado que retornar com a psicoterapia era a melhor alternativa. — o olhar do médico se altera levemente para uma descrença com a afirmação do paciente — Depois de todos os problemas pelos quais você passou recentemente...

— Olha, eu não passei por problema algum. — o mutante se exalta — Eles me trouxeram para cá por fazer justamente o que os Vingadores ou a Liga da Justiça deveriam fazer todos os dias. A diferença é que eu pretendia mostrar de uma vez por todas para essa corja de criminosos quem é que manda realmente por aqui.

A sala se aquieta.

Depois de alguns segundos de incômodo silêncio, Samson se atreve a declarar:

— Para alguém que pretende não seguir os passos do pai, você soou bem parecido com Magneto.

Depois dessas palavras, não há mais muito a se dizer a Pietro. Então, o doutor resolve retornar mais cedo a Gotham City. Ele tem um compromisso e não pode se atrasar.

Delírios e Sonhos no Asilo Arkham
Parte II

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Desde que chegou a Gotham, Leonard tem ansiado pela chance de poder se encontrar com o principal vigilante mascarado da cidade: Batman. Mas, depois do contato inicial algumas noites atrás no telhado do Asilo, a última coisa pela qual ele poderia esperar é que uma das ajudantes do homem-morcego lhe desse um telefonema agendando horário para um encontro.

De qualquer forma, a curiosidade venceu o medo e, no horário marcado, a Caçadora apareceu. Ao contrário do que Samson poderia imaginar, ela veio em uma equipada motocicleta e não pousou no terraço do prédio, como o cavaleiro das trevas. Eles conversaram na sua própria sala.

— Deixa eu ver se entendi. — recapitula Samson — Você está investigando o desaparecimento de duas alunas de um colégio da cidade. Por se tratar de duas irmãs, você suspeita que elas tenham sido raptadas pelo Duas-Caras. Sabe... sempre tive uma curiosidade: como vocês, "combatentes do crime", escolhem esses casos para investigar? Você simplesmente sai em ronda pela cidade, ouviu falar das duas alunas em algum jornal ou coisa assim?

— Digamos que eu tenho uma ligação com as vítimas. — a mulher se mostra propositadamente vaga e se apressa em retomar o assunto anterior — Como Harvey Dent foi trazido de volta ao Asilo pelo Batman noites atrás, achei que você poderia tentar conseguir algumas respostas dele.

— Vou ver em que posso ajudar. — Leonard cumprimenta a Caçadora e os dois se encaminham para a saída — Foi um prazer. Mas pensei que os vigilantes de Gotham só saíssem à noite.

— Não te contaram ainda? — a Caçadora o encara com o canto dos olhos — É sempre noite no Asilo Arkham, doutor.

Enquanto reflete sobre essa afirmação e assiste à Caçadora cruzando os portões do Asilo em sua moto, Samson não pode deixar de notar em como o colante ressalta as generosas curvas da vigilante. Tenha santa paciência, homem. Não é hora de abrir brechas no seu profissionalismo.

— E então, sr. Dent. Vai responder às minhas perguntas ou não? — indaga o médico ao louco. Samson vem tentando estabelecer uma conversa um pouco menos superficial para com seu paciente Harvey Dent há mais de meia hora, sem sucesso.

— Dent não está. Deixe-nos em paz! — responde o Duas-Caras, em sua esquizofrenia — Queremos apenas dormir. Está ficando tarde!

— É tarde! É tarde! — a conversa dos dois é interrompida pelo Chapeleiro Louco, na cela à direita de Dent — Alguém aceita uma xícara de chá?

Samson tenta ignorar o Chapeleiro, mas fica difícil não notar que ele oferece uma mão vazia. Em sua psicose, deve acreditar mesmo que acena com uma xícara. Incrível que ele tenha retirado sua personalidade alternante das páginas de um livro infantil.

— Dent... — continua o doutor — Quero saber sobre o tempo em que esteve fora. Sobre o rapto das crianças...

— Eu posso falar disso. — com a resposta de Harvey, Samson abre um sorriso. Será possível localizar os gêmeos? — A moeda é que vai decidir!

— Moeda?! — Samson exclama, enquanto o Duas-Caras lança ao ar o dólar marcado — Quem permitiu que você guardasse essa moeda...?

Antes que ele possa concluir o raciocínio, o veredicto é estabelecido:

— Coroa. Sem mais conversa. Nós vamos dormir. — dito isso, Dent se afasta da porta de sua cela e se deita.

— Desista, doutor. — a voz insinuante é de Hera Venenosa. Ela se encontra na cela à esquerda de Dent e brinca com a língua por entre os dentes enquanto fala — Talvez possamos conversar sobre o assunto mais tarde. Adorei a cor do seu cabelo!

Samson respira fundo e segura para si a resposta mal-educada que lhe vem à mente. Um psiquiatra, meu Deus! Um psiquiatra, não um maldito animador deste auditório insano! Ele vira seu rosto e dá de cara com a face do Coringa, calado e observando a tudo de dentro de mais uma cela e em sua camisa de força.

— E você? Vai continuar sem dizer nada? — a única resposta que Samson obtém é o silêncio do príncipe palhaço do crime e seu olhar gélido — Sabia que você é mais parecido com o Batman do que eu pensava?

Pisando forte e soltando freqüentes suspiros nervosos, Leonard chega até a sala do doutor Bartholomew Wolper, o diretor interino do asilo. Ele abre ruidosamente a porta de uma só vez e começa a falar:

— Você sabia que um dos detentos do Arkham está mantendo os apetrechos de sua personalidade criminosa debaixo do nosso nariz?

— Boa tarde para o senhor também, doutor Samson. — responde o irônico dr. Wolper — Sei muito bem. Encorajamos abertamente que ninguém seja submetido a uma ruptura brusca de seus hábitos quando é trazido para cá. Apenas dessa maneira os resultados podem ser considerados definitivos. E eles não são detentos, mas pacientes. E é assim que vamos nos referir a eles. Estamos de acordo, doutor?

— Não, senhor. Não estamos, não. — Samson respira fundo e bate com os punhos contra a escrivaninha de Wolper quando recomeça a falar — Como espera que esses "pacientes" possam confrontar a sua atual situação enquanto encoraja a sua própria alienação da realidade?

Wolper abaixa os olhos e vê que a inflamação dos ânimos de Samson causaram rachaduras na estrutura de madeira de sua mesa.

— Esta é a política do Asilo e esperamos que ela seja cumprida, doutor. — ele diz, um pouco mais contido — Vamos encerrar o assunto antes que o senhor destrua minha sala.

Samson contém sua raiva, percebendo o medo do colega de profissão. Ele só esqueceu de sua própria força. Mesmo com todo o poder que a irradiação gama lhe concedeu, nunca seria capaz de machucar ninguém. Frustrado, ele abaixa sua cabeça e deixa a sala.

Naquela mesma noite, de volta à sua própria sala no Asilo, Samson se reencontra com a Caçadora. A idéia era dar a ela quaisquer pistas que Dent pudesse ter revelado. Na falta disso, a conversa acabou se tornando um desabafo.

— Eu não posso acreditar que Wolper pensou que eu seria capaz de atacá-lo. — diz o doutor — Se bem que nada que eu pudesse fazer seria mais danoso do que o fato de ele incentivar as personalidades divergentes dessa maneira.

— Não é de se espantar que Gotham tenha tanto problema com supercriminosos reincidentes. Agindo dessa maneira, só falta Wolper dar alta aos loucos, alegando que eles são incompreendidos. — argumenta a vigilante — Olha, eu não queria ser intrometida nem nada... mas, depois dessa discussão, por que você continua trabalhando aqui? Você mesmo disse que suspeita que sua contratação tenha sido apenas um golpe de marketing.

— Sei que isso vai soar meio piegas e antiquado. — o doutor reluta em responder. Ele abaixa o tom de voz enquanto se aproxima da mulher à sua frente — Mas a verdade é que eu me importo. Sabe, eu acho que posso fazer alguma diferença aqui. Nem que não seja grande coisa. Foi para isso que eu comecei com a psiquiatria. Isso faz sentido pra você?

— Você não imagina o quanto. — ela responde baixinho, encarando o médico por baixo da máscara.

Samson pára um momento antes de prosseguir. Então, ele respira fundo, toma coragem e começa a falar com uma voz suave:

— Olha, essa situação já é complicada demais. — diz Leonard, segurando a mão enluvada da Caçadora — Eu não vou complicar ainda mais com palavras.

Dito isso, eles se beijam intensamente.

Vai ser uma noite longa.


:: Notas do Autor

(*) Mais detalhes em Vingadores #07 e #08, no Hyperfan. voltar ao texto

(**) Nas imortais palavras de Nick Fury, a sigla SHIELD significa "Superintendência de alguma coisa pra alguma coisa, etc... resumindo: nós somos os mocinhos". voltar ao texto



 
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