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Por
Dell Freire
Magnum
Opus
Devagar, Eliphas
a mãe puxa o velho com força e afasta os
estranhos pensamentos de seu menino.
Tá! Diz o jovem, irritado.
Não sei porque ele ainda não morreu!
É o Mal. diz ela, debaixo de seus cinqüenta
anos, como se isso explicasse tudo.
O homem caminha com extrema dificuldade, amparado pela esposa
e o filho reclamão em cada um dos braços. O Mal
de Parkinson corrói implacavelmente seu cérebro
a cada segundo. Outrora imponente, ele agora tem as pernas enrijecidas
e suas mãos agitam-se em movimentos involuntários
e desconexos. O corpo que transpirava Ordem, hoje exala Caos.
Ihnn... já.... Ihnn... já.... anuncia,
sentado em sua cadeira após a ajuda.
Ele não pára de tremer, sua boca amolecida pela
doença começando a babar.
O quê? Fala mais alto, velho doido! impacienta-se
o jovem Eliphas.
Ihnn... já.... Ihnn... já.... agitando-se
ainda mais.
Ele quer mijar explica Mildred, a esposa.
Já acostumada a interpretar os resmungos, como uma velha
bruxa a entender a língua dos demônios, ela abaixa
as calças de seu decrépito companheiro, coloca o
pênis sujo em frente a um urinol e aguarda que ele esvazie
a bexiga.
Daqui a pouco ele volta ao normal observa Eliphas,
a mão apoiada na parede.
De dia desanda e de noite anda. É o Mal.
Saindo de perto de Mildred, o menino caminha para seu quarto.
Sentando-se em sua cama, olhando para o teto acinzentado, ele
segura o livro de feitiços intitulado O Pequeno Alberto
contra o peito. Nele reside toda a esperança de, algum
dia, ser um novo homem. Em seguida levanta-se, fecha a porta e
começa a lê-lo em voz baixa.

Não
há a mais remota possibilidade deste livro ser verdadeiro
diante das câmeras, o doutor Terry Thirteen acende
seu charuto. Coisas assim já teriam vindo a público
caso fossem verdadeiras. É pura teoria da conspiração
sem sentido achar que a Igreja esconderia um livro tão
importante. Esse diário, esse Apocryphon, é
uma lenda clássica no mundo do Ocultismo e, cedo ou tarde,
eu sabia que algum espertinho viria com uma fraude dessas. Não
há, repito, não há o menor indício
de que o diário de Cristo esteja entre nós.
Bem, essa é a sua opinião, Dr. Thirteen
John Constantine interrompe o apresentador de TV, que mal se manifesta.
Você sempre teve o mau hábito de achar que
ela serviria à todos...
Meus anos de experiência...
....por favor, doutor! Não me venha vomitar seu
conhecimento em cima do meu sobretudo; acabei de lavá-lo
Constantine acende seu cigarro. Se essa porra de
livro existir mesmo, nada vai mudar. Nada.
Mas não existe...
E se existir? Porra, Thirteen, há milhares de anos
que vemos os mistérios acontecerem no nosso cotidiano e
isso nunca mudou nossas vidas!
Senhor Constantine. Surpreende-me que um homem adulto como
o senhor acredite em feitiçaria; são velhos hábitos
de camponeses incultos... Busca-se o demônio pra se ter
uma boa lavoura, pra se espantar os lobos. Crendice popular que
não condiz com a vida urbana. A magia não existe!
Ela nunca existirá se você assim preferir...
Pois prove-me que essa tão propalada magia existe.
Faça-me levitar, mago!
Com todo o prazer!
Em um gesto rápido, Constantine voa sobre o Doutor Thirteen
com fúria, arremessando-o para fora de sua cadeira. A câmera
acompanha a violenta briga entre os dois, enquanto um diretor
apressa-se em gritar.
Chega! Chega! Alguém segure esses malucos!

Eu passo
Mister Io se afasta, enquanto a nuvem branca foca a briga de Constantine.
Acalme-se, Io o Dr. Oculto segura o amigo pelo braço.
Você sabe que ele é o mais indicado!
Vão sozinhos! Comparado a vocês, sou um zero
à esquerda!
Muito engraçado, Io... Você sabe que precisamos
de você o Vingador Fantasma fica imóvel, olhando
para a briga gratuita que ocorre distante. Certas coisas
só funcionam com um número exato. Você sabe
disso. Se não ficar ao nosso lado, não o convenceremos.
Temos tantas possibilidades... Já pensou no Etrigan?
pergunta Io.
Intempestivo demais descarta o Vingador.
Tem também o detetive...
Hellboy? Pelos nossos parâmetros, ele é apenas
uma criança, Io. Acredite.
Para o bem ou para o mal, precisamos de Costantine
intervém o Dr. Oculto. Não há outro
que...
O Motoqueiro?
Ele já tentou pegar o Apocryphon por motivos
próprios. Não é confiável relembra
o Vingador Fantasma.
Facilite as coisas, Io. Não há alternativas.
Muito bem, Oculto contrariado, Mister Io se dirige
aos outros dois. Se acham tão importante que o encontremos,
que assim seja.
Perfeito! Contendo o sorriso, o Vingador Fantasma
ergue a sua capa e se transporta para a Terra, acompanhado por
seus dois aliados.

Como assim
"a fita está em branco"?
Enquanto o diretor do programa agita-se de um lado e para o outro,
John Constantine está em frente à pia do imenso
banheiro da rede de televisão, terminando de lavar os hematomas
em seu rosto, quando uma mão enluvada se apóia em
seu ombro.
Merda! Diz o mago, sem se virar. O que eu
tenho de fazer pra me livrar de vocês?
Precisamos de você, Constantine.
E pra que vocês servem, afinal? Não fazem
nada sozinhos!
O Caminho do Diabo está sendo aberto à força
e cabe a nós impedir que muitos o trilhem.
Não vai me dizer que é esse lance do Apocryphon,
é?
Exatamente, John afirma o Dr. Oculto. Há
anos ele foi aberto, e agora este livro pode vir a ser a chave
fundamental pra que se acabe a divisão definitiva entre
o Bem e o Mal.
Com o bandido ganhando no final, dessa vez.
Encontre o livro, John pede o Vingador Fanstasma
e entregue-o a nós antes que alguém descubra
os seus segredos.
E suas mentiras...
Não olhe para mim Mister Io ergue uma das
mãos. Duvido do valor desse livro tanto quanto você
e sinto tanto prazer em olhar pra essa sua cara cínica
quanto você a mim.
A mesma simpatia de sempre... E o que eu ganho se me juntar
a vocês novamente?
Não seremos seus companheiros de viagem desta vez
diz o Vingador Fantasma. Outro homem que domina
as artes místicas irá acompanhá-lo no momento
oportuno. Por enquanto, terá que trilhar esse caminho sozinho.
Pelo visto não devo ganhar nem um muito obrigado...
Por onde começo?

Enquanto Eliphas
começa a varrer a poeira para fora de seu quarto, uma pequena
sensação o incomoda, como se algo que há
muito temesse estivesse prestes a acontecer. Com um gesto rápido,
o jovem se tranca no recinto, antevendo a visita de alguém
indesejado. Ele respira fundo, as costas encostadas contra a porta.

Na cama, John Constantine
acorda e começa a se vestir. Ao seu lado, o espaço
vazio.
Acordou tarde, John Zatanna surge nua, caminhando
até ficar ao lado do amante. Mas não vá
se acostumando. É só uma homenagem aos velhos tempos.
O que quer?
Ei, de onde você tirou a idéia de que eu estou
a fim de alguma coisa?
Ela o encara por alguns segundos, esperando a resposta.
Tudo bem, tudo bem. Estou atrás do Apocryphon...
Me disseram que você tem a resposta.
E dormir comigo foi o quê? Um bônus?
Você sabe que não, amor Constantine
acende um cigarro.
Bem, eu já desconfiava que o queria.
E?
Ele estava comigo, realmente Zatanna volta para
a cozinha. E imaginei que era de seu interesse. Infelizmente,
não o tenho mais comigo. Uma noite ele simplesmente...
ela retorna e não encontra mais ninguém
... desapareceu.

A pele de Eliphas
começa a transpirar, possivelmente pelo nervoso e o medo
iminente. De repente ele pega seu livro, O Pequeno Alberto,
e o coloca sobre o peito. Talvez para usá-lo como escudo
contra alguma força invisível. Ele abre a porta
de seu quarto, em meio a sussurros que teimam em surgir em sua
mente. Em desabalada carreira, o jovem bruxo sai correndo pela
rua, o trovão e a chuva fazendo surgir pequenos demônios
em sua mente quando, subitamente, um carro o atropela. Duas moças
deixam o veículo e se aproximam do corpo.
Eu imaginava. A serviço, como sempre; uma verdadeira
workaholic.
Por favor, Desejo.
Irmãzinha, se era pra fazer seu serviço...
Não gosto mais disso do que você. Mas, por
mais que essa viagem possa nos unir, não podemos parar
nosso trabalho. Você sabe disso, "irmãzinha".
Ele vai fazer você demorar?
Ele eu não sei... a voz de Constantine surge
... mas eu pretendo tirar proveito desse encontro. Acabo
de sair da casa de uma amiga e preciso de informações.
Procuro por um livro.
Este? a irmã de Desejo ergue o livro que
Eliphas carregava.
Não, este não. Apesar desse também
ser perigoso pra mentes frágeis, não é o
que procuro.
Desejo, sabe de algo?
Na verdade, minha irmã, os desejos e as súplicas
para alcançar o poder prometido pelo livro que o mago procura
mexem bastante com meu reino. Não é difícil
saber onde encontrá-lo.
E então? Constantine está ansioso.
Louisiana.

Em frente à
uma pensão barata na Louisiana, o táxi deixa Constantine
na porta.
Fique com
o troco.
Caminhando a passos lentos, o inglês chega até a
porta do Hotel e, ao abri-la para entrar, quase esbarra em outro
homem que está prestes a sair.
Você? Stephen Strange não contém
a expressão de surpresa.
Acho que não está muito feliz em me ver,
Stephen rebate Constantine.
A seguir: Acompanhe o primeiro encontro de Stephen Strange
e John Constantine.
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