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Capitão América # 06

Por Rafael Borges

Rock You Like a Tsunami!

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China: Região Administrativa Especial de Hong Kong.

— Foi muita sorte que você estivesse no país, Capitão! — diz o chefe do poder executivo de Hong Kong. Sir Donald Tsang Yam Kuen possui feições asiáticas, mas fala com um com um surreal sotaque britânico devido à sua criação inglesa.

Assim que colocou seus pés em Hong Kong, Steve Rogers foi lembrado de como o mundo atual é diferente do que conhecia na década de quarenta. A ilha, que voltou a fazer parte da República Popular da China em julho de 1997, mais parece um insano copy and paste de diversas partes do mundo. Os imponentes arranha-céus de Nova York, o estranho trânsito de Londres e a exuberância dos luminosos de Tóquio, todos reunidos em uma ilha de capitalismo em um mar socialista.

Na verdade, o Capitão América não veio até Hong Kong por pura obra do acaso. Sharon Carter recebeu uma dica diretamente de Tália, a filha do terrorista Ra's Al Ghul. Quando sua presença foi requisitada pela mais alta autoridade da administração local, ficou claro que não se tratava de uma pista falsa.

Mas, uma vez que o encontro entre elas se deu durante uma invasão a áreas restritas do porta-aviões aéreo da SHIELD, é melhor que tudo pareça uma feliz coincidência mesmo.

— Conte novamente como tudo aconteceu, senhor. — solicita o Capitão América.

— Este DVD foi entregue a mim esta manhã pelo chefe da polícia metropolitana. — o governante retira de um saco plástico lacrado o disco prateado e se prepara para acionar o leitor portátil sobre a escrivaninha de seu gabinete — Ele contém um ultimato em que os irmãos terroristas Fenris exigem a total evacuação da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Seguindo o exemplo de Magneto em Genosha, (*) eles pretendem fundar aqui a primeira nação-mutante do continente asiático.

Andrea e Andreas Von Stucker são os filhos de um antigo inimigo do Capitão América. Genes X positivos, eles são capazes de gerar poderosíssimas rajadas de energia. Entretanto, esse poder só pode ser acionado quando os irmãos estão em contato um com o outro, fato que ocasionou suas derrotas no passado. Mas eles nunca tentaram algo tão ambicioso quanto tomar um país.

Enquanto a mente de Steve Rogers divaga, as imagens começam a surgir na tela de cristal líquido do DVD-player de sir Donald. Lado a lado, os gêmeos destilam promessas de dominação e ameaças de genocídio.

— A era da supremacia ariana passou! É chegada a era do Homo superior! Nesta terra, nós daremos início ao novo reich mutante, que varrerá todo o planeta muito em breve. — o timbre metálico de voz e as feições estáticas que aparecem na gravação do jovem Von Strucker não demonstram nenhuma emoção.

— Todos os cidadãos não-mutantes devem deixar Hong Kong nas próximas vinte e quatro horas. — prossegue Andrea, com o mesmo semblante impassível — Se nossas determinações não forem atendidas, seremos obrigados a purificar nossa futura nação com o sangue de todos intrusos.

A gravação só se encerra depois que os irmãos proferem, em uníssono, uma solene saudação nazista. Nesse momento, a atenção de todos é chamada pela aparição repentina de meia dúzia de soldados chineses, que adentram o gabinete escoltando o general Ao Jun.

— Pode se tranqüilizar, sir Donald! — exclama o militar, em língua inglesa — A marinha localizou os terroristas! Eles foram encurralados em um iate, perto da costa em Tai Long Wan! Nós vamos atacá-los!

— Eu poderia ajudar contra os irmãos Von Strucker, general. — como seria de se esperar, o Capitão oferece seu auxílio — No passado, eu...

— A mera insinuação de que não poderíamos dar cabo de dois mutantes é um insulto ao Exército de Libertação Popular da China, americano! — interrompe Ao Jun, sem muita preocupação em manter a boa educação — Sua presença aqui é uma cortesia a sir Donald. Além do mais, Pequim já me autorizou a usar poder de fogo nível ômega contra os terroristas.

Desacostumado a ser vítima de preconceito racial, Steve Rogers prefere se fazer de desentendido.

— Está maluco? — esbraveja repentinamente o chefe do poder executivo, que se mantinha quieto — Você vai usar armas nucleares em território chinês?

— Quem precisa de rudimentares armamentos atômicos quando temos nossa própria arma viva? — retruca o general, virando-se para deixar o recinto — Usaremos um mutante que, nos últimos cinqüenta anos, ajudou a abastecer de energia a República Popular da China. Vocês podem acompanhar tudo pelo noticiário do canal estatal.

Tai Long Wan, também conhecida como Big Wave Beach. Minutos depois:

— Não há com o que se preocupar, irmão. — afirma Andrea Von Strucker, terminando de fechar o zíper de um uniforme todo feito de couro preto e com adornos neonazistas. Sob o decote, é possível ver a renda vermelha de seu sutiã adornando os seios — Nós sabíamos que eles chegariam aqui. Tudo corre conforme o planejado!

— Sei disso, querida irmã. — responde Andréas, dando a última baforada no toco do cigarro e levantando-se da cama — Na verdade, se não pudéssemos confrontar o patético exército chinês, nossa investida perderia metade da diversão.

O alemão também veste seu uniforme negro, deixando o peito à mostra. Ao fundo, além das ondas do mar, ouvem-se os helicópteros que cercam a área e um comandante militar que esbraveja, por um megafone, palavras de ordem que são solenemente ignoradas pelos irmãos Fenris.

— Chegou a hora de mostrarmos a esses chinas o poder da raça ariana mutante! — a jovem brada em alta voz, com se quisesse que os generais inimigos a escutassem. Depois, alça um demorado e agressivo beijo aos lábios do irmão.

Quando suas peles se tocam, o recinto é tomado por uma luminosidade intensa. É apenas uma prévia da energia que eles liberarão contra as forças militares que os espera.

Pouco depois, em uma embarcação militar perto dali:

— Chega de desperdiçar munição! — ordena o general Ao Jun. Nos últimos minutos, ele assistiu a dois de seus caças serem alvejados e derrubados pelas rajadas energéticas dos irmãos Fenris — Tragam-me Xorn imediatamente!

O mutante chega escoltado ao convés do por uma dezena de soldados e vestindo uma tenebrosa máscara de ferro, que oculta sua face. Quando se aproxima mais, Ao Jun sussurra aos seus ouvidos enclausurados sob o metal:

— Você me trouxe até aqui, velho amigo! Agora, é hora de mostrar ao mundo o poder que restou nesta pequena estrela que esconde no interior de sua cabeça.

Naquele momento, cinqüenta metros acima:

— Eu não posso permitir que salte, Capitão! — explica o soldado, tentando conter Steve Rogers em seu assento dentro do helicóptero.

— Eu compreendo que tenha suas ordens! — retruca o Capitão, desvencilhando-se do chinês — Mas sir Donald Tsang confiou em mim para resolver essa situação antes de tudo se tornar um desastre genético. E eu não pretendo decepcioná-lo!

Com essas palavras, o Capitão América salta da aeronave, confiando em seu pára-quedas para aterrissar a salvo e em sua experiência de combate para derrotar os Fenris. Do alto, ele percebe que os caças estão se afastando e quase todos os navios militares que realizavam o cerco aos terroristas já evacuaram o local. Restam apenas o iate dos irmãos Von Strucker e a nau que abriga o general e sua arma viva.

Quando avistam o pára-quedas, os terroristas usam suas biorrajadas para tentar alvejá-lo. Conforme se aproxima, o sentinela da liberdade percebe que é apenas uma questão de tempo até que eles consigam derrubá-lo. Então, parte para uma manobra radical.

O Capitão arremessa seu escudo com toda a força de seus músculos.

A arma atinge seu alvo em cheio, partindo os dois ossos do braço direito de Andreas Von Strucker, entre sua mão e o cotovelo. Imediatamente, o terrorista vai ao chão. E, uma vez que sua pele perdeu o contato com a de sua irmã, as descargas de energia cessam.

Scheince! — exclama a terrorista, ao ver o irmão incapacitado.

Neste exato momento, Steve Rogers desacopla seu corpo do pára-quedas e aterrissa ruidosamente sobre o luxuoso iate. Em questão de segundos, ele parte para o ataque. Com um potente cruzado de direita, deixa Andrea inconsciente.

— Saia de perto de minha irmã! — ordena Andreas, apontando sua arma com a mão canhota — Você perdeu seu escudo quando me atacou! Não tem como se proteger!

— Isso, garoto, nós vamos ver! — responde o Capitão.

Mais rápido do que seu oponente, ele salta. O gatilho é pressionado e a bala parte em sua direção.

Não é possível escapar do alcance da arma e sua perna é alvejada. Entretanto, o americano cai sobre o terrorista, desarmando-o e colocando fim à ameaça.

De volta ao navio militar:

— Esta nação me foi madrasta ao invés de mãe gentil. — as palavras escapam por entre o metal retorcido da máscara.

Manipulando a gravidade gerada pela estrela que fica dentro de sua cabeça, o mutante Xorn derrotou facilmente todos os soldados que o mantinham sob custódia. Em seguida, foi a vez de seu antigo carcereiro, que atualmente ocupa o posto de general, ser levado ao chão.

Agora, ele se volta para seu verdadeiro algoz.

— Não faça isso! — suplica Ao Jun, desesperado.

O general pode apenas contemplar o homem à sua frente, que se equilibra na beirada do navio e se prepara para retirar o elmo que encobre seu rosto há mais de meio século.

— Hoje, só há uma coisa a fazer com o poder que me sobrou. — prossegue Xorn, em tom amargo — Só me restou oferecer a dádiva do esquecimento à nação que, um dia, eu amei.

Com essas palavras, o mutante expõe sua face pela primeira vez em tantos anos. Ele gostaria de encarar de frente a silhueta de Hong Kong no horizonte distante. Porém, oprimido durante toda a vida, só aprendeu a baixar sua cabeça. E, fazendo isso, ele vislumbra o mar pela última vez.

A energia liberada é tamanha que a embarcação é partida em dois. A explosão lança os destroços a uma distância incrível e atinge as profundezas marinhas com um espantoso impacto. Mais tarde, os geólogos classificariam aquele como o mais poderoso tremor ocorrido na Ásia nos últimos anos.

Segundo as leis de Newton, nenhuma ação passa impune a uma reação. O outrora tranqüilo oceano se revolta com ferocidade indescritível e as ondas que se formam tomam proporções gigantescas conforme se aproximam da costa de Hong Kong.

Do helicóptero que o resgatou, o Capitão América só pode observar atônito à destruição que o gigantesco tsunami causa na metrópole chinesa. Ele vê as lágrimas escorrerem pelo rosto do soldado que, há poucos minutos o tentava impedir de saltar. Ao seu lado, estão os terroristas, desacordados.

De um momento para outro, a vitória sobre os irmãos Von Strucker se tornou tremendamente amarga.

Epílogo:

— As estimativas já chegam à casa de cem mil mortes. — relata a repórter na tela plana da TV — As autoridades chinesas anunciaram que os culpados foram prontamente localizados e já se encontram detidos. Tratam-se dos irmãos Andreas e Andrea Von...

Steve Rogers desliga o aparelho.

Dois neonazistas sozinhos. Ele poderia ter resolvido a situação em minutos — como de fato fez. Mas a intervenção do general Ao Jun transformou um pequeno ataque na maior catástrofe da história chinesa.

De volta à sede do governo de Hong Kong, as palavras lhe escapam aos lábios enquanto ele tenta articular um diálogo com sir Donald.

— Desde o massacre da paz celestial, Pequim aprendeu que requer menos trabalho encobrir os fatos do que tentar conviver com eles. — afirma o governante, que se manteve a salvo das ondas gigantes no alto de um dos arranha-céus que adornam a silhueta de Hong Kong — Eles jamais deixarão vazar para a mídia que o verdadeiro responsável foi um general chinês, muito menos tornarão pública a participação de um herói ocidental no incidente.

— Isso é o que mais me assusta, sir Donald. — responde o Capitão América, depois de uma pequena pausa para a reflexão — Neste aspecto, o meu país não é assim tão diferente do seu.


:: Notas do Autor

(*) Confira a tomada de Genosha por Magneto na saga Imperius X. voltar ao texto




 
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