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Capitão América # 05

Por Rafael Borges

Losing My Religion

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Sessenta e três anos atrás:

— Homem-Mecânico, eu ordeno que mate o Capitão América agora! — esbraveja o alemão.

Steve Rogers retornou ao castelo que serve de quartel-general para as diversas experiências do Barão Zemo disposto a destruir a nova invenção do cientista que seria usada como arma pelo exército nazista. Trata-se de uma letal armadura construída com mais de cem quilos de armamentos e uma blindagem impenetrável. O homem que a veste se tornou conhecido em toda a Europa como o temível Homem-Mecânico.

Infelizmente, nem mesmo os esforços do Capitão foram capazes de derrotar este terrível adversário. Encurralado contra um desfiladeiro, o sentinela da liberdade nada pode fazer enquanto espera o desfecho do inesperado conflito que se desfraldou nos últimos instantes entre seus oponentes.

— Não há necessidade de matá-lo, Barão. — reluta o homem por baixo da poderosa armadura — O americano está indefeso e podemos aprisioná-lo sem maiores problemas.

— Eu não o quero vivo! — retruca Zemo, enfurecido — Eu o quero morto como um cão. Quero exibir seu cadáver por toda Berlim, como símbolo da derrota da América que se prenuncia!

Por um instante, Rogers vislumbra as nuances que podem lhe possibilitar a vitória.

— Homem-Mecânico, lembre-se que eu lhe criei e minha palavra é a lei! — o Barão perde o controle e investe violentamente contra seu subordinado. Ele aciona o gatilho de uma das armas acopladas ao braço da armadura. Trata-se do letal raio da morte desenvolvido anos atrás por Zemo.

Com velocidade surpreendente, o Capitão América defende-se do ataque de seu oponente com seu escudo indestrutível. A mescla única de adamantium e vibranium é capaz de desviar o raio da morte, de forma que ele acaba atingindo o castelo nazista e iniciando um incêndio de grandes proporções.

Abalado pelo disparo involuntário de sua mais poderosa arma, o Homem-Mecânico cambaleia e se aproxima ainda mais da beirada do precipício que os cerca. Sua armadura foi feita para acomodar o maior número possível de armamentos, mas não se mostra muito ágil na arte do equilíbrio. Ele vai ao chão e começa a escorregar para uma queda mortal.

Percebendo que Zemo e os soldados nazistas que o escoltavam debandaram devido ao incêndio que ameaça consumir toda a área, o Capitão América parte para o resgate de seu adversário. Usando toda a força que lhe foi dada pelo soro que corre em suas veias, ele consegue impedir a queda do mais novo supersoldado alemão.

Fora de perigo, o Homem-Mecânico retira o capacete que escondia seu rosto e revela a face de um jovem, mal saído de seus dias de adolescente. É típico do Barão Zemo depravar dessa forma a inocência da juventude.

Danke, Kapitan! — agradece o garoto, estendendo a mão, cumprimentando seu salvador — Meu verdadeiro nome é Jürgen Katzenberger, e jamais poderei retribuir por ter salvado minha vida.

— Poderá, sim. — responde o americano — Zemo escapou, mas os planos da armadura do Homem-Mecânico foram destruídos no incêndio do castelo. Você deve se certificar de que essa arma que está vestindo não caia em mãos erradas outra vez.

Ich Verstehen. A armadura será destruída.

Passado o momento de conflito, o Capitão parte, deixando o jovem soldado para trás. Naquele mesmo dia, o garoto decide abandonar o exército nazista.

Hoje:

Desde os eventos que levaram à prisão do presidente Bush, Steve Rogers se encontra abalado. E, quando os demais aspectos de sua vida parecem não fazer sentido, só há uma alternativa: refugiar-se na sala de treinamentos da nova base dos Vingadores — a base militar Ronald Reagan, no Arizona (*) — e cansar seu corpo até o ponto em que os problemas desaparecem de sua mente.

Mas há um problema com esse conceito. Uma vez que seu físico foi aprimorado pelo soro do supersoldado, algumas horas de ginástica não são o bastante para levá-lo à exaustão. Mesmo assim, ele se exercita na barra com um peso de cento e cinqüenta quilos preso a seus tornozelos.

Ao seu lado, Thor entorna uma garrafa de vinho enquanto tenta animar o companheiro. O deus do trovão nunca precisou se preocupar em manter sua forma.

— Jamais conseguirei decifrar a forma com que os mortais honram seus deuses nos dias de hoje. — comenta Thor — Nos tempos idos em que os vikings caminhavam sobre as terras do norte, os sacerdotes ministravam as celebrações na forma de orgias, não de castidade. Estou certo de que eram tributos muito mais agradáveis.

O Capitão não encontra palavras para responder. Algumas vezes, esquece que o amigo se encontra tão ou mais deslocado que ele nesses tempos modernos.

— Os habitantes de Midgard parecem mais interessados em tornarem-se seus próprios deuses, tamanha é a adoração que devotam a esse Jürgen Katzenberger. — prossegue o deus do trovão — O mortal foi eleito por seus próprios pares como seu principal sacerdote. Chamam-no de Papa Bonifácio X e o consideram como um embaixador dos deuses. Não lhe parece um engodo?

— Como assim? — indaga o Capitão, deixando de lado o exercício que o entretinha.

— Da mesma forma que procedeu Odin, o deus dos católicos teria mandado seu próprio filho a Midgard, se desejasse um representante legítimo.

— Não foi isso que eu perguntei, Thor! — Rogers desfaz os nós que amarravam o peso à suas pernas — Você está me dizendo que Jürgen Katzenberger, o Homem-Mecânico, foi eleito o novo Papa?

Vaticano, algum tempo depois:

Bonifácio X. Bonifácio X, ele repete.

É por esse nome que o mundo todo o conhecerá a partir de agora.

Desfilando vagarosamente no meio da multidão que se formou para recebê-lo, o recém empossado Papa ainda tem dificuldades para aceitar seu novo papel como o supremo pontífice do catolicismo. Durante todos esses anos em que se dedicou ao sacerdócio, ele aspirou esse posto. E, agora, toda a glória lhe é finalmente concedida.

Disperso entre pensamentos, Bonifácio X demora a atentar para a estranha reação das pessoas conforme o papamóvel se aproxima da praça de São Pedro. Subitamente, ele percebe que não é mais o centro das atenções, devido a um homem que acaba de pousar em meio à multidão com um pára-quedas.

Sua primeira reação seria ordenar aos seguranças que detivessem o intruso. Afinal de contas, não seria o primeiro Papa a sofrer um audacioso atentado e nunca é demais prevenir. Entretanto, quando o veículo se aproxima ainda mais, o santo padre finalmente reconhece a estranha figura.

— É o Capitão América... — ele deixa as palavras escaparem por entre os lábios — Tragam-no até mim!

Atendendo a ordem com extrema presteza, a guarda pessoal do supremo pontífice adentra a multidão e Steve Rogers é escoltado através da enorme procissão que se formou para acompanhar a chegada de Bonifácio X. Quando ele se aproxima, o Papa faz questão de descer de seu veículo oficial.

Para a total surpresa do americano, Katzenberger cai a seus pés, de joelhos, e começa a chorar.

— Durante todos esses anos, eu jamais pude esquecer o que você fez por mim. — ele explica, com um sotaque alemão que se diluiu com o passar dos anos — E, agora, você está aqui. Para me resgatar, mais uma vez, de minha arrogância. Para me lembrar que sou um homem de pecado como todos à minha volta.

Mais uma vez, o Capitão não encontra palavras para responder. Infelizmente, saído do veículo oficial, um dos cardeais que acompanhavam a procissão não tem a mesma hesitação.

— Deveria ter se mantido fiel aos princípios do Reich! — ele grita, sacando uma arma de dentro de suas vestes cerimoniais — Morra!

O sacerdote aperta o gatilho, e sua mira é certeira. Entretanto, no último segundo, o disparo é desviado para o alto pelo Capitão América, usando seu inseparável escudo indestrutível. Mais uma vez, ele salva a vida do homem que um dia foi seu adversário.

Uma vez que os guardas do Vaticano vacilam em deter o cardeal, essa tarefa também cabe ao americano. Antes que possa se dar conta, ele já está desarmado e sua derrota está consumada.

Epílogo:

Durante as últimas semanas, a Agente 13 tem estado muito ocupada. Depois que suas descobertas em arquivos confidenciais da SHIELD colaboraram na queda do presidente Bush, ela decidiu concentrar seus esforços em uma nova missão: ela pretende descobrir o atual paradeiro de Ra's Al Ghul, o terrorista responsável pelo ataque a Wall Street que iniciou toda essa loucura.

E Sharon Carter acha que pode fazer isso vasculhando, mais uma vez, os arquivos ultra-secretos no porta-aviões aéreo. E foi com essa meta que ela invadiu o servidor central durante a calada da noite. Uma a uma, ela vasculha as pastas criptografadas e decifra os arquivos com senha.

Iluminada apenas pelas luzes dos monitores e compenetrada em sua pesquisa, pode parecer natural que ela deixe de perceber a aproximação sorrateira de uma figura misteriosa atrás de si. Mas não é nada comum quando uma agente da SHIELD é pega de surpresa.

— Vejo que continua procurando por meu pai. — a voz feminina é sussurrada ao ouvido da Agente 13 com a mesma suavidade com que uma lâmina toca seu pescoço.

Devido à sua atual pesquisa, Carter logo reconhece a mulher que a pegou desprevenida. Trata-se de Tália, a filha de Ra's Al Ghul e herdeira de seu império no submundo.

— Como conseguiu entrar aqui? — questiona.

— Depois que você invadiu, ficou bem mais fácil. — responde Tália — Já que você e o bravo Capitão estão tão empenhados nessa busca, aqui vai uma dica. Acho que essa semana será uma boa oportunidade para visitar Hong Kong. Só não conte a ninguém que eu te disse isso.

O fio da navalha desliza vagarosamente, causando um corte superficial no pescoço de Sharon Carter. Quando ela levanta sua mão para verificar o ferimento, a invasora já partiu sem deixar qualquer vestígio.


No próximo número: Rock you like a tsunami!


:: Notas do Autor

(*) Saiba o que o Capitão faz na base Ronald Reagan lendo o título dos Vingadores. voltar ao texto




 
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