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Aranha # 02

Por Conrad Pichler

Pensamentos e Dúvidas

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"O Winston Churchill Building cresce diante de meus olhos. Este é o prédio onde moro, eu — Iris — e UnT. O WCB é mais conhecido, pelos engraçadinhos, como abóbora cinza (ou abóbora de cinzas, pelos muito mais engraçadinhos). O lugar é velho e tinha uma abóbada de vidro no último andar, coisa que virou um outdoor e agora é um ex-outdoor. Mas como dizem por aí: 'é pobre, mas é limpinho', mais ainda, é meu lar."

"Aproximo-me do prédio rapidamente, voando, para que os vizinhos não me vejam, eles nunca vêem, sempre estão ocupados com outras drogas. Pouso na abóbada e salto para dentro da porta da escada de emergência, quico pelas paredes como um esquilo, de galho em galho, num segundo estou no terceiro andar, um abaixo do meu, diante da porta de UnT, número 31, nada de Octopus, nada de nada... ouço um estalo... não... sim, mais outro... um estrondo que mexe com a estrutura dura da porta... outro som e uma voz. Isso não está certo. Finco minha mão na saliência vaga da moldura da porta e solto minhas pernas, com um impulso de salto, contra a porta... ela voa para o interior do quarto, UnT está amarrotado num canto e um homem vestido de couro negro me observa de cima a baixo e sorri. Nas suas mãos ele carrega a mochila que UnT tinha nervosamente em seus braços... no pub destruído por Octopus... é, eu já conheço este homem, ele é o homem de negro que vigiava a mim e ao rapaz no bar... ele, agora, escapa pela janela, num só salto... corro pelo quarto e salto pela janela, num giro pleno e fluente no ar observo o vulto esgueirando-se pelos parapeitos, janelas e sombras da noite escura, ele é tão ágil quanto eu. De braços abertos, fluo pelos becos em velocidade de interceptação."

"E o pego!"

"Nós batemos na parede vermelha de um prédio vizinho, caindo no chão do beco lateral, com todo o peso sobre mim. Seus olhos nos meus, os dentes brancos... penso: Filho duma mãe! O chuto, a mochila do menino voa... um impulso e ele salta de lado capturando a mochila, sorrindo. "

"O Gato Negro salta, e o sigo. Salta sobre um peitoril... eu o pego pela jaqueta e jogo no chão, uns seis metros, caindo de pé, olha para cima... sorri... a mochila pende no braço. Sem resistência... salto e mergulho fluindo na escuridão do beco, do ar. Pelo pescoço... o agarro... arrasto no chão. Arranco a mochila... jogo num canto."

"Ele já não sorri... fixando-se nas frestas, saltando nas paredes. Tentando pegar a mochila... passar por mim. Deixo-o transladar o beco. Eu flutuo no ar... cravo meus dedos no estômago... a resistência da pele... mas o toque é venoso! Ele se contorce em movimentos descontrolados e cai... de pé, mas não agüenta e se põe de joelhos. Pouso no centro do beco, me antepondo à mochila... os olhos me fitam, o ladrão já não pode roubar mais nada."

— Você... sabe... quem é o garoto? — "ele arfa como um cão" — Sei que... você... acha que ele é anjo... se ele te contar a história... vai se arrepiar. — "ele sorri em dor, de novo."

— UnT é... — "é impossível não parar e pensar, o que eu sempre penso é que nem tudo está evidente, desnudo" — Quem é você... quem é...

— O "anjo" é quem você quer conhecer... ele tem um toque especial... — "e sorri" — Não é venenoso como o seu, é um toque que vibra a matéria, que a faz cantar... é, cantar como Pavarotti, agudo, e esse toque é ótimo para destruir circuitos, protegidos por três toneladas de metal de um cofre de banco... sacou?

— A mochila? — eu penso e a pego.

— São três milhões de dólares... — "seu sorriso me invade."

— São. E eu fico com eles. — "salto para trás e pouso sobre o muro."

— Sabe, neném? Fica com o dinheiro, e dá um recado pro seu amigo mutuna: eu, ou alguém, vai colocar as mãos nele. — "ele gira no ar e sobe em um parapeito" — Te vejo... — "assim, desaparece rapidamente pelas sombras."

"Já não agüento meu corpo, vou andando para casa e penso no meu namorado que morreu e nos dias que passei no hospital depois do acidente, e olhar para janela dava a sensação de que algo estava se revelando, a janela grandiosa do andar em que fiquei internada, pela qual o sol entrava laranja e vermelho, os pássaros planavam no céu, e o vento balançava as bandeiras... a sensação que eu presencio agora é mais densa, mesmo revelando o que está escondido... UnT é ladrão, como Octopus e aquele Gato Negro... eu sei... UnT não é anjo. E saber disso não é como saber que sol era quente e amarelo... é sentir o frio da noite."

"Subo as escadas do WCB até a porta esfacelada sobre o chão do quarto do rapaz, ele está sentado numa poltrona com o corpo e o rosto marcado, está desacordado. Olho por entre as sombras, as paredes sujas e com papéis pintados com figuras estranhas, paro num ainda inteiro — um homem de cabelos brancos sobre a estátua da liberdade, vestido com uma farda preta, como as dos nazistas de filmes antigos, no seu braço um 'X' vermelho entrelaçado com a suástica negra e com a inscrição escrito: 'Magneto aponta o caminho! Morte à humanidade! Morte aos fracos!'."

"O rapaz tosse e acorda. O olho nos olhos. E mostro a mochila, seus olhos arregalam-se e tropeça em minha direção."

— Você é um ladrão... — "digo, buscando os olhos dele, que fixaram-se na mochila."

— Octopus me ofereceu metade da grana... se fizesse metade do trabalho... eu precisava do dinheiro... quero... — "ele agarra vertiginosamente a mochila, eu a puxo, ele cai, seus olhos, puro ódio e dor" — É meu... quero essa merda de dinheiro... quero...

— Não. Ela fica comigo. — "saio pela porta aberta, o rapaz não pode me seguir, suas pernas lhe faltam."

"Quando estava diante das janelas do hospital, sempre me pegava mentindo para mim, achando desculpas para acreditar que tudo era um sonho, é como UnT pensando que Octopus era seu salvador... é um sonho pensar que o ladrão ia dar metade do dinheiro para o 'carinha mutante', tapado!"

"E o Gato? Onde entra o Gato nesta droga toda? Onde?"

"Eu subo as escadas para o quarto andar, o meu apartamento. As sombras me seguem em pensamentos e dúvidas."


Próxima edição: Octopus vs. Iris vs. UnT? E o Gato Negro?



 
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