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Nuclear - Carga Nuclear Efetiva # 01

Por Wellington Alves

Verde. De Cobalto

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Ivy Town, perto da meia-noite. Ronnie Raymond, detentor atual do poder do flamejante herói Nuclear, dorme tranqüilo em seu quarto, depois de uma tarde estafante devido à quantidade de testes e exercícios que o seu atual tutor — Ray Palmer, vulgo Eléktron — passou para ele fazer (*). Os pesados livros de química avançada, física quântica e termodinâmica estão espalhados pela cama e pelo chão, indicando que Ronnie caiu no sono em cima deles e as folhas amassadas que abarrotam o cesto de lixo indicam as diversas tentativas de acertar pelo menos um dos exercícios. Mas esse descanso merecido (de acordo com as últimas palavras ditas por ele antes de adormecer profundamente) está para ser interrompido. Uma voz fantasmagórica chama, pausadamente, o seu nome, perturbando o seu sono e o fazendo acordar.

Ro... nald... Ro... nald...

— Hã...? Quem me chama? Pai? — pergunta o sonolento jovem, que ao tentar se levantar da cama, tropeça num livro de física — Ai! Mas quem foi o idiota que colocou esse tijolo aqui? Ah! Fui eu.

Ro... nald...

— Cara, que voz tenebrosa é essa? Parece o... mas não pode ser.

Já totalmente desperto e com os sentidos aguçados pelas diversas provações e perigos que passou, dividindo o corpo do herói atômico Nuclear com o dr. Martin Stein ou com o russo Mikhail Arkadin, o agora solitário Ronald desce correndo as escuras escadas de sua casa até parar em frente da porta, porém, algo o impede de abrí-la. Ele chega a colocar a mão na maçaneta, mas a retira logo após, tremendo de medo e aflição.

"Pararam de me chamar." — pensa ele — "Afinal, quem seria? A voz me era familiar."

Ele se vira com o intuito de retornar para o quarto, quando, de repente, nas suas costas, a porta explode de fora para dentro. O impacto da explosão o joga contra a parte externa do corrimão da escada, fazendo-o cair pesadamente ao chão. Uma claridade envolve o interior da casa, cegando-o parcialmente.

— Quem... foi... — balbucia o atordoado Ronnie, pondo as mãos na frente dos olhos, tentando protegê-los da luminosidade.

Ro... nald... — um vulto se forma no meio da luz, e o seu contorno faz-se parecer com uma certa pessoa...

Professor?! — grita Ronnie, totalmente surpreso e espantado — Mas como pode...?

A luz diminui enquanto o ser vai ficando cada vez mais visível, até que aparece a sua frente não o professor Stein e, sim, o rubro elemental Stein, com seu cabelo flamejante e que deixou a Terra após doar parte de seus poderes a Ronnie. Cambaleando, o elemental se aproxima lentamente do jovem caído, esticando os seus fumegantes braços em sua direção.

Ro... nald... eu... preciso... de... você!!!

O ser de fogo toca-lhe o ombro, deixando-o paralisado, tomado de um medo quase infantil. Um medo que há tempos ele não sentia, desde quando fez parte do subconsciente de um renascido Nuclear. Época em que dividia a entidade com o russo Arkadin. Medo de não mais voltar a ser simplesmente Ronald Raymond. Um medo que o faz gritar desesperadamente.

Não! Não! Sai daqui! Eu quero ser eu mesmo! Você me deu o poder para eu ser eu mesmo! Vai embora!

Ro... nald... eu... não... sairei... até... ter... o que... eu... quero!

O elemental segura-o pelos braços, levantando-o acima de sua cabeça. Um raio púrpura saí dos seus olhos, encontrando os de Ronnie.

— E... eu... quero... você!

O corpo de Ronnie começa a brilhar intensamente, com fachos de luz saindo por todos os lados, convergindo para a mente da criatura, que gargalha, regozijando-se, enebriando-se pelo poder que tem de volta. Entretanto, algo ocorre de errado. Ele começa a ser incorporado por Ronnie, fundindo-se rapidamente.

Não! Não está certo! Eu serei o único! Eu vou ser o único!

O grito do Stein de nada adianta, pois o fogo engolfa os dois e de dentro das labaredas aparece a figura nua e impressionantemente esplendorosa do Nuclear, o herói atômico.

Não!!!

Nesse instante, Ronnie Raymond acorda gritando e flutuando sobre sua cama. Uma explosão de energia deixa o seu corpo, destruindo toda a casa numa grande bola de fogo.

Momentos depois, o cientista Ray Palmer chega no local e o encontra cercado de homens e carros dos bombeiros, que fazem o serviço de rescaldo das chamas na casa de Ronnie, e se desespera.

— Meu Deus! O que aconteceu aqui? — pergunta ele a um dos bombeiros que está num dos carros.

— Houve uma grande explosão nessa casa. — responde o bombeiro, sem olhar para quem perguntou, pois está mais interessado em enrolar a mangueira no carro — Incrivelmente, só ela foi atingida. Apesar das casas desse quarteirão terem sido construídas tão perto uma das outras.

— Já sabem o que houve?

— Quem é o senhor? — retruca ele, ainda sem direcionar o olhar ao seu interlocutor.

— Eu... sou o dono da casa. Meu... tutelado mora nela. Sabe onde ele está?

— Quando eu cheguei, só havia o fogo. Tente em uma das ambulâncias ali ao...

O bombeiro não consegue terminar a frase, pois ao finalmente olhar para com quem estava falando, não vê ninguém. Ray Palmer usou seu incrível poder de encolher para passar pelos bombeiros sem ser notado. Com o peso menor que um grama, Eléktron plana pelo ar por cima do amontoado de madeira e tijolos queimados na tentativa de encontrar aquilo que, hoje, lhe é a coisa mais cara nesse mundo A busca não demora muito.

— Ronnie! — grita ele ao encontrar Ronald enrolado num lençol dentro de uma das ambulâncias. Rapidamente, Palmer volta ao tamanho normal e corre em sua direção. Ao chegar perto, é impedido por um dos paramédicos.

— Calma. Quem é o senhor?

— Sou o tutor dele.

Ao escutar a voz de seu protetor, Ronnie levanta-se da maca e diz:

— Oi, professor. Acho que eu acertei aquele problema de física... — porém, cai desmaiado ao terminar a frase. Palmer se desvencilha do paramédico e sobe na ambulância.

— Oh, não! Vamos, Ronnie. Seu pulso está muito fraco. E não está respirando!

Palmer não espera que o paramédico entre na ambulância e faz uma respiração boca-a-boca em Ronald, mas não dá sorte. Ele tenta de novo e o resultado é o mesmo. Mas na terceira tentativa, antes de encostar os lábios...

— Pára... com cof isso, Professor. O senhor não é cof, cof a Gisele Bündchen!

Com uma expressão que aglutina alegria, desespero e raiva, Palmer abraça o seu pupilo.

— Quem fez isso, Ronald? O que houve aqui?

— Já estou bem, Ray, obrigado por perguntar. Mas, cof respondendo as suas perguntas, não cof, cof, cof sei... — diz Ronnie, antes de desfalecer.

Preocupado com o seu pupilo, o dr. Palmer chama o paramédico, não antes de enrolar Ronnie no cobertor, pois percebeu que o seu corpo começou a soltar uma fraca luminescência amarelada.

— Por favor, leve-nos aos Laboratórios STAR. A doutora que cuida dele está lá.

— O hospital público é aqui perto, nós...

— Não discuta comigo, rapaz. Só lá ele terá o tratamento correto. Não vê que ele corre risco de vida?

Sem mais discussões, o paramédico pega a direção da ambulância e faz o que Palmer ordenou.

A viagem é rápida. Leva o tempo suficiente para Palmer ligar para a dra. McGee a fim dela conseguir um quarto para Ronnie.

— Pode parar bem em frente! — dirige-se ele ao paramédico.

A doutora já está à espera dos dois na porta do STAR, juntamente com alguns enfermeiros e uma maca. Ronnie é colocado nela e levado para dentro, com a doutora tomando os primeiros cuidados. Já no quarto, com apenas os três, McGee pergunta:

— Palmer, a essa hora da noite, eu devia estar dormindo. Amanhã tenho uma palestra para fazer numa escola em Westchester. De qualquer forma, me diga que brilho é esse que sai desse jovem, bem bonito por sinal.

— Não sei, Cris. Foi por esse motivo que eu o trouxe aqui. Ele nunca apresentou isso. Quando cheguei em casa, ela havia explodido e Ronnie já estava desse jeito.

— Pelo contador geiger, ele está liberando uma certa quantidade de radiação, pequena, de certo, mas está. Que tipo de experiência você está fazendo com esse rapaz? Mais uma de suas viagens pelo tempo?

— Antes fosse, Cris, antes fosse. — diz, com tom misterioso e ao mesmo tempo, preocupado.

— Não vai me falar, não? Como você espera que eu o trate, se não sei o passado dele? É seu filho?

— Quer mesmo saber, Cris?

— Ray, eu cuido de mutantes e meta-humanos há tanto tempo que nada me surpreende. Você sabe, meu marido já foi um.

— Sim, Wally me contou. Mas, nesse caso... meu Deus! O que foi isso?

Um estrondo ecoa do lado de fora. Os dois correm para a janela, para saber o que foi e vêem uma figura verde monstruosa, destruindo tudo que encontra a sua frente:

— Como diria um colega meu: "ai, minha santa Aquerupita"! Quem é aquele, destruindo os carros?

— Espero que não seja um certo carinha. Cris, fique aqui com Ronnie e cuide dele.

Sem esperar que a doutora retruque, Palmer utiliza seu extraordinário poder encolhedor, salta da janela do terceiro andar e rapidamente chega ao térreo, onde a garagem parece uma zona de guerra, com carros totalmente destruídos e pneus por todos os lados.

"Como vou enfrentar essa coisa?" — pensa Ray, ao aterrisar, se escondendo atrás de uma placa de carro amassada — "Primeiro, vamos ver quem é ele."

Ele sai de seu pequeno abrigo e observa a criatura.

"Bem, pela aparência verde, pela enorme quantidade de luz que seu corpo desprende e pelo que sobrou da sua armadura, ele só pode ser o..."

— Homem de Cobalto! Pare aí mesmo! — ordena, pelo megafone, o policial que acaba de chegar com a sua viatura, seguido por mais de uma dezena, que fazem um círculo, prendendo-o entre eles e a entrada do STAR.

Com um grunhido, o gigante verde lança a metade do carro que estava segurando em direção do pobre policial, que só tem tempo de se jogar atrás de sua viatura.

Esquadrinhando a cena, Palmer se assombra:

"O Homem de Cobalto não é tão forte assim! O que será que houve com ele?"

Ao perceber que a criatura irá arremessar a outra metade do carro no prédio, sem pestanejar, Palmer voa em sua direção e, com imensa rapidez e agilidade, volta ao seu tamanho normal, desferindo um poderoso soco, de cima para baixo, no queixo dela, desnorteando-a. Eléktron repete a operação mais uma vez e outra, fazendo com que ela perca o equilíbrio e cambaleie. Para não cair no chão, Cobalto se segura numa árvore, que seca e morre quase que instantaneamente.

Deus! — exclama Palmer — O seu toque está mortal! Minhas luvas estão derretendo também. O que...

Uma bala zune perto de seu ouvido. Os policiais começam a abrir fogo, porém os projéteis derretem antes de encontrar o corpo do monstro.

— Parem! Parem! Não vêem que não adianta? Só irão enfurecê-lo ainda mais! — berra Palmer, no meio da saraivada de balas — Não adianta eu ficar aqui. No STAR pode ter algo que eu possa usar contra ele.

Da janela, a dra. McGee observa a dantesca cena.

— Onde estão os super-heróis quando se precisa deles?

Ainda meio abalado pelo ocorrido mais cedo, Ronnie responde ao apelo da doutora, transformando-se no Nuclear.

— Não se preocupe, doutora. Eu cof me encarregarei disso. — ele põe a mão no ombro da embasbacada doutora e voa pela janela.

— Então foi por isso que... — sem mais uma palavra, a doutora sai correndo do quarto.

No pátio, a destruição dos carros de polícia continua. Cobalto levanta um deles sobre a sua cabeça e, quando ia arremessá-lo longe, uma rajada de força transforma o objeto em algo mais inofensivo e leve.

— Flo... res? Quem...

— Eu, feioso. O primeiro e único herói atômico, Nuclear. Quem é você? Filho do Solomon Grundy com a Mulher-Hulk? — exalta-se Ronnie, voando em volta dele e transformando as moléculas do ar em uma prisão para Cobalto, que não dura muito pois ele a arrebenta com um golpe — Ih! Errei. Em vez de ferro, transformei o ar em zinco. Cadê o professor? E agora, que eu faço?

Absorto nas reminiscências, Nuclear se aproxima perigosamente de Cobalto, que aproveita e o agarra num abraço, segurando-o pela cintura. Ronnie grita de dor.

— Minhas costas! Vo... cê cof, cof quebrou uma... das minhas costelas!

Desesperado, Nuclear dispara várias rajadas de energia no rosto de Cobalto, que a cada uma, aperta ainda mais, num jogo terrível para ver quem desiste primeiro.

Cai, desgraçado! — berra Nuclear, que tem como resposta apenas grunhidos apavorantes.

Os dois ficam assim por excruciantes segundos, o que para Ronnie é uma eternidade atroz. Cobalto só solta o herói quando recebe pelas costas um tremendo jato de água fria, que ao entrar em contato com o calor de seu corpo provoca uma nuvem de fumaça.

Nuclear, sai daí! — grita Eléktron, da porta do laboratório, carregando a mangueira responsável pela ducha fria, mas não obtém nenhuma resposta.

Dentro da fumaça, Ronnie está encolhido no chão, tossindo muito e se retorcendo de dor. Ele só consegue delinear o vulto de Cobalto vindo em sua direção e se desespera.

Não! — grita ele, e de seu corpo uma explosão de energia dissipa a fumaça, jogando para longe o Homem de Cobalto e pulverizando todos os destroços inorgânicos à sua volta.

Ronnie! — grita Eléktron, levantando-se após ter sido jogado para dentro do hall dos elevadores do STAR.

Ao sair para o pátio, se depara com a dantesca cena. Todo o local está coberto com um poeira cinza. Uma pequena cratera encontra-se no local onde antes os dois meta-humanos lutavam. O Homem de Cobalto está perto, desmaiado e imóvel, mas nenhum sinal do Nuclear. Eléktron corre para o campo de batalha e vislumbra o corpo do jovem dentro da cratera.

— Doutora McGee! Tina! Venha rápido! Ele não está respirando...

Horas depois, numa das salas de pesquisa sobre radiação do STAR, Ray e a doutora McGee discutem os resultados dos exames realizados tanto em Ronald como no Homem de Cobalto.

— Muito estranho, dr. Palmer. Os dois parecem estar sofrendo da mesma coisa.

— Verdade, dra. McGee. Veja esses dados. Os corpos de ambos estão em um estado interno deplorável. Parece... parece...

— Um câncer, Ray?

— É, parece ser isso, pelo menos no caso do Cobalto. Aliás, onde ele está?

— Nós o contivemos na unidade contra radioatividade biológica, no quinto subsolo. Lá, sedado, não fará mal a ninguém. Ele chegou perto de ser morto pelo Nuclear. Aquela explosão exauriu quase a totalidade de sua imensa radiação.

— Bom saber, pois não vejo como poderemos tratá-lo. Acredito que seja por isso que ele veio até aqui, pobre doutor Roberts. A paixão dele foi a sua ruína.

— Você o conhecia, Ray?

— Ralph Roberts era um cientista que buscava fama através das experiências com materiais radiativos, mas isso não vem ao caso. Me passa aquela chapa. Obrigado.

— O que tem essa chapa, que te deixa tão intrigado?

— Essa chapa é do tórax do Ronald. Veja essa mancha branca no pulmão.

— Sim, estou vendo. O que você acha que é? Câncer? Mas, você disse que não seria o caso dele.

— Disse e confirmo. Essa mancha indica uma deterioração do órgão e isso vem se alastrando desde que ele recuperou os poderes do Nuclear.

— Então, os poderes dele o estão matando?

— Sim. E se não acharmos logo um modo de parar essa infestação em menos de uma semana, ele, sim, morrerá!


A seguir: Onde a ciência falha, a magia pode resolver? Convidado especial: Dr. Estranho, e reapresentando, um certo elemental vermelho.


:: Notas do Autor

(*) Veja outras participações de Eléktron e Nuclear no Hyperfan em Liga da Justiça #12 e #13. voltar ao texto




 
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