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Batman # 27

Por Leonardo Araújo

Xeque-Mate

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A caverna está na penumbra. Um foco de luz destaca uma plataforma cromada onde o homem-morcego trabalha. Uma tela de 21 polegadas LCD exibe detalhes de arquiteturas de quartéis e de um monumental e sinistro palácio de um planeta distante: Apokolips. Um plano tático de ação está sobreposto às plantas arquitetônicas. Este esquema passa, quase sempre, pelos esgotos das construções.

Enquanto uma pequena câmara o filma, Batman finaliza suas instruções:

— Dick, você e o Capitão América devem organizar a defesa. Diana, chame Kent e reúnam todos aqueles que tiverem disponíveis em menos de 30 minutos. Lembre-se: se este vídeo chegou até vocês, eu estou morto e Darkseid está prestes a invadir a Terra.

Rapidamente, ele ajusta um disparador de mensagem eletrônica, a ser acionado após quatro horas. Os destinatários da mensagem são Asa Noturna e a Mulher-Maravilha, com cópia para Oráculo.

Sobre uma caixa, ele escreve um bilhete para Alfred devolver a Barda e Scott Free os mapas e anotações que ele usou no planejamento e preparação de sua meticulosa ação. (*)

Em um dispositivo alienígena, em seu cinto, ele dá alguns comandos e um tubo de explosão o leva para o outro lado da caverna.

"Testes finalizados." — pensa.

— A caixa materna dos Free, suponho. — Alfred se desloca e aponta para um exoesqueleto, sugerindo — Não é prudente usar isto, senhor.

— Neste caso, isso só iria me retardar.

O mordomo vê seu patrão e amigo desaparecer em outro tubo de explosão. Um comentário lhe escapa, quase como um alerta.

— Há uma linha tênue entre loucura e genialidade, entre inconseqüência e coragem. Não sei qual lado ele está trilhando ao invadir os domínios de Darkseid.

No terraço da mansão dos Vingadores, Visão recebe uma visita:

— Boa noite, Batman.

— Preparados?

O Caçador de Marte, que pousa no local, antecipa a resposta:

— Podemos partir agora.

— Ótimo.

Novamente o tubo de explosão é acionado e Batman, ao entrar no duto, convida:

— Venham.

Visão entra no portal e, com certa surpresa, percebe não estar em Apokolips ao sair dele. Ele observa e constata que está na sede da Liga da Justiça. Batman aponta para o maquinário do teletransporte e solicita ao andróide:

— Já soltei e sincronizei cinco destes teleportadores. Pegue-os, vamos precisar.

— Qual é seu planejamento? — pergunta Visão.

— Você e o Caçador ficarão sob dois pontos de concentração de duas das principais tropas de Darkseid.

— Não é prudente ficar longe deles? — questiona o andróide.

— Você instalará os teleportadores numa região previamente demarcada: sua visão ultravioleta perceberá a sinalização que deixei no local. Caçador, pegue esta caixa materna.

— Conseguiu com Scott?

— E Barda também. Estamos com ambas. Você estará embaixo da garagem principal do esquadrão alfa de demônios alados de Darkseid, uma aviação de elite de parademônios. Eles estarão reunidos e prontos para decolar.

— Como sabe? — indaga Visão. O Caçador olha para o ele e esboça um leve sorriso.

— Fiz um estudo da rotina de algumas das tropas. — Batman explica seu plano em detalhes para a dupla que o acompanha. São quase 15 minutos de explicação.

Apokolips

Poucos lugares habitados no universo, considerando vida inteligente, são tão impróprios a humanos quanto o planeta Apokolips. O ar é denso e fétido, além do clima permanecer com um calor constante, comparável com os desertos mais quentes da Terra. Nenhum homem gostaria de viver aqui e poucos ousariam tentar. Destes últimos, uma percentagem quase desprezível sobreviveria aos habitantes locais, o verdadeiro problema deste planeta, por mais do que algumas dezenas de minutos.

Contrariando o senso comum, Batman desloca-se por um longo corredor em uma prisão de Apokolips. A pouca iluminação local permite que o vigilante instale discretos explosivos em várias portas que impedem prisioneiros locais de fugirem.

Quase uma hora se passa até o homem-morcego concluir a primeira fase de seu plano e iniciar a segunda: explosivos plásticos moldáveis são postos no subsolo, abaixo das celas. Eles formam um círculo. Quando explodirem, parte do chão cederá e até um carro poderia passar pelo buraco no piso.

Ele sente seu comunicador vibrar no cinto: é o sinal de que o Visão está em posição. Usando a rede de esgoto, Batman se desloca com o objetivo de chegar até o soberano local: Darkseid.

Após quase vinte minutos no trajeto, um pensamento alienígena lhe invade a mente:

"Tudo pronto, Batman!"

Ele sabe que o marciano cumpriu sua parte na trama.

No salão imperial, Desaad finaliza relatos a Darkseid de assuntos administrativos e trabalhos que estão sendo desenvolvidos. O homem faz as características bajulações e se retira do ambiente.

— Sua fama lhe é justa, terráqueo. — fala o soberano de Apokolips logo após Desaad fechar a enorme porta que acessa o salão.

Saindo das sombras de uma pilastra, Batman dá alguns passos e se faz visível. O imperador retoma a palavra.

— Feito impressionante que poucos teriam condições: chegar em minha presença no meu castelo. Um número ainda mais restrito teria coragem para tal. Vindo de um simples humano, é um feito memorável.

— Não vim buscar elogios, Darkseid.

— De fato. Busca o terráqueo conhecido como Slade Wilson. Mas, aqui, só encontrará sua morte.

— Veremos. Não tente nada que irá se arrepender depois.

A expressão de Darkseid fica ainda mais severa e suas íris brilham. Batman permanece imóvel, encarando seu interlocutor. Os raios ômegas partem dos olhos do tirano, objetivando o detetive. A algumas dezenas de centímetros do alvo, um tubo de explosão se abre, entre Batman e a rajada fulminante. A saída do tubo surge nas costas de Darkseid. O alienígena é castigado por seu próprio disparo, sendo projetado violentamente para o outro lado da sala.

Irado, ele escuta Batman explicar o que ocorreu, enquanto se levanta.

— As caixas maternas são engenhos fascinantes. Programei a que está comigo para ser sensível a fluxos concentrados de energia e impedir que estes me atinjam, redirecionando-os às suas origens.

O gigante já está de pé. Ele tem os dentes cerrados e há expressão de dor no seu rosto.

— Engenhoso, mas só adiou o inevitável: você morrerá hoje e por minhas mãos. Sinta-se honrado em ser morto por um deus.

Darkseid, caminhado, atravessa a grande sala, dirigindo-se à porta. Batman o escuta dispensar os guardas que, ao ouvirem a explosão, dirigiram-se para o salão.

— Entregue-me Wilson.

— Humano arrogante e insolente. Antes de morrer, ajoelhará aos pés de Darkseid implorando por uma morte rápida.

O vigilante pega um pequeno aparelho. O tirano dá meio passo para trás.

— Você mandou parte de seu exército a Gotham. Eles soltaram alguns presos, além de levarem o Exterminador.

O soberano local cerra os punhos e pergunta:

— Acredita que Darkseid seria tão simplório em suas ações?

— Não o subestimo. Plantei bombas na fábrica de seus cruzadores, há alguns dias. Caso eu as acione, os dois que estão prontos serão destruídos e a produção dos outros seis estará irremediavelmente comprometida. Providenciei para que a Liga da Justiça e Nova Gênese saibam onde se encontram os outros doze cruzadores estelares. — ele franze a testa — Quero o prisioneiro de volta.

Batman cruza os braços. O imperador diz:

— Slade Wilson é uma peça importante no que planejo: a invasão daquele planeta que vocês chamam de Terra. Ele será estratégico para guiar os comandantes de meus esquadrões especiais, pois conhece bem seu planeta e as ações militares de seus governos.

— Desista, Darkseid, e me entregue Wilson.

Um meio sorriso brota na face do deus. Ele prossegue.

— Um bom estrategista deveria reconhecer outro. Trazer o Exterminador até aqui foi uma forma de atrair você aos meus domínios. Sua capacidade de organizar a Liga da Justiça poderia atrasar minha conquista de seu planeta. Minha ação na sua cidade objetivava duas coisas: obter um guia local para a invasão e, mais importante, acabar com o maior estrategista dentre aqueles a quem vocês chamam de "heróis".

— Existem outros. O Capitão América e Asa Noturna, dentro de minutos, receberão uma mensagem minha. Nela, instruo-os a formar pequenos grupos para rechaçar possíveis tropas invasoras. A Mulher-Maravilha também receberá uma mensagem: ela se encarregará de avisar a Liga da Justiça, Vingadores, X-Men, Quarteto Fantástico e alguns outros. Tomei minhas precauções.

O detetive descruza os braços, pressiona outro botão e prende o aparelho na parte posterior de seu cinto.

— Você falhou. Sua vinda à Apokolips era o grande objetivo da operação. Sua colaboração, ainda que não voluntária, era previsível. Por isso, você pagará com a vida. Neste momento, centenas de parademônios cercam este prédio: esgotos, corredores e telhados. Há naves circulando o espaço aéreo sobre o palácio, bem como alguns blindados ao lado de fora. Nem o Super-Homem entraria aqui a tempo de salvá-lo.

— E porque pensa que preciso que alguém me salve? — um breve silêncio se segue.

— Tolo arrogante. Usa a dissimulação para esconder sua notória desvantagem. Você é só um humano. — eles se encaram tenazmente — Qualquer um dos seus amigos, magos, transmorfos ou mesmo a tecnologia da caixa materna não o salvarão. Eu o venci em seu próprio jogo. Pode comparar o que aconteceu aqui com o que vocês chamam de um jogo de xadrez. Diga suas últimas palavras.

Quando tudo parece dito, o detetive, com extrema calma, adverte:

— Caso você me mate, Apokolips entrará numa guerra com os skrulls e com Qward.

— Blefe!

— Este aparelho, em meu cinto, transmite minha pulsação cardíaca a dois amigos. Um deles é telepata e lê minha neste momento.

— Não faço obstáculos a testemunhas de sua morte.

O detetive retoma a palavra.

— Ao morrer, o sinal que o aparelho transmite é interrompido e isso ativará, automaticamente, teleportadores e um tubo de explosão. O primeiro levará, de imediato, algumas centenas de seus batedores alados, reunidos para os jogos de guerra neste momento, para o centro de comando dos skrulls. O tubo levará o pátio central de formatura, e os três batalhões armados de sua tropa de cães de guerra, que estão sobre ele, para a capital de Qward.

Mais uma vez, o tirano cerra os dentes.

— Entregue-me Wilson.

Darkseid reluta, mas após alguns tensos segundos se decide:

— Desaad! — ele aguarda seu subalterno chegar — Entregue o Exterminador ao terráqueo. — pronuncia de forma pausada, olhando Batman e num tom firme.

— Mas, senhor...

— Não pondere minha ordem! — exclama, profundamente contrariado.

Desaad sai da sala. Nenhuma palavra é pronunciada no ambiente. Há um silêncio perturbador. Por fim, Slade Wilson, quase imobilizado e escoltado por parademônios, é entregue a Batman.

— Não sei o que aconteceu aqui, Batman, mas haverá troco. — adverte o Exterminador.

Sem dar atenção aos comentários do prisioneiro, Batman pega, novamente, o pequeno aparelho no seu cinto.

— Darkseid, você libertou prisioneiros em Gotham. Libertarei alguns aqui também. Considere um aviso.

O tirano pode ouvir pequenas explosões e identificar que elas vêm dos prédios de seus complexos presidiários.

— Saia de Apokolips, agora! — Darkseid esmurra uma mesa.

Ao ativar um tubo de explosão que o levará para casa, Batman sentencia:

— Se você, ou algum de seus subordinados, voltar a Gotham, eu retorno aqui.

E desaparece em meio a um estrondo, deixando um Darkseid cheio de ódio para trás.


:: Notas do Autor

(*) Leia Batman # 25 e 26. voltar ao texto




 
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