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Por
Eduardo 'Mordred' Viveiros
Bifurcações
Fim
de tarde. O clima na sala de projeção da delegacia
central de Gotham está péssimo. E com razão.
Sentados estão os detetives Harvey Bullock e Renée
Montoya, incomodados pelas imagens projetadas pelo seu superior,
o comissário James Gordon.
Ao que
parece, temos um novo maluco na cidade, senhores. Duas vítimas
foram encontradas nas últimas noites, ambos garotos de
programa com cerca de 16 ou 17 anos, torturados e mortos da mesma
forma. Pelo que a perícia pôde deduzir, o assassino
leva os garotos desacordados para um quarto e, enquanto ainda
estão vivos, corta o escroto deles, colhendo o fluido escrotal
e retirando seus testículos. Logo depois, ferve tudo junto
em um pequeno fogareiro, recolhendo o resultado em uma seringa.
Eficiente
essa perícia, hein? Contratamos videntes agora?
interrompe Bullock.
Não
exatamente. Na noite passada, o assassino abandonou todos os seus
objetos no quarto, sabe-se lá por quê. Continuando,
como vocês podem ver pelas fotos, ele abandona os garotos
na banheira do quarto alugado, juntamente com os testículos,
e corta seus pescoços antes de sair.
Ao menos
ele é piedoso. Bullock murmura novamente, mastigando
a ponta do charuto Eu não conseguiria viver sabendo
que tive minhas bolas cozidas.
Isso
é tudo o que temos. Gordon retoma a palavra
Detalhes adicionais estão nos relatórios que entreguei
a vocês. Estou tentando esconder o máximo possível
da imprensa, portanto temos que agir rápido. Dêem
prioridade total a este caso, quero resolvê-lo antes que
os federais se interessem. Se eles se meterem, vamos ter problemas.
Podem ir.
A dupla sai
da sala conversando, deixando para trás um comissário
Gordon pensativo, a parede decorada com um close no corpo rasgado
de uma das vítimas. A foto tremida denuncia o nervosismo
do fotógrafo policial, que não agüentou o baque
da cena e pediu férias logo após a perícia.
A imersão mental de Gordon é interrompida bruscamente
por uma voz vinda do fundo da sala.
Horrível,
não? Batman paira ao lado da janela aberta, como
um fantasma entre as sombras.
Ainda
descubro como você faz isso.
A faxineira
me deixa entrar. a piada inesperada faz Gordon improvisar
um sorriso enquanto Batman se aproxima.
Quanto
você ouviu?
O suficiente. Na verdade, vim ver o que você tem
sobre o caso.
Como ficou sabendo?
Tinha uma ligação com a última vítima.
Ah... Gordon desvia o olhar e arruma os óculos
com a mão. De repente arregala os olhos, como que saindo
de um transe Robin?
Não. O que sabe sobre o assassino?
Praticamente nada. Sem digitais no quarto ou no fogareiro.
O atendimento dos motéis que ele utilizou é completamente
automático. Ele pagou com dinheiro, pegou as chaves, fez
o serviço e foi embora sem que ninguém visse seu
rosto.
Muito bem. Imagino que a cena do crime esteja liberada
para mim.
Como sempre.
Ótimo. Vou pegar esse maníaco antes da terceira
vítima. Avise a Bullock e Montoya que estou no caso.

Jardim
de entrada da mansão Wayne. Alfred observa o pôr-do-sol
ao longe enquanto coloca comida para Ás. Ou tenta colocar,
já que o animal só dificulta o trabalho do mordomo.
Ás, eu já disse que não posso encher
seu prato se você não tirar a cabeça da frente!
Alfred ralha com o animal, empurrando-o para o lado. Depois
murmura Cão teimoso, parece o patrão Bruce.
Pelo menos eu não solto pêlos no seu paletó.
Boa tarde, patrão Bruce. Não o vi chegando.
Sei ser furtivo quando quero. ironiza Bruce, agachando-se
para afagar Ás Como está Tim?
Patrão Timothy ainda não veio à mansão
hoje. Segundo o que conseguiu contar ao telefone sem chorar, ele
recebeu a notícia do assassinato do colega na escola. Se
me permite dizer, patrão, ele está realmente abalado
e logo vai querer que Robin cace o assassino. E imagino que suas
proibições não irão surtir o efeito
desejado.
Eu já esperava por isso. Por favor, Alfred, ligue
para Tim e peça que se prepare para agir esta noite. Encontro
com ele na caverna às nove. Temos que pegar esse lunático
ainda hoje.
Sim, senhor. E para onde vai agora?
Investigação de campo. Quero saber com quem
estamos lidando.

A torre
Wayne, sede da Waynetech e da Fundação Wayne, ergue-se
imponente no coração de Gotham. Contrastando com
as outras construções de concreto e com as gárgulas
características da cidade, os vidros que revestem seu topo
brilham ao sol, iluminando a vizinhança próxima.
O 35° andar abriga o escritório de Lucius Fox, braço-direto
de Bruce Wayne na administração de todo o conglomerado
que leva seu nome. Das amplas janelas de seu escritório
pode-se ver a cidade, do centro até seus limites, passando
pelas grandes estruturas da Estação Robinson. É
essa vista que entretém a mente desta mulher, que espera
pacientemente sua reunião com Lucius.
E é ele quem entra pelo elevador particular, vindo esbaforido
de andares inferiores, discutindo com um interlocutor invisível
no celular. Seu semblante se acalma com a visão da bela
mulher de cabelos platinados.
Olá, madame. Perdoe-me pelo atraso, mas tivemos
pequenos problemas com um jantar beneficente na última
noite. Como foi a viagem de volta da França?
Tres
bien, Lucius. A primeira classe da W-Air sempre foi da melhor
qualidade. Mas vamos tratar de negócios pois, pelo visto,
seu tempo anda escasso. Enviei meu portfolio no começo
da semana para sua análise.
Eu recebi,
mas confesso que não li com a devida atenção.
De qualquer forma, ele não é necessário.
Todos aqui conhecem seu trabalho de longa data e estaríamos
muito satisfeitos se você aceitasse nossa proposta.
Pelo
que entendi, vocês estão com problemas na área
de relações públicas.
Precisamente.
Sem entrar em detalhes, o escritório que cuidava da Fundação
Wayne rompeu o contrato repentinamente e estamos meio perdidos.
Em uma reunião recente, seu nome foi citado por um dos
diretores e enxergamos em você nossa última esperança.
Imagino
quem foi o diretor. um sorriso ilumina o rosto da mulher,
que parece lembrar de eventos passados Muito bem, onde
eu assino, então?
Um funcionário
levará os contratos pela manhã ao seu quarto de
hotel. Portanto, seja bem vinda à família Wayne,
senhorita St. Cloud.
Por
favor, Lucius. Se vamos trabalhar juntos, comece a me chamar de
Silver. Nada de formalidades. diz ela, apertando a mão
estendida do executivo. Lá fora, o céu é
tingido pelo vermelho do fim da tarde.

Steve
Hollins está entediado, disso ele tem certeza. Ser escalado
para guardar locais de crime é uma das maiores sacanagens
que o comissário poderia ter feito com ele mas, com suas
duas advertências nas costas, nem ousou reclamar.
O ar quente
faz seu bigode coçar, seu quepe o incomoda e os gemidos
que chegam a ele, vindos dos quartos ao seu redor, só tornam
tudo mais desconfortável. O jogo de futebol já acabou
há um bom tempo e ele ainda tem uma longa madrugada pela
frente. Sua única salvação para as próximas
horas já que a recepcionista não lhe deu
bola seria o canal de compras, se ele não tivesse
ouvido passos na escada que vem do térreo. Um homem vestindo
um sobretudo preto e carregando uma maleta vem em sua direção.
Seu rosto sério e carrancudo combina com as letras azuis
que saltam do crachá preso à lapela: FBI.
Assim que consegue
discernir as letras, Steve pula da cadeira, empertigando-se e
fazendo o possível para assumir uma posição
respeitável. Encolhe a barriga e chuta a TV portátil,
que se desliga com um barulho estranho. Tentando fazer cara de
mau, sinaliza para que o homem pare assim que este chega perto.
Por
favor, senhor. Apenas agentes autorizados nesta área.
Este
crachá permite minha entrada em qualquer lugar, oficial.
diz o agente, secamente E, por lei, torna-me seu
superior. Portanto, mova essa farda surrada para fora do meu caminho
e traga um copo de café, se não quiser ser expulso
da corporação.
Sem esperar
resposta, o agente arranca a faixa de isolamento da polícia
e entra no quarto, o solado do sapato fazendo ranger os tacos
cobertos pelo carpete fino. Steve, parcialmente sem saber o que
fazer, vai até a máquina de café no fim do
corredor e volta com um copo fumegante, encontrando o agente do
FBI que, ajoelhado no chão, recolhe algum material de perto
da cama. Chega perto e, após colocar o copo sobre o criado-mudo,
ajoelha-se no mesmo local onde está o outro homem.
Algum
problema, oficial? grunhe o agente Pode se retirar
agora.
Perdão,
senhor, mas é meu dever acompanhar tudo o que acontece
no local do crime. Steve tenta parecer sério, mas
sabe que seu tom de voz não convenceria ninguém;
nem a ele mesmo.
O seu
dever é guardar a porta de entrada, oficial. Servir de
cãozinho e latir se alguém quiser chegar aqui perto.
Eu não preciso da sua ajuda e sua presença me incomoda.
Portanto, faça um favor a nós dois e retire-se.
O comissário Gordon odiaria saber que um de seus oficiais
atrapalhou o FBI, não acha?
Sem dizer mais
nada, Steve sai do quarto rapidamente. De repente, o canal de
compras lhe pareceu imensamente mais interessante.

Observando
o quarto, Batman faz uma nota mental de avisar Gordon para que
treine melhor sua equipe pericial. As investigações
da equipe parecem ter feito um estrago substancial no lugar, principalmente
naquelas provas que olhos mal-treinados não enxergam.
Resignado, após expulsar o policial do quarto, ele vai
atrás dos sinais deixados para trás. Segundo o relatório
da delegacia, lido eletronicamente pelo computador dentro do Batmóvel,
o garoto estava desacordado antes de entrar no quarto. Porém,
uma briga parece claramente ter ocorrido ali. As depressões
sutis na madeira vagabunda do armário denotam que este
foi atingido por algo, talvez um corpo.
Seria inútil procurar por digitais agora, por vários
motivos. Um quarto de motel tem uma rotatividade alta demais para
que ele possa identificar impressões distintas, principalmente
num motel daquele tipo, que não deve receber uma limpeza
decente há semanas. E o tempo é curto demais para
que se faça uma busca por digitais. Ele não pode
permitir um novo assassinato esta noite.
De repente, o chão lhe traz uma luz. Quase no canto do
quarto, do lado oposto à cama e onde foram encontrados
os objetos utilizados pelo assassino, alguns fios de cabelo se
confundem com o carpete. Provavelmente arrancados durante a briga
entre vítima e maníaco. Ele pega os fios de tonalidade
clara, um pouco mais grossos que o normal. Muito grandes para
serem pêlos púbicos. Talvez alguém com alguma
disfunção hormonal que tornasse os cabelos mais
densos. E são claros demais para uma pessoa loira. Provavelmente
um albino.
"Isso é informação mais que suficiente."
pensa ele.

FBI, é? E daí? a recepcionista do motel não
parece dar muita importância ao crachá do agente.
Enquanto fala, continua lixando as unhas, sem olhar para cima.
Madame, um pouco mais de atenção de sua parte
seria muito apreciada, OK? O assassinato de um menor de idade
foi cometido em um dos seus quartos e eu preciso de todas as informações
possíveis.
Eu já disse tudo à polícia.
Eu não sou a polícia. E posso arranjar mais
problemas para a senhora do que pode imaginar, se resolver não
colaborar.
É mesmo? E que tipo de problemas?
O tipo de problemas que o nosso departamento de proteção
ao menor de idade pode causar se ficar sabendo que qualquer um
pode entrar no seu estabelecimento sem identificação.
Isso pode ser encarado como conivência a estupros, sabia?
E o que o senhor quer saber, então? diz a
mulher, apoiando-se no balcão. Mesmo a contragosto, ela
parece convencida a ajudar.
Como alguém pode entrar aqui e utilizar um quarto
sem ser identificado?
Nós respeitamos a privacidade de nossos clientes.
Não queremos saber quem entra e o que fazem nos nossos
quartos. O atendimento é feito através de um microfone
na entrada, na mesma organização de um drive-thru
qualquer. O pagamento é adiantado e o cliente recebe as
chaves sem o contato com outra pessoa.
Sem câmeras?
Nada de câmeras. Nós respeita...
Quer dizer que ninguém viu o rosto do assassino?
Na verdade, eu vi alguém.
"Mais uma falha da equipe de Gordon." pensa Batman
"Isto também não estava no relatório."
E a senhora pode descrevê-lo?
Eu não vi por inteiro. Fui até o quarto depois
que alguns dos hóspedes reclamaram de uma briga. Achei
que estava lidando com um desses malditos sadomasôs estúpidos.
Bati na porta, para pedir que eles se acalmassem e parassem de
se jogar nas paredes. Um homem gordo e nu atendeu a porta, todo
suado. Ele era grande, parecia até mesmo que tinha seios.
Disse a ele: "Dá pro senhor parar de fazer barulho
nessa merda? Algumas pessoas querem trepar em paz". Ele me
respondeu algo do tipo: "Tudo bem." Aí eu agradeci
e fui embora.
E como ele era?
Era grande, gordo. Não vi muita coisa. Mas ele tinha
seios, isso eu tenho certeza.
E o rosto?
Bochechas gordas, olhos caídos, e um cabelo estranho,
amarelado. Ah, e ele tinha uma cicatriz.
Cicatriz?
Sim, atravessando a sobrancelha direita.
Muito obrigado, madame. Isso vai ajudar muito. E aguarde
a visita do juizado de menores em breve.
Mas o senhor prometeu que eu não teria problemas
se colaborasse!
Não, eu não disse isso. responde o
agente, saindo pela porta.

O visual
andrógino de Tim é perfeito para o papel. O corpo
pequeno, porém forte, de quem ainda não saiu da
adolescência, é a isca ideal para alimentar a fantasia
dos clientes. A camiseta ligeiramente menor que o habitual e o
short de couro agarrado às nádegas realçam
o conjunto, dando destaque ao peito firme e às pernas compridas
e impúberes, cobertas por uma pelagem rala. O gel no cabelo
e a tatuagem falsa no braço completam a obra, dando um
toque de rebeldia ao personagem. Nos óculos escuros, inúteis
àquela hora da noite, estão embutidos os aparelhos
de comunicação com seu mentor, que espreita nos
telhados acima.
Você me ouve, Robin?
Alto e claro, Batman. Pronto para servir de isca.
Tem certeza que quer continuar se arriscando desse jeito?
Podemos pegar esse assassino de outra maneira.
Ei, a idéia foi minha, lembra? Não quero
perder mais nenhum amigo nas mãos de lunáticos.
OK, você é quem sabe. Estou aqui em cima,
caso precise.
Só espero que não passe nenhum conhecido...
A amargura na voz de Tim é evidente, mesmo que disfarçada
pela ironia. É doloroso para Bruce ver o parceiro assim.
No fundo, mesmo sem saber, ele sabe que odiaria ver Tim transformar-se
no que ele próprio se tornou nos últimos anos.
As horas passam na noite fria. Vários carros abordam Tim,
num curto espaço de tempo. Alguns deles, figurões
de Gotham que apertaram a mão de Bruce dias atrás.
Após serem dispensados, eles passam rapidamente para outro
garoto, que geralmente entra no carro. A situação
enoja Batman cada vez mais, mas ele sabe que não pode agir
contra isso. Não neste momento.
"Um albino. Só preciso de um maldito albino!"
pensa ele, enquanto o tempo se arrasta.
Como se alguém atendesse suas preces, um carro branco vira
a esquina a três quarteirões dali e desce a rua lentamente,
examinando rapaz por rapaz. Um modelo velho, com algumas manchas
verdes no capô. Talvez por instinto, Batman sabe que ele
é o alvo.
Robin, atenção. O carro branco descendo a
rua, duzentos metros do seu ponto. Deve ser o nosso homem.
OK, Batman. Entendido.
Mesmo incomodado com a situação, Robin prepara-se
para interpretar seu papel. Estufa o peito e empina ligeiramente
as nádegas, passando a olhar diretamente para o motorista
do carro, invisível a ele graças ao vidro enegrecido.
A encenação parece dar certo, já que o dono
do carro pára e abaixa o vidro, olhando diretamente para
Tim.
Olá, guri. Meio tarde para estar sozinho por essa
bandas, não?
Mesmo com a definição precária da câmera
portátil, Batman pode visualizar o homem. O cabelo amarelado
emoldurando as bochechas deformadas torna-o o principal suspeito.
A cicatriz na sobrancelha direita completa a ficha.
É ele, Robin. Entre no jogo.
Tentando agir naturalmente, Robin sorri para seu interlocutor.
É mesmo. Estava aqui, procurando por alguém
forte o suficiente para me proteger.
Então acaba de achar. Entra no carro, vamos conversar
melhor.
Robin acena discretamente para Batman no telhado próximo,
pedindo orientação. Ao ouvir a aprovação
do mentor, ele relutantemente dá a volta no veículo
e entra pela porta do carona.

O carro
cheira a mofo e desodorante de morango, o estofamento rasgado
e manchado denota a falta de cuidados do dono. O motorista tem
o corpo deformado, como se sua natureza tentasse se decidir entre
os dois gêneros possíveis. Um sorriso está
estampado no seu rosto.
Qual o seu nome, guri?
Martin. E o seu?
Ted. Pode me chamar de Ted. Você tem um corpo lindo,
sabia?
O-obrigado, Ted... as mãos do estranho acariciam
seu peito sob a camiseta.
Que tal você abrir sua calça, para que eu
possa ver o que tem a oferecer?
Mas aqui? Robin está transpirando nervosamente.
Não sabe o que fazer, e não recebe orientação
alguma de Batman via fone.
Ora, por que não?
Eu... tenho vergonha.
Deixe de bobagem, garoto. Abra logo essa merda!
Ted parece ficar mais agressivo de um momento para outro. Sem
alternativa, Robin decide obedecer a seu pedido.
De repente, enquanto seus dedos estão ocupados com os fechos
do cinto e do short, o estranho o ataca, prendendo suas mãos
contra suas pernas e pressionando um pano contra seu rosto. Clorofórmio,
reconhece Robin de imediato. Ele sabe que não deveria respirar,
mas não pode evitar. Tenta alertar Batman, mas sua voz
não evolui além de gemidos abafados. Em poucos instantes,
a inconsciência toma conta.

Robin, você pode me ouvir? Responda!
Pela câmera escondida, Batman acompanha o que acontece dentro
do carro. Assim que percebe o ataque, prepara-se para abordar
o veículo. Os segundos preciosos que gasta buscando um
ponto onde fixar o arpéu são suficientes para que
o motorista fuja. Assim que suas botas tocam o chão da
rua, o motorista acelera, expelindo uma lufada de fumaça
negra sobre ele.
Diabos!
Tudo o
que lhe resta agora é correr até o Batmóvel,
escondido em um beco próximo, e perseguir o carro, que
já some no fim da rua.

Acelerando o carro, ele aperta as coxas do garoto ao seu lado.
Esse foi bem mais fácil de capturar, ele sabe disso. Depois
da briga para dominar o garoto anterior, ele decidiu apelar para
o clorofórmio. Sempre tinha visto isso em filmes, e resolveu
ver se dava certo mesmo.
Ele vira a esquina, indo em direção ao motel. Por
alguns instantes, pensa que não deveria voltar ao mesmo
lugar onde matou os anteriores, mas depois sossega. Não
viu nada sobre o caso nos jornais. Além disso, ninguém
desconfia dele.

Graças
ao rastreador instalado sob a roupa de Robin, o computador do
Batmóvel pode traçar a trajetória do outro
carro. Dirigindo furiosamente pelas ruas de Gotham, Batman não
consegue deixar de condenar sua atitude descuidada, mandando Tim
às mãos de um assassino. A imagem de Jason Todd,
o segundo Robin, morto pelas mãos do Coringa, invadem sua
mente. Ele sabe que não suportaria a morte de outro companheiro
por negligência.
É com este pensamento que ele segue o sinal do carro branco,
que nem desconfia da caçada. Segundo o computador, o motorista
está estacionado a alguns quarteirões, dentro do
motel que recebeu a visita do homem-morcego há algumas
horas.
Sem se preocupar com discrição, Batman estaciona
o carro atravessado na rua em frente ao prédio e sai correndo
em direção à porta. Sua entrada brusca assusta
por alguns instantes a recepcionista, que depois volta a olhá-lo
como a um cliente qualquer.
Teremos festa hoje, então? O senhor...
O número do último quarto ocupado. Agora!
a voz de Batman está alterada pelo receio de encontrar
Robin desfigurado em poucos instantes.
Como assim? Aqueles...
Descontrolado, ele pega a mulher pelo colarinho, quase enforcando-a
com o colar de pérolas falsas.
O número do quarto!
Um carro... entrou... no 56-B! responde a mulher,
sufocando, entre tossidas.
Batman corre em direção à escada, largando
a recepcionista de repente. Caída sobre a cadeira, ela
vai demorar alguns dias antes que possa entender o que aconteceu.

Finalmente. Pelas suas contas, essa deve ser a última dose
que ele necessita para sua total recuperação. É
só injetar os fluidos do garoto, e essa história
está acabada. Com amor, ele afaga sua cicatriz púbica.
Pode sentir um novo pênis pronto para sair, rasgando a pele
marcada, rijo e forte como o anterior.
E o tal Martin está lá, nu e deitado sobre os lençóis
sujos do motel. Dos três, ele é o que tem o corpo
mais perfeito, despertando inveja no seu interior. Ele olha pra
si mesmo, e tudo o que vê é uma massa disforme de
pele flácida.
O fogareiro já está aceso no chão, esperando
o líquido retirado do garoto. Com força, ele agarra
seu estilete.
De repente, num estrondo, a porta vence a força da tranca
e voa, batendo contra a parede oposta.

Após
estourar a porta do quarto com um chute, Batman observa a cena.
Robin está desacordado, jogado nu sobre a cama, com seus
genitais nas mãos de um homem, também nu, que olha
em sua direção, assustado. Na sua outra mão,
um estilete afiado.
Largue o rapaz. Batman ameaça, entre
dentes.
Sem dar tempo para a resposta, Batman pula sobre o homem. O primeiro
alvo é o estilete, que voa em poucos segundos. O foco muda
para o gordo que, pelo seu tamanho, poderia oferecer alguma dificuldade.
Felizmente, o corpanzil tornara-o um desengonçado que,
após três socos, já está dominado.
Enquanto Batman amarra suas mãos e pés, ele murmura,
choramingando através de seus olhos inchados:
Tudo o que eu queria era voltar a ser homem...
Sem dar a menor atenção aos lamentos, Batman pega
cuidadosamente o corpo desacordado de seu parceiro, enrolando-o
na capa negra para proteger sua nudez e, principalmente, seu rosto.

Há
alguns segundos, Steve Hollins estava praticamente dormindo em
sua cadeira, na frente da TV quebrada. Seu sono foi embora depois
que ouviu um estrondo no andar de baixo. Quando chegou em frente
ao 56-B, deu de cara com um gordo amarrado no chão, grunhindo.
Em pé, um homem mascarado sai calmamente, carregando um
corpo embrulhado em pano negro. Ele pensa em impedir, mas não
sabe o que fazer.
O que aconteceu aqui?
Ligue para Gordon e avise-o. diz o mascarado
Ali está o responsável pelas mortes das últimas
duas noites.
E esse corpo...
Você não vai precisar dele. Agora, saia da
frente. ordena o morcego, passando entre Steve e a porta,
indo em direção à entrada. Por algum motivo,
talvez o tom de voz do homem, ele sabe que não devia tentar
impedí-lo.
Na recepção, a mulher ainda tosse.

Epílogo
Telhado da delegacia central de Gotham, algumas horas depois.
O vento espalha o cabelo do comissário Gordon.
Earl é o nome dele, com certeza. Nossos psicólogos
estão tentando descobrir seu sobrenome, mas já sabemos
a motivação.
E qual é?
Ele foi castrado em uma vingança de um chefe de
gangue, pelo que pudemos entender. Enlouqueceu com a perda dos
genitais e teve uma idéia onde poderia recuperá-los...
Injetando a infusão do conteúdo escrotal
de garotos na puberdade na própria circulação
sangüínea. complementa Batman Pensei
nisso. Ele deve ter achado essa teoria em almanaques rurais de
décadas atrás. Era uma idéia comum na época.
Nunca ouvi falar. Estamos perto de conseguir a confissão
das duas mortes, mas a promotoria vai arranjar problemas.
De que tipo?
Eles querem o terceiro garoto, que você resgatou.
Robin.
Foi o que pensei. Vou tentar fazer com que se contentem
com os dois corpos. Ele está bem?
Recuperando-se.
Pelo menos vocês podem descansar agora.
Ele, talvez. Eu, nunca. Não em Gotham.
Eu já imaginava.
Gordon pensa em mudar de assunto, mas Batman já se foi.
Como sempre.
No próximo número: Wolverine!
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