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Batman - Linhagem Sagrada # 02

Por Rafael 'Lupo' Monteiro

Viagem à Escócia

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IML de Gotham City, por volta de meia-noite.

É uma noite relativamente tranqüila, ao menos o quanto pode ser tranqüilo, em uma cidade como Gotham, um lugar onde os recém-falecidos são depositados. Além dos mortos, há também as prostitutas violentadas, assim como meninas inocentes estupradas, cidadãos que foram roubados, espancados, todas fazem exames de corpo de delito. Enfim, um prato cheio para se encontrar todas as modalidades descritas pela Medicina Legal. Se um hospital não é um local de sorrisos, o IML é onde a falta destes se faz mais presente.

Quando Batman entra no local, sua presença nem é muito notada. Afinal, em todas as noites a morte está presente no local. O morto que interessa dessa vez é Scott Wayne, um ex-padre escocês que alega ser parente de Bruce Wayne, e invadiu a sede das indústrias do milionário para contar um suposto segredo envolvendo sua linhagem. (*)

— Olá, Batman! — diz a doutora Mann, uma loira de pele pálida, magra, olhos verdes escondidos sob os óculos de aro fino, já conhecida do morcego de outros casos. Ela segura um copo de plástico com café ainda quente, que a ajuda a atravessar a madrugada.

— O que tem para me contar sobre Scott Wayne, doutora? — responde o morcego, friamente.

— Esse caso fez um grande estardalhaço, não? Toda a imprensa está curiosa sobre ele. — afirma a doutora, ajeitando os óculos.

— Na delegacia, me disseram que foi uma briga na prisão. Mas não consegui falar com o suposto assassino.

— Bem, na verdade não encontrei no corpo sinais de briga. Apenas das facadas, e pequenas lesões no pescoço da vítima. Preliminarmente, poderia concluir que na verdade alguém o agarrou por trás e o esfaqueou.

— Interessante!

— E então, vai pegar o canalha que fez isso com um padre? — ela pergunta, segurando o pingente em forma de cruz que carrega em seu colar.

— Eu sempre os pego, doutora.

— Posso te perguntar uma coisa? Sabe, sempre pensei que você... — ao olhar para o lado, o herói já não se encontra no recinto, o que a deixa desconcertada — Que falta de cavalheirismo...

Telhado do QG da polícia de Gotham City.

O sinal que ilumina a noite da cidade já é bem conhecido de todos os notívagos da cidade, e sempre significa a mesma coisa: problemas!

— Olá, Batman! — fala um sonolento e cansado Gordon, em meio a um bocejo seguido por mais um gole de café quente.

— Novidades, Gordon?

— Sim, aconteceu algo que não sei se foi bom ou ruim...

— O que houve?

Gordon ajeita os óculos e continua:

— Smith, o cara que esfaqueou Scott Wayne, está prestes a ser solto...

— Como? Ele acabou de matar uma pessoa! — pergunta Batman, tentando disfarçar sua surpresa.

— A ordem judicial foi proferida antes do assassinato. O juiz considerou ilegal a prisão do Smith, por falta de provas de que realmente ele havia cometido o furto de que foi acusado. O advogado dele veio para a delegacia, e após muita discussão e ameaças de processo, eu resolvi liberar o sujeito. — Gordon respira fundo, está visivelmente cansado e contrariado.

— E por que você diz que não sabe se isso é bom ou ruim?

— Bem, com ele nas ruas, você pode seguí-lo e arrancar algo que não conseguimos... — Gordon está visivelmente frustrado com a situação.

— Bem pensado, Gordan.

Todos os preparativos para a soltura do réu são realizados, e ele volta às ruas. Batman segue-o, até ver o assassino entrar no clube Iceberg, dirigido pelo famigerado Pingüim.

Sob uma fachada legal, o Pingüim consegue comandar uma significativa parte do submundo de Gotham, o que sempre deixa Batman com um humor ainda pior do que o habitual. Ele entra desta vez pela porta da frente, o que faz primeiro os seguranças e a seguir todos as pessoas dentro do clube pararem para olhar tão inabitual entrada.

— Quá! Dessa vez veio como freguês para variar? — diz o Pingüim, com um meio-sorriso cínico no rosto.

— Cobblepot! Estou perdendo a paciência com este antro, é bom ficar na linha se não quiser o pior! — grita Batman, mais imperativo do que nunca, ao se aproximar da mesa onde o Pingüim está sentado, com uma taça de vinho tinto na mão.

— Vamos, morceguinho, admita que esse é o seu lugar preferido da cidade. Você vem tantas vezes pra cá que já é considerado prata da casa...

Batman bate na mesa, fazendo voar a garrafa de vinho e a comida de Cobblepot pra bem longe.

— Posso saber qual o motivo do showzinho de hoje? — Pingüim lança um olhar desafiador.

— Smith, o assassino que acabou de entrar aqui. Onde está ele?

— Ele só foi tirar água do joelho, ali. — ele fala, apontando na direção do banheiro. Batman vai até lá, dá um chute na porta, e encontra Smith, um loiro baixinho de cabelos bem curtos, de uns 30 anos de idade, caído no chão, com a cabeça sangrando e o crânio arrebentado. Na pia, uma enorme mancha de sangue, o que dá a pista para o que aconteceu. Pingüim, que acompanhou meio de longe Batman, fica furioso.

— Quá! Eu falei que aqui dentro não! Filho da puta, aqui não!!! — ele grita, desesperado, com raiva incontida.

— Parece que agora a polícia tem um motivo pra entrar aqui. — diz Batman, com um pequeno sorriso irônico na face.

— Não me provoque, morcego! — berra mais uma vez Cobblepot.

— Ou você faz o quê? — Batman tem um indisfarçável sorriso de vitória — Sabe, acho melhor você me contar quem fez isso, pra situação não ficar ainda pior pra você.

— Foi um francês pervertido! Disse que seu nome era Merovíngeo. Ele me procurou por meio de alguns contatos estrangeiros, perguntou se conhecia alguém que estava na cela desse padre maluco que invadiu a sede da Wayne hoje cedo. Não me falou pra que queria essas informações, e eu também não perguntei.

— Parece que agora descobrimos... como ele era?

— Alto, muito forte, com cabelos brancos longos, olhos castanhos, vestia uma camiseta branca e uma calça de couro marrom. Tinha uma cruz tatuada no braço direito.

— Vou tentar achá-lo ainda hoje. Quanto a você, vá se preparando pra visitinha da polícia.

Batman vaga por toda a cidade pelo resto da noite em busca de pistas, mas não consegue nada. Pede a ajuda de Oráculo, que verifica todos os possíveis visitantes franceses que chegaram por via aérea na cidade nos últimos dias, e depois por outros meios, mas essa busca também não obtém melhores resultados.

De manhã, na Batcaverna, ele mesmo faz suas próprias pesquisas.

— Bom dia, patrão Wayne. Resolveu trabalhar de manhã pra variar? — Alfred traz o café da manhã para seu patrão, que consiste num copo de leite quente, pão e fatias de queijo e presunto. O herói nem toca na comida, se concentrando apenas na tela do computador.

— Oi, Alfred. Não consegui nenhuma informação sobre esse tal de Merovíngeo. Nenhuma referência em lugar nenhum.

— Então o patrão está perseguindo um fantasma?

— É como se fosse, Alfred. Mas descobri uma coisa interessante. Os Merovíngeos são uma antiga dinastia de reis franceses que se afirmavam descendentes de Jesus Cristo. Juntando isso com o que Scott Wayne me disse, estou achando que a história dele não era apenas loucura. Até porque a Igreja vem tentando abafar todo os casos que envolvam pedofilia, e justo o caso dele foi o único em que houve uma punição exemplar. Alguma coisa estranha há nisso tudo, e pretendo descobrir o que é! Alfred, providencie meus documentos e as desculpas de sempre, acho que Bruce Wayne vai tirar umas férias pela Europa o mais rápido possível!

— Sabe, patrão Bruce, você é a única pessoa que conheço que considera férias uma viagem para investigar um assassinato.

— Sei, e é por isso que você trabalha pra mim até hoje, não estou certo?

Ambos sorriem, e o mordomo retira-se para fazer as tarefas que lhe foram confiadas.

Escócia.

Bruce Wayne visita mais uma vez a terra de seus antepassados. (**) Desta vez, vai para uma cidadezinha litorânea. Ele não assume sua verdadeira identidade. Na verdade, está disfarçado como um repórter do jornal Gotham News, um enviado especial na Europa, que veio à cidade investigar a morte do ex-padre Scott Wayne, verificando sua vida passada, a acusação de pedofilia, enfim, descobrir tudo o que for possível sobre o ex-padre que foi manchete em Gotham City recentemente.

Ele chega na cidade e visita o Old Scottish, o restaurante local especializado em peixes e comida típica.

— Olá, visitante! Em que posso serví-lo? — pergunta a simpática senhora Morrison, uma velhinha, dona do restaurante.

— Oi! Sou Mark Alecssander, repórter de um jornal americano. O que a senhora recomenda pro meu almoço?

— Recomendo o Haggis, uma das minhas especialidades. É feito de coração, fígado e pulmão de ovelha.

— Então me sirva um desses, por favor. — pede o americano, de forma sorridente.

— Posso saber por que um repórter americano está nessa cidadezinha em que sempre vivi?

— Vim investigar a morte de Scott Wayne.

— Não é um assunto do qual gostamos de falar por aqui, senhor Alecssander.— a idosa fica com uma expressão fechada.

— Por que não?

— Ele era um padre muito querido na região, e traiu nossa confiança.

— Você quer dizer sobre o assunto das crianças...

— Isso! Espero que ele tenha recebido um bom castigo pelo que fez! Agora me dê licença, pois tenho o seu almoço para preparar. — ela responde, com um novo sorriso, e depois se retira.

Essa é a opinião corrente por toda a cidade. Mercearias, farmácias, hospitais, todos os habitantes são meio reticentes em falar do assunto, mas unânimes em falar mal do ex-padre. O curioso é que Wayne não consegue descobrir ao menos uma das crianças que teriam sido violentadas por ele.

Por fim, ele resolve visitar a Igreja Católica da cidade. Encontra Miles Millar, o novo padre da cidade.

— Olá! Sou Mark Alecssander, repórter de um jornal americano.

— Oi! Sou o padre Miles Millar. Já ouvi falar no senhor, Alecsander. Está a poucas horas na cidade e já ficou famoso. — ele diz, sorrindo, enquanto ambos apertam as mãos.

— Então já deve saber por que vim até aqui...

— Sim. Infelizmente, não posso ajudar muito. Quando cheguei à cidade, ele já havia ido embora.

— Nada mesmo? Estou começando a achar que perdi meu tempo vindo para cá... — Bruce Wayne desanima, pois está realmente acreditando nisso.

— Tenho guardado algumas coisas deles. Deixei-as num canto, para o caso de ele voltar algum dia.

— Será que poderia dar uma olhadinha nelas? — é a última esperança, mas pode dar em alguma coisa.

— Não sei, elas não são minhas... mas talvez ajudem a esclarecer a morte do pobre coitado... venha comigo!

Bruce segue o padre até a sua modesta casa, atrás da Igreja. A casa tem uma pequena sala, uma pequena cozinha, um quarto e um banheiro. Todos os cômodos possuem poucos móveis. Embaixo de uma mesa do quarto, está uma caixa de papelão com os pertences de Scott Wayne.

— Aqui estão. Nunca mexi em nada disso, mas talvez possa ser útil.

— Muito obrigado, vou ver o que posso fazer.

Bruce começa a tirar as coisas da caixa, e aos poucos vai lendo. Há várias anotações sobre os Templários, e uma árvore genealógica dos Wayne que remonta até a época dos Templários. Há também anotações diversas sobre os Templários, sobre como alguns deles teriam sobrevivido à perseguição da Igreja e do rei francês Felipe II, fugindo para a Escócia, trazendo consigo o Santo Graal, um cálice que daria vida eterna para quem nele bebesse. Há várias fotos do castelo, e documentos que comprovam a estadia de seus descendentes, réplicas de cartas que foram escritas por ele com supostas mensagens cifradas, mapas de Rennes-le-Château. Mas nada que, a primeira vista, efetivamente comprove estas ligações todas.

Há um diário, bastante pessoal, sem referências ao caso das crianças. O seu conteúdo em grande parte é sobre Madelyne, a mulher por quem Scott estava apaixonado. Ele expõe ali claramente suas dúvidas em relação ao que sentia, e até mesmo sobre sua vocação para a batina. Ela também estava muito interessada sobre seus antepassados templários. Eles haviam combinando inclusive em um dia ir para Rennes-le-Château para investigar sobre o Graal.

De repente Bruce Wayne leva um susto. Dentro do diário, há uma foto de Wayne com Madelyne. Bruce reconhece a mulher ao lado do padre, na verdade ele conhece-a muito bem.

É Tália, filha de seu inimigo Ra's Al Ghul.


A seguir: Um encontro com Tália e Ra's Al Ghul em Rennes-le-Château.


:: Notas do Autor

(*) Como pôde ser visto na última edição. voltar ao texto

(**) A primeira vez foi na edição especial Batman: Operação Escócia, publicada no Brasil pela editora Mythos em 2002. voltar ao texto




 
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