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Batman - Linhagem Sagrada # 01

Por Rafael 'Lupo' Monteiro

O Padre Seqüestrador

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Escócia, 1314.

A noite cai nas highlands escocesas. O sol se esconde no horizonte, e a lua cheia assume seu posto no céu, iluminando a passagem para um grupo de cavaleiros que fogem do destino.

Vestindo roupas negras, encapuzados, eles carregam uma pequena arca de madeira. Dentro dela, um segredo milenar é guardado.

— Os cavalos já estão ficando cansados, mas acho melhor não pararmos por enquanto. — diz o mais alto entre os homens, que aparentemente é o líder — Já estamos perto de nosso objetivo.

— Sim, não vejo a hora de chegarmos em meu lar.

— Temos muito que agradecer a você e sua família, Wayne. O futuro da Ordem será devido em grande parte ao abrigo que vocês nos darão. — responde o líder.

— Faço isso apenas pela missão que nos foi incumbida por nosso grão-mestre. Sabe que me dói o coração abandonar nossos companheiros à própria sorte, sofrendo torturas e traições infligidas por um rei invejoso e um Papa fraco.

— Tenha calma, irmão de sangue divino. Eles pagarão pelo que fazem a nossos companheiros. Não esqueça que Nosso Senhor Jesus Cristo e Santa Maria Madalena estarão sempre do nosso lado.

Em algumas horas, os cavaleiros chegam ao castelo dos Waynes. Lá, escondem a arca de madeira, e rezam em nome dos companheiros de Ordem que sofrem na França.

Em pouco tempo, o grão-mestre é queimado por ordem do Papa, junto aos últimos remanescentes conhecidos da Ordem. Na fogueira, o grão-mestre lança uma maldição. Poucos meses depois, tanto o rei da França quanto o Papa morrem tragicamente. Os remanescentes da Ordem que foram para Escócia, e o segredo que levaram consigo, geraram inúmeras lendas, mas não se sabe realmente que fim levaram.

Gotham City, o presente.

Hoje seria apenas mais uma manhã chuvosa em Gotham. A cidade levanta cedo, com preguiça, e parte para o trabalho, muitas vezes chato, mas a vida segue em frente. Na sede das empresas Wayne, o dia não é diferente do resto da cidade. Até agora.

Scott sobe as escadas e passa pela porta giratória na entrada da sede. O detector de metais toca, e um segurança negro, forte, comendo uma rosquinha, pede que ele passe novamente pela porta.

— É só deixar as coisas de metal que possui nessa gaveta, voltar pra trás e passar de novo, por favor.

— Claro, senhor! — Scott coloca as mãos nos bolsos, e retira duas pistolas calibre .44. Rapidamente, agarra uma senhora que estava atrás na fila e segura-a pelo pescoço, usando-a como escudo. Scott dá dois tiros no vidro da porta, depois a chuta até conseguir abrir passagem. Ele rapidamente se posiciona de maneira a não ficar visível em nenhuma janela do prédio.

— Ninguém se mova! Todos tenham calma, não quero machucar ninguém! Tudo o que eu quero é falar com Bruce Wayne.

O telefone toca alto na mansão Wayne. O mordomo Alfred acorda seu patrão com más notícias.

— Sei que são apenas oito e meia da madrugada, senhor, e que foi dormir há apenas três horas, mas acho que deve atender ao telefone.

— Obrigado, Alfred! — após um longo bocejo, Bruce Wayne fala com seu interlocutor — Bruce Wayne na linha!

— Bom dia, senhor Wayne! Aqui é o comissário Gordon, e acho que você já deve estar sabendo das últimas notícias, ou devo presumir o contrário?

— Presuma o contrário.

— Um louco armado e com explosivos amarrados por todo o corpo invadiu a sede de suas empresas, fez reféns, e faz questão de falar com o senhor. Diz que é um parente distante seu.

— Não tenho parentes conhecidos, comissário! Qual o nome dele?

— Scott Wayne! Tudo o que descobrimos sobre ele é que o sujeito é escocês, já foi um padre, até ser expulso da Igreja Católica sob acusação de pedofilia.

— Chegarei aí o mais breve possível!

Em meia hora, Bruce Wayne chega em sua empresa. O tumulto é grande, há jornalistas por todo o lado, e a polícia está tensa, aguardando por um desfecho rápido da situação.

Gordon recebe Bruce, e faz com que vista um aparelho de escuta por baixo da roupa.

Quando Bruce finalmente entra na empresa, Scott dá um pequeno sorriso.

— Aqui estou, o que tanto deseja de mim? — pergunta Bruce, em um tom neutro, porém sério, determinado.

— Estou aqui por um assunto importante. Preciso falar com o senhor urgentemente!

— Acho que os reféns não têm nada a ver com isso. Que tal liberá-los?

— Não! — grita Scott, impaciente — Primeiro, devo falar o que me trouxe aqui. Depois, vou me entregar espontaneamente.

— OK. Pode falar. — Bruce procura se manter calmo, para não assustar seu interlocutor.

— Primeiro aproxime-se mais de mim, não quero falar alto. Só você me ouvirá!

— Você não deseja que eu troque de lugar com a refém, então? Acho que assim será mais seguro.

— Não tente me enganar, senhor Wayne!

— Sem truques, você tem a minha palavra, Scott! Posso chamá-lo de Scott?

— Claro, me chame do que achar melhor.

— E então, vamos realizar a troca ou não?

— OK. — Scott finalmente concorda.

A troca é feita. A refém corre, chorando. A tensão aumenta ainda mais. Scott está com o rosto todo molhado de suor. Bruce aproxima-se lentamente, e Scott aponta a arma para sua cabeça. Bruce poderia desarmá-lo agora, mas prefere deixar-se capturar, pois quer ouvir o homem primeiro.

— Desculpe-me pela arma, mas é a única garantia que tenho!

— Espero que você não pense em usá-la.

— Pode ficar tranqüilo, não é essa a minha intenção. — Scott parece agora estar se acalmando.

Um silêncio meio constrangedor se instala.

— Fale o que tanto deseja, então, e vamos acabar com isso. — diz Bruce, calmamente.

— Eu era padre, mas fui expulso da Igreja. Sabe por quê?

— Vou ser sincero, me falaram em pedofilia.

— Sim, foi essa a desculpa que usaram. Mas a verdade é que fui expulso por perguntar demais. — Scott fecha um pouco os olhos, tentando controlar a raiva e a tristeza que sente ao lembrar de sua derrocada.

— E o que exatamente você queria tanto saber?

— Sobre a nossa ascendência!

— Nossa? — pergunta Bruce, ainda incrédulo.

— Sim, somos parentes, Bruce! Nossos avós paternos eram irmãos. Mark e Robert Wayne, um vivia na América, o outro na Escócia.

— E o que nossa linhagem tem de tão importante para fazê-lo ser expulso da Igreja? — Bruce tenta dar a corda, pretendendo que ele fale ao máximo.

— Começou como um hobby meu, sabe? Fazer a árvore genealógica, conhecer a história da família. Consegui chegar até a Idade Média, e descobri que nossos antepassados eram Cavaleiros Templários. Alguns deles, pelo menos. Acontece que os Templários são envolvidos em diversas teorias da conspiração. Qual era a verdadeira origem deles, a verdadeira missão, o tesouro, o Priorado de Sião, todas essas coisas.

— Tudo isso não passa de ficção!

— Não tenha tanta certeza. Fazendo a pesquisa, descobri que era difícil obter informações sobre os antepassados mais longínquos. Visitei as ruínas de um castelo que era de nossos antepassados, e um museu que falava sobre a região. Existia um diário de um certo Wayne que falava sobre um segredo que estaria escondido no castelo, trazido da França. Segui as pistas para tentar encontrá-lo, mas não consegui nada. Resolvi ir para a França, e sabe o que descobri?

— Diga-me!

— Que os Wayne haviam se casado com alguns dos Merovíngios.

— A dinastia que se afirmava descendente de Cristo?

— Exatamente! Meus superiores não gostaram de onde estava fuçando, já estava chegando perto da heresia. Mas não liguei. Fui até o Vaticano, investiguei as acusações feitas contra os Templários. Recebi ordens para parar com a pesquisa, junto com ameaças de morte. Acho até que fui perseguido.

— Mas você desobedeceu as ordens, correto?

— A princípio, não. Nunca quis arrumar confusão, sabe? Voltei para a Escócia. O problema é que lá, me apaixonei por uma linda mulher, chamada Madelyne. E ela me incentivou a continuar a pesquisa, e a abandonar a batina. Havia reunido documentos demais, e comecei a juntar as peças.

— Um padre apaixonado?

— Sim, senhor Wayne! Mas não me leve a mal, não fiz nada que pudesse me fazer cair em pecado, respeitei as regras o quanto pude.

— Sei. Mas o que descobriu?

— Que o segredo dos Templários nada mais era do que o Santo Graal, que estava desenhado no diário do Wayne. Lá também havia desenhos detalhados de Rennes-le-Château. Resolvi ir pra lá esclarecer esse mistério, mas quando percebi, Madelyne havia desaparecido com todos os meus documentos. Desde então, minha vida tem sido um inferno. Passei a beber, fiz missas bêbado inclusive, perdi todo o meu contato social.

— Ainda não entendi o que isso tem a ver com a falsa acusação de pedofilia.

— Não sei quem fez essa acusação. Arranjaram fotos minha com uma das crianças da região, que se matou e escreveu uma carta-despedida acusando-me deste crime. Não tenho idéia mesmo de quem teria feito isso, mas armaram pra cima de mim.

Do lado de fora, Gordon confere a posição de todos os seus homens. Certo do que pode ou não fazer, ordena a invasão do prédio. Os policiais entram, todos apontando armas para Scott!

— Solte o refém! — grita um dos policiais. Scott fica nervoso.

— Não atirem! Não atirem! — grita Wayne — Entregue-se, Scott! Será melhor assim!

— Você pode garantir que ficarei bem?

— Sim! Gordon e seus homens são confiáveis, não se preocupe.

— Todos para trás! — Scott grita para os policiais — Afastem-se, irei me entregar!

Scott solta Bruce, e põe a arma no chão lentamente. Os policiais correm em sua direção, mas o seqüestrador se mantém parado até ser algemado. Bruce volta logo pra casa, fugindo da imprensa. Combina com Gordon que irá prestar depoimento no dia seguinte.

À noite, na carceragem, Scott tenta rezar antes de dormir. Seu companheiro de cela é um homem baixo, porém bem forte, com os cabelos loiros com o corte bem rente, e olhos castanhos. Este aproxima-se da cama, abaixa-se e pergunta a Scott:

— O senhor é padre, correto?

— Era, meu filho, já não sou mais. Mas ainda mantenho minha fé.

— Que bom pro senhor — diz o prisioneiro, sorrindo.

— Bom por quê? — Scott está intrigado com essa conversa.

— Porque assim o senhor irá para perto de Deus agora!

Ele põe a mão direita na boca de Scott, enquanto com a outra puxa uma faca da calça e corta o pescoço do escocês. O sangue jorra pela cama, enquanto o prisioneiro assobia chamando o carcereiro, que abre a porta da cela e permite que o assassino saia tranqüilamente.

— A fiança está paga, certo? — o prisioneiro dá uma piscadinha, e um sorriso maroto.


A seguir: Investigando a morte de Scott, Batman irá se deparar com o Pingüim, e seguirá numa viagem para a Europa, onde obterá informações sobre seus antepassados e sua ligação com o mistério de Rennes-le-Château.




 
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