hyperfan  
 

X-Men Especial

Por Conrad Pichler

Hell Fire Club's Blues Band

:: Sobre o Autor

:: Voltar a X-Men Especial
:: Outros Títulos

Eles desceram rapidamente a grande escada circular, forrada de carpete vermelho, eram quatro homens. Quando as luzes se acenderam, os peões saltaram por todos os lados, logo o grande hall da velha mansão art noveau já estava repleta de olhos curiosos, todos voltados para os quatro fugitivos encapuzados. Mas ainda faltavam os anfitriões daquela antiga casa.

São poucos os convidados para andar pelos salões do Clube do Inferno, menos ainda são aqueles que podem ficar face a face com os membros do Círculo Interno. Os quatro encapuzados, no entanto, tiveram os dois privilégios, talvez por tempo demais, agora eles estavam diante das Rainhas Branca e Negra.

— Eles estão aqui, senhora Selene. — disse um dos peões que ladeava as rainhas do clube mais restrito de Manhattan.

— Tire as máscaras deles, peão. — disse a Emma Frost.

— Sim, lady.

Ao tirar a máscara de esqui dos invasores, a poderosa líder do clube, deu de cara com a Hell Fire Club's Blues Band.

Três meses atrás. O Clube do Inferno abria suas portas para o já tradicional "Mardi Gras em Manhattan", uma banda de jovens havia sido especialmente recomendada por um secretário de Sebastian Shaw. Adam Freeman, "Fleetwood" como era conhecido, trabalhava há anos para o Rei Negro, ele cresceu nas ruas de Nova Orleans, branco criado numa família de negros, sabia bem o que era o preconceito e o medo, mas quando chegou a Manhattan, aos 17 anos, ele já sabia como sobreviver.

O salão principal estava enfeitado com veludo negro, branco e vermelho, rosas vermelhas e todos os talheres de prata davam um ar novecentista ao ambiente. Todos os convidados riam e comiam até que os Lordes Imperiais entraram no recinto, vestidos com roupas de gala, especialmente feitas para a ocasião, os casais de reis e rainhas, brancos e negros, foram recebidos com aplausos e uma frase musical que lembrava uma música de Charles Mingus.

— Frost, quantos mutantes temos aqui, hoje?

— Trinta em duzentos convidados.

— Aqueles de sempre?

— Sim, os velhos Lordes Cardeais da Europa, Charles Xavier e seus alunos, Sir Essex de Londres... — Emma parou e olhou repentinamente para a banda, formada por um saxofone, um trompete, uma guitarra, um contrabaixo e a vocalista, que tocavam "Haitian Fight Song".

— Algum problema, minha Rainha? — perguntou Pierce, o Rei Branco.

— Não... Esses músicos são muito concentrados, apenas posso ouvir suas mentes repetindo os acordes que devem tocar.... Nada mais.

"Devia se preocupar mais com Charles Xavier, Emma..." — disse Selene, a Rainha Negra, por contato telepático.

— A banda é muito boa, Emma, Fleetwood me garantiu que eles podem tocar a noite inteira, sem perder o vigor... — disse Sebastian Shaw. — Espero, particularmente, que ela possa tocar por mais três noites sem cansar...

— Vai usar todo seu poder e resistência com essa vocalista primitiva, Shaw? Poupe-me... — disse Selene com desdém.

— Pois não é o vigor deles que me preocupa, mas sim, suas intenções. — finalizou Emma.

Logo, eles se misturam com a multidão, Emma foi cumprimentar Xavier, e Selene foi bajular os Lordes Cardeais. Sebastian Shaw, porém, preferiu ter um particular com a vocalista da banda, que àquela altura, fazia uma pausa para beber água.

— ...Simone, você não vai me dizer não, não é querida?

— Não, senhor Shaw... e-eu... — ela parecia nervosa e, por isso, Shaw segurou a mão dela com suavidade.

— Fique calma, querida... Eu sou apenas um admirador seu... Sou eu quem deveria gaguejar diante de sua voz tão doce... — ele a olha nos olhos tímidos. — Eu pedirei que Fleetwood a pegue depois do show, você ficará no Summertime Hitz, meu hotel, descanse bastante, quem sabe amanhã não tenho o prazer de tomar meu café com você?

— Obrigada, senhor Shaw...

— Sebastian, querida, apenas Sebastian... — ele beijou a mão da moça com carinho sem igual. — Agora cante uma canção da Sra. Holiday.

"Shaw, dê mais atenção aos convidados, Sir Essex já notou sua distração..." — disse Emma Frost, telepaticamente.

Ele afastou-se, ainda olhando nos olhos, até que a banda iniciou "You're My Thrill", e Shaw passou a dar atenção aos seus convidados.

Duas semanas depois, numa manhã de segunda-feira, Sebastian Shaw acordou e percebeu que Simone não estava ao seu lado. Ele levantou, cruzou o grande suíte presidencial até o toilet, mas a moça não estava lá, também. Antes de ir ao hall, ele percebeu que as roupas da moça ainda estavam no closet.

— Simone?

— Aqui, Sebastian. — ela respondeu da grande sacada.

— Ah, você está aqui, querida... — ela estava vestida com um roupão de cetim que a vestia muito bem, seus cabelos trigueiros emolduravam um rosto angelical, e perfilavam seus ombros descobertos, ela estava sentada tranquilamente sob o sol morno daquele fim de inverno.

— A primavera ainda não chegou, querida, melhor entrarmos e pedirmos o desjejum, eu tenho que voltar ao Clube ainda pela manhã...

— Eu não tenho fome, Sebastian... Passei a noite inteira acordada, pensando no meu futuro... — ele já havia sentado aos pés da chaise longe, o olhar dela estava distante, e ele pensou antes de perguntar...

— Você não precisa se preocupar, querida, você pode ter tudo que quiser, enquanto estiver ao lado do Rei Negro do Clube do Inferno.

— Mas eu não tenho esses dons que você tem... Não tenho o dinheiro que você tem, nunca serei alguém de seu nível... — Shaw viu os olhos da moça marejarem, ele pensou que ela só poderia estar apaixonada e ele não podia mentir...

— Você tem minha palavra de que enquanto estiver do meu lado, você terá tudo.

Shaw a abraçou e levantou para pedir o café da manhã, ele estava faminto.

Há quatro dias atrás. Os peões do Clube do Inferno carregam um esquife entalhado em pedra ônix, ele parecia muito antigo e apesar da textura aparentemente lisa, havia alguns desenhos que refletiam a luz, símbolos tão antigos quanto a própria humanidade. O esquife foi depositado sobre o grande tapete persa no interior de um salão reservado, o Grande Hall do Círculo Interno.

— Ele chegou, Frost, finalmente recebemos! Shaw conseguiu comprá-lo...

— Não sei como um andróide como você pode ficar tão animado, Pierce?

— Talvez, porque apesar de meus muitos componentes sintéticos, eu ainda sou em parte um mutante... E o que este esquife protege, pode provar para o mundo que o Salvador da Humanidade também era. — Pierce, observa com cuidado os desenhos do esquife, enquanto Emma Frost, tenta não ser "contaminada" pelas bobagens do rei Branco.

— Onde está Shaw? — pergunta-se Selene, saindo de uma porta.

— Summertime, como sempre... — responde Emma monotonamente.

— Alguém o avisou da encomenda?

— Fleetwood foi até lá buscá-lo.

"Não consigo confiar nesse homem, Emma..." — Selene diz telepaticamente.

"Pierce?"

"Não, falo de Fleetwood..." — as duas sentam-se em lados opostos da sala, no meio delas o esquife e o Rei Branco.

"Será que é por que ele é tecnologicamente impermeável aos nossos poderes telepáticos?" — indolentemente, Emma acende um cigarro.

"Pierce?"

"Não... Fleetwood!"

"O que Shaw tinha na cabeça quando deu ao motorista esses inibidores?"

"Ele queria se proteger de sua Rainha Negra... E de mim, claro..."

Nisso, a grande porta do salão se abre, e o Rei Negro entra, com sua finíssima veste protegida por sobre-tudo pesado. Ao seu lado, claro, ele levava a bela Simone.

— Ela não devia estar, aqui, diante da "encomenda", Shaw. — repreendeu Emma.

— Ela estará onde eu estiver, Frost. Agora, deixe me ver a minha "encomenda".

Noite passada, um novo baile toma conta da noite no Clube do Inferno, desta vez, apenas os lordes Imperiais e Cardeais foram convidados para bailar ao som da Hell Fire Club's Blues Band, que tocava em estado de transe "Midnight, the stars and you". No salão restrito, ao som longínquo da música, os peões preparavam um ritual, desenharam no chão um pentagrama de sal, nove luas crescentes foram feitas, cada uma, com pó de metal diverso, sete velas com as cores do arco-íres foram dignamente colocadas em volta e o círculo estava fechado, a espera da peça principal: o esquife.

No salão principal, o Rei Negro tomou o seu lugar, ao lado dos outros Lordes Imperiais, ele fez um gesto para a banda, que parou de tocar, com a mão erguida por um segundo, ele apreciou o rosto singelo da vocalista.

— Senhoras e senhores, a partir da meia-noite começaremos um ritual que durará três dias... Ao fim, nós abriremos o Esquife de São José de Arimatéia, lá, além dos restos mortais do último discípulo, encontraremos a própria coroa de espinhos que chagaram a fronte de Cristo, no Monte Calvário, há dois mil anos. — quando terminou sua frase, um silêncio absoluto cobriu a boca de cada um dos presentes. Shaw se sentiu poderoso como nunca.

— Lordes Cardeais e Imperiais da Europa, Ásia, América do Sul e África, o que nosso Rei Negro está dizendo é que, de uma vez por todas, poderemos provar que o próprio Jesus Cristo era mutante e, mais, poderemos usar o seu sangue para nosso próprio benefício.

— Como...? — perguntou um velho Lorde Imperial, com forte sotaque grego.

— Magia, aliada a...

— Hoje, temos tecnologia...

Frost interrompeu Pierce:

— Tecnologia que podem transformar mutantes inúteis em lordes como o nosso Rei Branco...

— Os Lordes Imperiais dessa casa tomarão parte do grande ritual, que de certa forma começou três meses atrás com a descoberta do esquife, comemorado aqui, no Mardi Gras... Os demais membros de nosso honroso clube, são convidados a retornarem assim que tivermos inscrito o nome do Círculo Interno no coração de cada Cristão... E com a mesma força que o nome do Salvador mudou a face ocidental do mundo... O Clube do Inferno mudará a face do futuro. — ao terminar, Shaw faz um sinal para a banda que inicia uma nova música, o alegre jazz "What a little moonlight can do".

A festa não duraria, no entanto, mais que duas outras músicas, pois os convidados ficaram ofendidos e invejosos demais para permanecer ali. Sebastian Shaw aproveitaria o tempo extra para levar Simone até o Summertime Hitz, antes que o ritual começasse definitivamente. Os outros membros da banda guardavam seus instrumentos e entreolharam-se furtivamente.

Às onze horas da noite. Depois dos passos corridos nas escadas, nos salões, peões aglutinando-se nas saídas, as luzes acendendo-se, as Rainhas Branca e Negra aparecendo, e o flagrante: os metais e as cordas vestidos de ladrões profissionais haviam disparado todos os alarmes da grande mansão do Clube do Inferno.

— Eles estão aqui, senhora Selene. — disse um dos peões que ladeava as rainhas do clube mais restrito de Manhattan.

— Tire as máscaras deles, peão. — disse a Emma Frost.

— Sim, lady.

— É a Hell Fire Club's Blues Band. — disse Selene.

— Sim, mas a moça, a vocalista não está com eles... — as rainhas se entre olharam. — Peão, contate emergencialmente o Rei Negro no Summertime Hitz...

— Creio que não será necessário, senhora... Ele acaba de retornar.

Um peão faz reverência enquanto o Sebastian Shaw atravessa o hall.

— Onde está a garota, Shaw?

— Ela está no carro com Fleetwood.

— Aquela vaca! — gritou um dos músicos, provavelmente, o trompetista.

— Cale-se, ela me contou todo o plano... Vocês foram contratados para roubar-nos, e depois de insistirem muito com Fleetwood, conseguiram uma vaga de músicos aqui... Agora, ela não me disse quem era o patrão de vocês, e para que queria a Coroa do Cristo...

— Eles roubaram a Coroa? — perguntou-se Selene.

— Sim. — respondeu Shaw.

— Mas a mente deles revela que eles não roubaram a Coroa... Na verdade ela nem está com eles. — a observação da Rainha Branca faz crescer o ódio de Sebastian Shaw.

— Demônios! Desgraçados! — Shaw sai batendo as portas.

— O que houve? — pergunta Selene.

— Se a Coroa de Espinhos não está com esses vermes... Ela só pode estar com Fleetwood e a moça...

As Rainhas saíram a procura de Shaw, quando chegaram ao jardim interno da mansão, puderam ouvir o último grito de agonia de Fleetwood, enquanto era asfixiado. Ao deparar-se com a cena, até a frieza de Emma Frost balançou. O chão estava repleto de sangue e de restos da bela Simone. O corpo de Fleetwood não tinha um osso sequer inteiro, que pudesse sustentar sua carne. O carro que dava o apelido ao motorista, estava destruído tal a violência de Sebastian Shaw.

— A Coroa? — perguntou Selene.

— Ele falou sobre o porta-malas... — Shaw disse entre dentes.

— Não posso ler a mente dele, por causa do seu dispositivo, nem mesmo ver as imagens residuais...

Sebastian arrebentou a lata do carro com facilidade, no interior, havia uma valise hermeticamente selada, o Rei Negro abre-a... Revelando outra surpresa, dentro só havia um rifle de alta-precisão, presente do próprio Shaw.

Minutos depois, os peões rodeavam os Lordes Imperiais, no salão interno, enquanto o grupo de jazzistas estava amordaçado.

— Não encontramos nada nos aposentos, meu lorde, além dos instrumentos, roupas e objetos pessoais. — disse um dos peões.

— A mente deles não revela nada... Eles nem sequer sabiam para quem estavam fazendo o serviço... — disse Selene.

— De alguma forma, nós pagamos o serviço. Eles eram nossos funcionários e hóspedes. — concluiu Emma Frost.

— Eles agiam infiltrados, enquanto a vadia me afastava. Mas, eles não sabem para onde foi a peça?!

— Acalme-se, Shaw. — disse Selene.

— Peões, livrem-se desses ratos e limpem a sujeira dos fundos. Essa vergonha será esquecida por todos do Clube do Inferno, todos! — ordenou Emma Frost. — E, Shaw, nunca mais seja burro de aceitar dentro deste Clube ninguém que não seja confiável, nem aqueles que não possam ter as mentes lidas por mim!

Por um instante, Shaw apertou o punho, trincou os dentes, entreolhando a Rainha Branca. Mas, logo, ele já pensava em outra coisa:

— Falando nisso, onde está Pierce...

— Ele foi convidado por Sir Essex para passar um tempo em algum balneário do Mediterrâneo... Ele nunca vai ficar sabendo do que aconteceu aqui esta noite, Shaw.

— Sim, Selene, que ele nunca saiba.

No dia seguinte, o sol dourado alegrava o coração de todos os turistas que passeavam pelas calçadas de Monte Carlo. Vestido de branco, um desses turistas carregava uma valise de alumínio. Ele caminhou para uma mesa a beira-mar, e sentou-se elegantemente, sendo recebido por dois homens em seus ternos finos.

— Bom dia, cavalheiros. Não trouxeram suas roupas de verão? É uma pena, o sol está deslumbrante.

— Bom dia, Lorde Pierce, ou deveria chamá-lo de Rei Branco? — disse um dos homens, com feições orientais.

— Não, não. O seu mestre, Ra's Al Ghul, já foi rei Negro do Clube do Inferno na Ásia, não devemos guardar tanta formalidade... Porém, é pena que ele mesmo não venha buscar a sua metade da Coroa de Espinhos.

— Mestre Ra's lamenta não estar aqui, lorde Pierce.

— Assim como Sir Essex... — disse o outro homem, um inglês franzino.

— Bem, aqui estão suas encomendas. — apontou Pierce para a valise.

Os dois homens pareciam muito satisfeitos.

— E a primeira parte do pagamento está depositado na conta indicada, meu lorde. — disse o homem oriental.

— A segunda metade será paga no momento apropriado, como combinado, senhor. — disse o franzino já abrindo a combinação da trava da maleta.

— Bem, já que não preciso mais de vocês, vou aproveitar o sol do Mediterrâneo, dêem recomendações aos seus mestres.

— Obrigado, senhor.

— Obrigado.

Enquanto os dois homens dividiam suas encomendas, o Rei Branco levantou-se e saiu andando por entre os muitos turistas do belo e luxuoso balneário, imaginando o dia em que terá não só tecnologia agregada ao seu corpo, mas os próprios genes do Salvador.




 
[ topo ]
 
Todos os nomes, conceitos e personagens são © e ® de seus proprietários. Todo o resto é propriedade hyperfan.