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X-Cluded Especial

Por Danilo 'Doc Lee' Anastácio

A Nova Gênese

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São Francisco

Uma placa com letras lapidadas em pedra diz o nome do local: "Mansão X-Cluded — entrada restrita. Patrocínio de Wirtschaften Beer: a melhor cerveja da Irlanda". Durante uma tarde nublada, um homem passa pelo jardim vazio do casarão. Jardim que precisa ser varrido, tamanha a quantidade de folhas secas caídas. O homem de sobretudo preto, longos cabelos cinza e óculos escuros no estilo de John Lennon anda até o casarão.

Lá dentro, ele trata de seguir até o que chama de "sala do caçador". Ali, em seu poderoso computador — ainda que se assemelhe a um microcomputador em termos de tamanho — ele procura pelas pessoas certas, nos lugares certos. A caçada já começou. E ela se estenderá por três cidades americanas, até o caçador e a caça voltarem para casa, em São Francisco.

Um supermercado em alguma cidade do oeste do Texas, algumas horas depois.

Billy Puzo anda pelo setor de comidas do lugar. Ele observa os tipos de biscoito sabor chocolate, enquanto mastiga uma folha de grama. "Hm." — pensa ele — "Esse aqui vem com um adesivo... e por esse preço!"

— É esse mesmo que eu vou levar! — pensa alto Billy.

— Billy Puzo?

O caipira com chapéu de cowboy olha para trás, e vê um homem com feições envelhecidas, vestindo um sobretudo maneiro e óculos cafonas.

— Eu mesmo, algum problema?

— Não, nenhum. — responde o homem — Estou aqui para lhe fazer uma pergunta que pode mudar sua vida.

— Legal. "Não".

Puzo segue em frente, olhando as bolachas salgadas.

— Hã, espere um minuto, Billy. — insiste o homem.

— Que foi?

— Eu sei quem você é, Billy. Você é um mutante.

Eles se entreolham por alguns segundos, em silêncio. O caipira parece ter perdido aquela arrogância, e cospe o matinho que mastigava.

— OK, sou. Por quê? Você vai me matar?

— Não, não, muito pelo contrário. Estou aqui pra lhe dar uma chance.

— Do quê?

— Eu já disse, de mudar sua vida. Se você aceitar vir comigo, sua vida mudará. E pra melhor.

— Tem certeza?

— Hã... bem... creio que sim.

— O que é? Você vai me levar pra sua mansãozinha, — diz Billy, sarcástico — onde eu aprenderei a controlar o meu poder e terei que proteger o mundo que me teme e odeia?

O homem de sobretudo olha para Billy. Eles ficam em silêncio por alguns segundos.

— Ah, meu Deus, era só o que faltava...

— Não é o que você está pensando. — diz o homem misterioso — Garanto que sua vida irá mudar lá dentro.

— Olha, cara, não sei não... isso é meio difícil pra mim, sou um homem atarefado...

— Você está desempregado.

— ... tenho família pra cuidar...

— Sua mãe morreu há dois anos atrás e seu parente mais próximo mora a duzentos quilômetros daqui.

— ... tenho uma doença grave que vai me matar em três meses se eu não tomar remédio...

— A última doença que você pegou foi um resfriado durante a chuva na virada do ano.

— Tá bom, tá bom, saco! — irrita-se Billy — Você sabe bastante sobre mim!

— É, sei.

— Então você deve conhecer meu super-poder...

— Sim, você pode chegar a altas velocidades quando correndo em uma linha r...

— Pára de me interromper, droga! O negócio é o seguinte: eu vou dar a volta no corredor, se você chegar antes que eu no outro lado, eu vou junto com você, OK?

— Isso não parece um bom modo de acertar as coisas, mas estou de acordo.

— Beleza.

Antes que o homem de longos cabelos possa piscar, o cowboy já está correndo. Sua velocidade é realmente muito alta. Mas nada — nada — que se compare a tipos como Mercúrio ou Flash. Em esforço normal ele ultrapassa a velocidade do som. E só isso.

Enquanto Puzo corre pelo corredor, imagina o cara de sobretudo correndo como um louco.

"Coitado." — ele pensa — "Acha que pode ultrapassar o rei da velocidade texano."

A expressão de desprezo é trocada por uma de espanto quando Billy vê o homem com aqueles óculos horríveis bem na sua frente, inclusive com o carrinho que vinha carregando algum tempo atrás.

Billy tenta dizer algo, mas emudece pela surpresa de ter sido derrotado.

— Vamos, Billy. Temos muito o que fazer em São Francisco.

— M-mas... você... como...? — o texano não sabe o que dizer, mesmo por que não há nada para ser dito.

Parque florestal de alguma cidade do sul do Kansas, dia seguinte.

Um Cadillac azul pára no pequeno estacionamento do parque. O homem de cabelos estranhamente cinza abre a porta do carro e sai, deixando Billy, o motorista, dentro do carro.

— Espere-me aqui. — ordena o homem — Nem pense em mover este carro.

— Fechado. — diz Puzo.

Mesmo depois do que aconteceu no dia anterior, Billy hesitou em ir com o homem. Só aceitou realmente depois de ouvir as devidas explicações. Mas Billy nem se preocupa com isso no momento: está mais interessado na morena curvilínea parada na banca próxima.

O homem de sobretudo entra na floresta, e recomeça sua caçada, embora suas armas não sejam visíveis. Logo, um guia aproxima-se, gritando com sotaque mexicano.

Señor, señor!

— Sim? — pergunta o homem.

— Creio que é um tanto perigoso para alguém entrar na mata sem um guia. Eu serei o seu, certo?

— Não, não está certo. Eu conheço o caminho, eu sei onde quero chegar.

— Mas o senhor precisa de um guia, é necessário que...

— Eu já disse que não preciso de um guia.

— Mas, señor...

— Olhe aqui, garoto. — ele se aproxima do guia, ameaçadoramente — Acho que não preciso repetir que um guia é definitivamente desnecessário. Sei o que estou procurando e sei que não é necessário nenhum maldito guia pra me levar onde quero. De acordo?

O guia acuado assusta-se, e responde positivamente à pergunta do homem apenas balançando a cabeça. Em seguida, sai correndo.

— Cara! Boa jogada! — uma voz quase desafinada surge no meio da floresta.

— George Ekows. Não sabia que o encontraria tão facilmente. — o homem de óculos olha para frente, sem saber ao certo de onde vem aquela voz.

— Me conhece?

— Sim.

— Te conheço?

— Creio que não.

— Então...?

— Vim aqui para lhe fazer uma proposta. Eu já conheço sua situação e por que você veio parar aqui.

— Hm... você deve ter alguma coisa com o prefeito, né? Aquele desgraçado, já tá mandando mercenários atrás de mim... o que um corpinho bonito não faz com a mente de uma pessoa.

— Não tenho nada com o prefeito, muito menos sou mercenário. Mas, sim, estou aqui por causa do seu corpo.

O silêncio se abate por alguns segundos na floresta.

— Ahn, não é o que você está pensando. — o homem trata de remediar.

— Ufa, ainda bem. Então o que quer comigo, senhor... hã... você não me disse o seu nome.

— Não é o momento de dizer-lhe ainda. A proposta é: você vem comigo até minha mansão em São Francisco, onde você poderá aprender a controlar seus poderes e não será diariamente caçado pela sua condição de homo superior.

— Condição de quem?

Homo superior. Mutante.

— Ah.

— O que acha da idéia?

— Sabe, a segunda idéia é melhor do que a primeira. O preconceito aqui nessa cidade é insuportável, por isso eu tinha que vir pra um lugar onde eu pudesse me esconder bem.

— Então... você está dentro?

— Pode crer!

Do meio de uma das árvores maiores, surge algo que se assemelha a uma meleca verde-clara. A meleca desce a árvore fluidamente e se aproxima do homem de sobretudo. Ele vê dois olhos grandes e caricatos do meio da criatura, e dela surgem um braço e uma mão. O homem aperta a mão e nota algo que parece um sorriso abaixo dos olhos daquela massa verde sem muito sentido.

— É bom saber, George!

Rua de alguma cidade do Mississipi, setenta e três horas depois.

O Cadillac passeia lentamente por uma rua tipicamente americana. Casas não muito grandes, feitas de madeira e com amplos jardins verdejantes, em cada lado da estrada. Folhas secas na calçada, que está totalmente vazia. Ouve-se apenas o som do carro conduzido por Billy Puzo. Ao lado dele, está o excessiva e inutilmente misterioso homem de sobretudo preto, e no banco de trás a meleca verde, George Ekows.

O homem de preto está com sorte — suas caçadas parecem estar dando bons resultados. Os dois mutantes recrutados conversaram a viagem inteira (conseqüentemente enchendo a paciência do homem), sobre muitos assuntos: de vacas, passando por dados de variadas faces e desenhos animados, e chegando a pijamas amarelos. Nada que realmente interesse a pessoas normais, mas sabe-se lá por que motivo os dois mutantes acham aquilo bons temas para discussão. O homem de sobretudo é obrigado a ouvir bobagem atrás de bobagem durante toda a viagem. E agradece a Deus por ter de sair daquele Cadillac, que acaba de estacionar.

— É aqui a casa? — pergunta Billy.

— Sim. Fiquem aí e não gritem. — pede o homem de óculos.

— Hã, pode deixar. — responde o texano.

Ele abre a porta e segue até uma das casas, tocando a campainha em seguida. Após algum tempo, um garoto de cabelos despenteados e óculos, aparentando ter uma certa musculatura, atende a porta.

— Sim? — pergunta o jovem.

— Eric Bernard?

— Sou eu. Que foi? Você é da receita federal?!

— Não! Muito pelo contrário.

— Menos mal. Pensei que vinham me prender por causa daquela invasão aos servidores deles... — Eric começa a rir sozinho.

— Ahn... — o esquisito homem de cabelos cinza e sobretudo no estilo "Matrix" não entende o motivo do riso — Bem, venho aqui pra lhe fazer uma proposta.

— Hm. Que site eu tenho que invadir?

— Não, não é isso... é algo que realmente pode mudar sua vida.

— Mas...

— E não tem nada a ver com computadores.

— Droga.

— É sobre sua condição mutante. Sei por que se esconde aqui nesta rua praticamente vazia pra não ser encontrado por seus colegas de escola, ou eles acabarão humilhando você mais uma vez. Tanto pelo fato de você ser nerd como de ser um Homo superior.

— Ah. Você veio me humilhar também, é? — o nariz de Eric repentinamente aumenta cerca de dez centímetros em largura, demonstrando seu poder mutante.

— Já disse que não... quero lhe convidar pra ir a um lugar onde você não precisa se esconder. Onde poderá treinar para...

— Peraí! — o nariz volta a seu tamanho normal — Você me quer como um X-Man?! É isso? Eu vou me tornar um X-Man?

— Uh, não seria bem um...

Yeeeeaaahhh!!!

— Uh, que bom que aceitou... — embora saiba que de certo modo está enganando o jovem Eric, o homem de óculos redondos aceita aquilo como um "sim" — Mas vamos lá. Pegue suas coisas, por que você vai se mudar!

— Beleza! Quem serão os outros X-Men?

— Eles.

O homem aponta para trás. Eric vê no carro uma gosma verde e um caipira. A companhia não é das melhores.

São Francisco, manhã seguinte.

O Cadillac azul entra lentamente na Mansão X-Cluded, cujo portão fora aberto há alguns segundos pelo homem de preto. Dentro do carro, todos olham o local em que estão. Uma mansão de bom gosto, com um belo jardim na frente (apesar das folhas secas pelo chão), uma placa esculpida em pedra, que todos esqueceram de ler. Pouco a pouco, eles se aproximam da casa, feita de tijolos à vista, mas com muita madeira, dando um aspecto quase sinistro e bastante inglês à mansão.

Eric Bernard gosta da mansão, com sua arquitetura interessantíssima. George Ekows prefere o jardim verdejante (exceto pelas folhas secas), e nota que há mais árvores ainda em volta da casa. Billy Puzo se maravilha com tudo — nunca vira um local tão luxuoso -, tanto é que se esquece da direção do Cadillac e o faz bater na parede da casa.

— Hã, desculpa aí... — pede Puzo.

— Sem problemas... — responde o homem de cabelo cinza, andando até então na velocidade do carro.

O homem segue até a porta, tira um molho de chaves e escolhe a certa para abrir a pesada porta de madeira irlandesa. Pede para que todos entrem e eles assim o fazem. Todos chegam no humilde hall de entrada da mansão, o homem dá meia-volta e estende os braços.

— Sejam bem-vindos à sua nova casa. — diz ele, com um sorriso bobo no rosto — Querem pegar suas coisas no carro ou vão conhecer a mansão primeiro?

— Acho que... conhecer a mansão primeiro, não é melhor? — pergunta George. Seus dois companheiros concordam.

— Não, não é. — responde o homem.

— Não...?

— Não. Ainda não decorei todos os cômodos da casa. Vão pegar suas coisas no carro.

Biblioteca da mansão, cinqüenta e dois minutos depois.

Passado o momento de reconhecimento, o homem convida os três a um cômodo da casa, cujas estantes estão lotadas de livros (a arrasadora maioria deles de utilidade duvidosa, estando ali apenas para ocupar espaço. Só de versões em outras línguas de "Harry Potter e a Câmara Secreta" há pelo menos vinte e cinco) e com duas grandes janelas que dão de frente para o belo jardim (exceto pelas folhas secas). Atrás de uma mesa, está o homem de sobretudo, que está há cinco minutos pensando num modo de iniciar seu discurso.

— OK... bem... vocês todos... vocês todos foram convocados a virem até aqui por mim, e... e acho que é hora de algumas respostas. — diz ele, lutando contra um estranho medo de falar em público.

— Isso mesmo. Pode começar. — pede Billy.

— OK... bom... lá vai. Vocês três estão aqui nesta mansão para... para aprender mais sobre vocês mesmos, aprender mais sobre seus poderes, aprender a controlá-los... enfim, vocês, como mutantes. Apesar disso, vocês também estão aqui para proteger as pessoas que os odeiam, e... bom, acho que é isso. Alguma pergunta? — George Ekows ergue algo que se parece com um braço.

— Eu. — diz a gosma verde — Qual diabos é o seu nome?

— Ah, sim. Meu nome real não importa, mas vocês podem me chamar de Mentor.

— Mentor não era aquele cara do He-Man? — lembra Eric.

— É, é verdade! O cara tinha uma privada na armadura, lembram?

— Eric, George, por favor... — pede Mentor.

— Hahaha, é verdade! Aquela armadura dele era escrota! Sem contar aquele capacete dele que... — Billy entra no meio da conversa.

Por favor! — Mentor interrompe a frase de Billy.

— OK, OK... — Eric se contenta.

— Bem, vamos continuar. — prossegue Mentor — Vocês, como era de se esperar, receberão uniformes... mas nada de colantes amarelos... apenas algumas coisas para identificá-los.

Mentor abre uma gaveta e tira algumas peças de roupa dali.

— São roupas pretas com um pequeno "X" no canto, nada espalhafatoso. — Mentor joga uma camiseta para Eric, uma jaqueta para George e um sobretudo para Billy.

— Legal! — diz George — Mas e apelidos? A gente vai ter aqueles codinomes estranhos?

— Ah, sim... você, George Ekows, será Gozma. Billy Puzo, você será o Texano. Eric Bernard, portanto, será Nooze.

— Putz, o pior sempre sobra pra mim. — reclama Eric — Mas o nosso grupo tem um nome?

— Sim. De hoje em diante vocês serão... os X-Cluded!!

Os três olham para Mentor, e em seguida se entreolham.

— "X-Cluded"? Não tinha algo menos depreciativo, não? — pede Eric.

— Bom... na verdade há uma razão pra eu ter escolhido esse nome, mas não vem ao caso...

Mentor olha para o nada ao lembrar da humilhante cena. Em sua mente, ele recorda o dia no qual entrou na mansão Xavier em Nova York e conversou com Charles Xavier em pessoa.

— "Subsidiária"? Mas que idéia idiota, sr. Mentor! Eu tenho mais o que fazer! — Xavier arrisca mexer sua cadeira voadora para dar meia volta.

— Hã, espere, Xavier! Eles serão como novos X-Men, só que... diferentes... outras pessoas precisam ter chance também, não apenas os que têm poderes utilíssimos em combate.

— Ora, faça-me o favor... a escola Xavier não é uma empresa para ter várias franquias espalhadas pelo país!

— Ah, então é assim que você trata um semelhante, Xavier? Você vai nos excluir? Vai? Hã, Xavier? Volte aqui, onde você está indo? Eu ainda não terminei! Xavier! Você ficou surdo? Xavier?!

— Mentor? Mentor?!

O homem de sobretudo volta à realidade. Billy está diante dele, balançando as mãos.

— Mentor? — pergunta o caipira.

— Estou aqui, estou aqui...

— E aí? O que vamos fazer agora que somos os X-Cluded?

— Hm...

Mentor olha para a sua direita, depois se dirige até um armário. Dali, tira três grandes ancinhos e os estende na direção de seus X-Cluded.

— Limpem o jardim. Está cheio de folhas secas.





 
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