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Por
JB Uchôa
Alexandre
Uma noite fria em
Gateway. O vento gélido como as águas do Rio Estige
lambem o rosto da princesa Diana. Ela acaba de vir de Boston,
numa tentativa vã de falar com Vanessa Kapatelis. Júlia,
sua grande amiga e mentora, está muito preocupada com a
filha, que está sumida há semanas. Recentemente
ela recebeu uma carta, mas alguns detalhes ou quem sabe sua
intuição de mãe a fizeram ligar para a
Mulher-Maravilha. O endereço do local onde Vanessa estaria
acampada é falso, e Vanessa não voltou para a faculdade.
Subitamente, a atenção de Diana se volta para um
rapaz que está no vigésimo andar do Holiday Inn...
do lado de fora da janela.
Está meio
frio aqui fora, não acha?
Vá embora... A Mulher-Maravilha se surpreende com a
frieza do garoto. Quero ficar sozinho.
Pois eu gostaria de conversar com você, partilhar dessa
visão quase mágica da lua Diana aproxima-se e
senta próximo ao garoto no parapeito da sacada. Meu nome
é Diana, e o seu?
Alexandre. Mulher-Maravilha, quer sair de perto de mim?
Dá pra me deixar só? EU QUERO MORRER EM PAZ!
A Mulher-Maravilha volta a planar em frente ao garoto,
agora com as feições mais sérias.
Você pretende mesmo pular?
Você sabe o que é viver? Sabe o que é fracasso?
Você, a srta. Super-Heroína-Perfeita? As lágrimas
rolam pelo rosto alvo de Alexandre. A boca trêmula, os pés
afoitos que quase derrapam da sacada.
Se eu sei o que é fracasso? Eu não pude impedir
o extermínio de centenas de irmãs amazonas. Não
pude salvar alguns amigos que perdi ao longo dos anos. Não
sei onde está uma das pessoas que mais amo no mundo! E
encontro você aqui, querendo desperdiçar o dom mais
precioso, a vida!

Londres, em uma mansão
quase esquecida.
E então, feiticeira? Resmunga a mulher nua, sentada
entre tochas e peles de animais. Eu não a convoquei para
criar truques baratos.
Acalme-se, tudo a seu tempo. Com os sacrifícios
certos, essa será a última vez que você precisará
da Urzkartaga! A feiticeira gesticula sobre a poção
com mãos suaves e jóias finas. Basta que
você aceite.
O deus da planta exige tal oferecimento. Ele me dá o
que preciso, e eu lhe dou o que ele precisa. Eu lhe darei o que
você precisa, a cabeça da amazona em uma bandeja.
Duas gargalhadas ecoam por toda a mansão, chegando até
a rua. Os passantes se benzem, pois há muito a mansão
é tida como assombrada.

Ainda no hotel, a
Mulher-Maravilha conta sua origem, como nasceu do barro sagrado
de Themiscyra, moldado por sua mãe como ordem da deusa
Atena. Do nascimento das amazonas, da humilhação
sofrida nas mãos de Herácles, da morte de sua tia
Antíopa, que saiu da segurança da cidade em busca
de vingança. Fala de Diana Trevor, a valorosa guerreira
americana que lutou ao lado das amazonas. Do exílio da
Ilha Paraíso. De como foi difícil vir para o mundo
dos homens. Conta das pessoas queridas como Júlia, Helena
e Mindy Mayer. Dos amigos que fez, de sua família e de
como ela se sente grata aos deuses por terem-na designado como
campeã e lhe dado a incrível oportunidade de conhecer
tanta gente maravilhosa. Mas a resposta do garoto não é
nada agradável.
Minha namorada me largou, levei um chute na bunda! Perdi o emprego,
descobri que minha mãe está com câncer! E
isso tudo no mesmo dia! Na semana seguinte o médico disse
que o tumor tem 90% de chance de ser maligno, não consegui
quitar minhas dívidas, tomaram meu carro... e descobri
que Rose, minha ex-namorada, tá transando com o meu chefe!
Gaia te deu a vida, a maior das dádivas! Vamos conversar,
por favor! O barulho de sirenes atrapalha a conversa, policiais,
bombeiros e uma ambulância chegam ao local. Entre comigo,
Alexandre.
O jovem olha para os lados e para baixo. Pode reconhecer seus
pais entre os carros de polícia.
Entro depois de você.
A Mulher-Maravilha voa para dentro do quarto e estende a mão.
Ele olha para ela por alguns instantes, os olhos marejados. Depois
abre os braços e pula no ar, tentando abraçar a
noite.
Não! Lorde Hermes, conceda-me a velocidade
necessária! Diana voa atrás do jovem que,
acreditava ela, tinha desistido de tamanha loucura. Agora, mais
do que antes, o vento sibila gélido em seus ouvidos. As
mãos na frente, buscando alcançar o rapaz que misteriosamente
chora e sorri. Peguei!
Maldita! Me larga! Me deixa morrer... não
me deixa sofrer... por favor! Soluçando, ele a abraça,
e Diana desce suavemente até o chão com ele ao seu
colo. Os pais de Alexandre e alguns paramédicos correm
ao encontro do garoto. A Mulher-Maravilha o solta, observa-o ser
atendido, conforta seus pais e espera a ambulância partir.
Uma lágrima percorre o seu rosto enquanto faz uma prece.
Bom trabalho, Mulher-Maravilha. A capitã de polícia
Jane Sontoya se aproxima, ainda com um curativo na cabeça,
estendendo a mão. Realmente pensei que o garoto já
era. Diana aperta a mão de Jane e a leva ao coração
da capitã.
Eu o salvei hoje, capitã. Quem garante que poderei salvá-lo
amanhã? Ela alça vôo em meio a noite, deixando
Jane Sontoya imersa em pensamentos e lembranças. O barulho
das sirenes se afasta lentamente, enquanto Diana volta para casa.

Nos monitores recém-instalados
de um quartel-general abandonado, dados são processados
numa velocidade fantástica.
Houve uma desaceleração, senhor, mas já
está estabilizando.
Não posso perder esse espécime, soldado. O que
houve de errado?
A implantação do chip de memória foi rejeitada.
Praga! Chamem algum maldito telepata!
Vocês precisam de um pouco de magia, meus caros. A mulher
de cabelos púrpuras gesticula e estabiliza os instrumentos.
Ela olha para o homem fardado com repugnância. Se eu soubesse
que você faria um trabalho incompetente, teria contratado
um porco! Novamente ela gesticula e um pequeno suíno
corre pelos corredores.
Senhora? O chip foi aceito pelo espécime! Grita o soldado,
confiante.
Claro que foi, idiota! Eu sou Circe, a mim tudo é possível!
E ela desaparece em meio a brumas cor-de-rosa.
:: Notas do autor
E então, estão gostando da nova fase da Mulher-Maravilha?
Pois escrevam nesse quadrinho aí embaixo, facinho,
facinho, com dúvidas, sugestões e críticas!
Todas serão bem-vindas e respondidas! Um abraço!
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