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Por
JB Uchôa
Uma
Nova Aurora
Em meio a lençóis
macios e uma brisa suave que adentra seus aposentos, a princesa
de Themiscyra mais conhecida como Mulher-Maravilha dorme.
Um sono profundo, estranhamente alheio aos acontecimentos do dia
anterior. A ida ao Olimpo, a ameaça de Ares... e a possibilidade
de ser mãe? Mesmo assim, a princesa dorme tranqüilamente.
Em seus sonhos, ela voa por céus que não reconhece,
planando com leveza entre as nuvens. Seus pensamentos estão
alheios a tudo. Sua mente não dá importância
à rota que está seguindo ou às nuvens, que
de alvas como a mais pura lã de existe em Themiscyra tornam-se
negras, anunciando uma tempestade.
O sono torna-se mais conturbado. A princesa amazona se retorce
entre os lençóis, fica ofegante, e nem mesmo a suave
brisa arrefece o calor agora. Perdida em meio à tempestade,
Diana luta para se manter no ar. Ela agora duvida se tem consciência
de que está sonhando. Estaria o deus da guerra brincando
com sua psique? Em meio à tempestade, um redemoinho oculta
o vulto de um homem alto e forte. "Minha chance para escapar",
ela pensa, e em seu inconsciente procura o conforto naqueles braços
que parecem comandar a tempestade. Os ventos são fortes
demais, ela mal consegue se manter no ar, quanto mais voar de
encontro ao estranho... A Mulher-Maravilha choca-se com o tórax
do desconhecido, Que a acolhe com seus braços e um sorriso.
Ouve-se o som de um forte trovão e Diana acorda.
Princesa! Diana... Philippus corre ao encontro da campeã
das amazonas, mais aflita do que uma capitã da guarda poderia
parecer.
Philippus, acalme-se! O que está havendo?
Veja com seus próprios olhos princesa. ela responde,
com terror estampado no rosto.
Só o fato de ver Philippus com medo desperta o temor na
Mulher-Maravilha. Philippus não é a capitã
da guarda de Themiscyra à toa. Ela conquistou esse direito
junto à rainha Hipólita e aos deuses por sua coragem,
bravura e poder de comando. Do lado de fora do palácio
nada acontece. As amazonas armam-se e assumem uma linha de defesa.
Arqueiras, lanceiras e as guerreiras munidas de espadas estão
prontas para o ataque. No horizonte uma estátua gigantesca
de Ares parece destruir tudo ao seu caminho.
Amazonas! Preparar! Philippus incita as irmãs
a conterem a ameaça.
Filha, Ares irá destruir tudo.
Não mesmo, mãe. Não enquanto a Mulher-Maravilha
proteger a Ilha Paraíso. De que parte do Hades surgiu esse
monstro?
Daqui mesmo, filha. Hoje pela manhã, fui levar o artefato
ao oráculo escondido de Ares para honrar o pacto de sua
tia Antíopa.
Mãe... como pôde?
Eu sou uma rainha, Diana. Tenho uma responsabilidade para com
as amazonas... e sou sua mãe! Filha... Como poderia dormir
tranqüila se soubesse que você se entregaria ao vil
deus da guerra para proteger-me? A estátua cresceu, ficou
imóvel uns momentos, depois começou a andar rumo
a Themiscyra. Ela destruirá tudo. Hipólita carrega
a dor de todas as suas irmãs e tem o peso da coroa sobre
sua cabeça, pois sabe que suas decisões irão
repercutir sobre todas as amazonas.
Mãe... Philippus, retirem todas as amazonas para a costa
leste, próxima à Ilha da cura. Eu vou deter a fúria
insana de Ares.
Nós lutaremos, princesa! Somos amazonas! Aella sempre
foi uma irmã de valor. Não tem medo da morte, mas
sim do jeito que se morre.
Pois bem, Aella, assim seja. Philippus, cubra os fundos da cidade.
Helena, Penélope, conduzam Menalippe ao oráculo
e a protejam! Mãe...
Eu lutarei, Diana! Philippus, minha espada!
Por Gaia! Pela glória de Themiscyra!
Ao som do brado de mil valorosas mulheres, a Mulher-Maravilha
voa rumo à clareira de onde a dantesca imagem do deus da
guerra caminha inexoravelmente rumo ao coração da
Ilha Paraíso. Embora munida de sua espada, a Mulher-Maravilha
pouco pode fazer contra a estátua conduzida pela mão
do deus Ares.
Philippus, olhe! Mala aponta para os doze cães de guerra
de Ares que correm de encontro às guerreiras amazonas.
Assumir posições! grita Philippus, com
imponência. -Nenhum cão do maldito Ares irá
tombar uma amazona.
A cena que ocorre depois poderia ser indescritível. Enquanto
a Mulher-Maravilha combate a pesada estátua, tentando deter
seu avanço ou mesmo destruí-la, Philippus, Mnemósine,
Hipólita e centenas de guerreiras amazonas combatem a horda
de cães de guerra de Ares. Seria fácil, se os cães
não medissem três metros de altura e seus caninos
não fossem afiados como diamantes. Suas peles parecem um
encouraçado negro não só resistente, mas
virtualmente indestrutível. A única fraqueza é
um ponto na jugular, que precisa ser penetrada com precisão
cirúrgica e mede apenas oito centímetros. Oito centímetros
são mais do que mede o fio da espada de Hipólita,
e é em meio à batalha que ela prova porque é
a Rainha das Amazonas.
Enquanto as amazonas têm êxitos contra os cães
negros, Diana não tem a mesma sorte. A estátua parece
dotada de vida e consciência próprias, e cada pedaço
de mármore que quebra se regenera. A cada murro que leva,
a princesa voa longe e quase perde a consciência.
Philippus... Diana não resistirá muito tempo.
O terror de ver sua filha perecer uma vez mais fragiliza Hipólita.
Dessa vez os deuses não a trarão de volta, já
que ela renegou a divindade.
Calma, minha rainha, Diana é a Mulher-Maravilha... só
ela pode deter essa ameaça.
Cubra-me, Philippus!
Hipólita não larga a espada nem tampouco o escudo,
mas passa a correr rumo ao palácio, enquanto Philippus
fura a jugular de mais um cão de Ares. Ao chegar, vai até
o salão de armas e pega um presente que recebeu das mãos
de Atena. Faz uma prece para que seja a hora certa de usá-lo,
e volta ao campo de batalha.
Diana! Diana! Combatendo a horda de cães, Hipólita
vai abrindo caminho até onde está sua amada filha,
correndo todos os riscos de morte e enfrentando-os como qualquer
mãe faria para proteger seu rebento. Atingida mais uma
vez, a Mulher-Maravilha vai ao chão.
Filha... levante-se!
Mãe, não sei se poderei conter tamanha ameaça.
Não devia ter desafiado Ares. Fui tola, coloquei em risco
todas as minhas irmãs.
Confio em suas decisões, minha filha. Você nunca
deu uma passada mais larga do que suas pernas. Juntas, nós
salvaremos a Ilha Paraíso.
Hipólita entrega o chakran de uma antiga amazona. Uma amazona
que conquistou seu direito de usar esse nome, assim como Diana.
Ela também renegou a divindade oferecida por Zeus e seguiu
com Caronte até o Hades, onde foi julgada pelo deus dos
Infernos e ascendeu aos Campos Elíseos.
Conta a lenda que este chakran ele possui o equilíbrio
do bem e do mal e é a única arma capaz de matar
um deus. Em sua infinita sabedoria, Atena me pediu para guardá-lo
até a hora em que eu me visse obrigada a usá-lo.
Ela sabia que se o chakran estivesse solto pelo mundo, Ares o
tomaria e conseguiria tomar o trono do Olimpo. Use-o.
A Mulher-Maravilha segura o disco de ouro e prata na mão,
fita o horizonte, estende o braço para trás e o
lança com um grito. O poderoso chakran sibila de encontro
à estátua, atingindo-a e trespassando-a várias
vezes. Por fim, retorna à mão de Diana e a imensa
imagem de Ares desmorona a apenas sete metros de Themiscyra.
Incrível! Diana fica fascinada com a precisão
e corte do chakran, da sua dança no céu e de como
retornou à sua mão. Subitamente, o firmamento se
abre em luz. As amazonas assumem posição de defesa
e os deuses descem à Ilha Paraíso. Quando os sagrados
pés do onipotente Zeus tocam o chão, toda a natureza
que havia morrido durante a batalha floresce novamente. Todas
as amazonas ajoelham-se perante o Todo-Poderoso, menos Diana e
Hipólita.
Estou admirado, princesa. Fazes mesmo jus à alcunha que
te deram na Terra... Mulher-Maravilha!
Poderoso Zeus, com todo respeito... mas não entendo o
porque de vossa presença.
Ora, criança, convenci meu pai de que vocês precisariam
passar por um teste, antes de ter a difícil tarefa de levar-nos
à Terra.
A Mulher-Maravilha morde os lábios perante o cinismo de
Ares. Ela pensa que poderia contar aos deuses das ameaças
da noite anterior, mas como o próprio Zeus disse, suas
ações falarão mais do que suas palavras.
O Laço da Verdade é retirado cuidadosamente da cintura
da princesa, e com uma velocidade incrível envolve o poderoso
deus da guerra.
Então, Ares... gostaria de repetir o motivo desse ataque?
As amazonas se calam. O casal real torce o nariz com a ousadia
da Mulher-Maravilha. Entretanto, Ares começa a revelar
toda a verdade sobre o pacto desonroso que ele impôs às
amazonas. Com um sorriso nos lábios, as cinco deusas responsáveis
pelo surgimento das amazonas orgulham-se de sua filha.
Princesa Diana. Deméter se dirige amorosamente à
corajosa princesa. Hoje queremos abençoá-la novamente.
A generosa deusa da agricultura levanta os braços buscando
força e serenidade, como no dia em que ela e suas irmãs
foram ao útero de Gaia abençoar a pequena alma não
nascida. Eu, Deméter, concedo-lhe a força da Terra!
Eu, Afrodite, lhe dou grande beleza!
Eu, Atena, oferto-lhe sabedoria!
Eu, Ártemis, cedo-lhe a comunhão com os animais!
Eu, Héstia, lhe proporciono o dom da fraternidade!
Eu, Hermes, lhe garanto o poder do vôo!
Festejem, amazonas! A punição devida de Ares será
ponderada pelo Poderoso Zeus! Mas, no momento, aguardamos sua
bela princesa Diana para nos conduzir ao mundo do patriarcado.
Os deuses parecem felizes, menos Ares, que não gostou da
humilhação sofrida perante seus pares. Enquanto
a Mulher-Maravilha voa de encontro aos deuses, sua mãe
e irmãs erguem os braços e cruzam os braceletes
como um aceno, lembrando o orgulho de serem amazonas.
:: Notas do Autor
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