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Por
Fernando Lopes
Um Lugar Entre
os Deuses
A pequena multidão
de curiosos aglomera-se na praça central de Fawcett City,
olhando para o céu. Os mais privilegiados forçam
ao máximo o zoom de suas câmeras de vídeo
para tentar registrar o momento. Um binóculo é disputado
entre palavrões por dois garotos. Os fotógrafos
apontam suas teleobjetivas para o infinito azul da manhã.
Enquanto isso, a 250 metros do solo, os responsáveis pela
agitação permanecem alheios ao burburinho, desafiando
a lei da gravidade. Acostumados ao assédio, duas das mais
poderosas criaturas da Terra concentram-se em assuntos de maior
importância. Após um minuto de silêncio, o
semideus com alma de menino responde, angustiado.
Eu não sei o que dizer, Super-Homem. responde, por
fim Não sei se estou preparado para isso. Ainda mais
depois desse fiasco...
Não diga bobagens, Billy. diz Homem de Aço,
chamando o Capitão Marvel por seu verdadeiro nome Acontece
o tempo todo. Para ser sincero, não conheço um super-herói
que não tenha sido vítima de controle mental pelo
menos uma vez. Já virou clichê.
Mas logo o Mesmero? Não tinha um vilãozinho menos
meia-boca, não?*
O Super-Homem ri do comentário. Dentre todos os meta-humanos
do planeta, o Capitão Marvel é um dos poucos capaz
de fazer frente ao último filho de Krypton. Mas não
é a sabedoria de Salomão, nem a força de
Hércules, nem o vigor de Atlas, nem o poder de Zeus, nem
a coragem de Aquiles ou a velocidade de Mercúrio que o
tornam especial. O que o faz realmente único é o
fato de todos esses dons estarem sob controle de uma criança.
Um garoto que sonhava ser como seu pai, e recebeu de um antigo
mago poderes que o transformam no mortal mais poderoso da Terra.
Um jovem chamado Billy Batson, o coração e a alma
por trás do Capitão Marvel. E é essa alma
de menino que agora sente-se insegura em aceitar o convite do
maior dos heróis.
Quando deixei o grupo há alguns anos, prossegue Marvel
eu já me sentia deslocado. E olha que a equipe, com todo
o respeito, não era... como vou dizer... não era
lá grande coisa. Se eu não me senti à vontade
ao lado de caras como Gladiador Dourado, Besouro Azul e Guy Gardner,
como é que vai ser quando eu tiver que encarar sujeitos
do porte do Batman, Aquaman ou Zauriel? Diacho, o cara é
um anjo de verdade! Não, não acho que seja uma boa
idéia...
Preste atenção, Billy. o Super-Homem tenta ser,
ao mesmo tempo, incisivo e condescendente Não só
apoiei seu nome para se tornar um membro efetivo da Liga da Justiça
como fiz questão de convidá-lo pessoalmente. E sabe
por quê? Porque você é um herói na mais
pura essência da palavra. Com seu poder, você seria
capaz de conquistar o mundo. Em vez disso, decidiu dedicar-se
a ajudar quem precisa. E não faz isso por fama, dinheiro,
glória ou vingança. Faz porque seu coração
lhe diz que é a coisa certa a fazer. Se isso não
é ser um herói, não sei o que é.
Envaidecido e ligeiramente envergonhado, o Capitão Marvel
pondera as palavras do Homem de Aço, um de seus ídolos.
Além do mais, emenda o Super-Homem, percebendo a hesitação
de Billy se o Mortal Mais Poderoso da Terra não for digno
de estar na Liga da Justiça, quem será?
Bem, se você diz isso... diz o jovem herói, encabulado
Eu aceito. Só espero não decepcioná-lo.
Não vai. responde o Homem de Aço, estendendo
a mão -Tenho certeza.
Sobre o céu de Fawcett City, mãos capazes de mover
o mundo unem-se num cumprimento caloroso, anunciando o início
do novo capítulo de uma lenda.

Pelos corredores
silenciosos, o nervoso reitor da Universidade de Ivy Town acompanha
o homem alto e de feições severas até o prédio
do Departamento de Ciências. Os longos cabelos louros e
a barba cerrada dão ao visitante um ar de nobreza que,
a bem da verdade, faz jus à sua condição
de monarca. O gancho em sua mão esquerda, porém,
demonstra que este soberano não é apenas a figura
decorativa de uma monarquia moderna, mas um rei guerreiro como
os das lendas medievais. Sua presença imponente contrasta
com a figura mirrada do reitor, que tenta disfarçar o nervosismo.
Fica no final do corredor à esquerda, majestade. Ele
está em aula, agora. O senhor avisou que viria?
Não. Estou em missão oficial da Liga da Justiça.
Deveria ter marcado hora? os olhos profundamente azuis de Aquaman
fuzilam o reitor.
Não, em absoluto! o suor brota incessantemente da careca
do homenzinho, que se apressa em remediar o mal-entendido É
que, se soubéssemos de sua visita, teríamos preparado
uma recepção mais apropri...
Obrigado, mas isso não é necessário. Talvez
em outra oportunidade.
Aliviado, o reitor indica a sala e faz menção de
bater na porta, mas é impedido com um gesto breve.
Eu assumo daqui.
Quando a porta se abre, 32 pares de olhos se arregalam. Entretido
em escrever algo no quadro negro, o professor Ray Palmer mais
conhecido como Eléktron prossegue em sua explicação
sem perceber a chegada do visitante.
... assim, se levarmos em conta que a aceleração...
Posso interromper?
Quem? Ray surpreende-se ao ouvir o estranho sotaque que conhece
há anos Não é possível! Arthur!
Como vai o professor de Física mais famoso do mundo?
o rosto de Aquaman ilumina-se com um sorriso. Um fato raro,
normalmente presenciado apenas pelos amigos.
Diante da turma de aparvalhados alunos, dois velhos companheiros
de batalha se cumprimentam com alegria. Juntos, esses homens lutaram
várias vezes para salvar o mundo de incontáveis
ameaças. Agora, conversam e riem como duas pessoas absolutamente
comuns. Palmer se lembra da classe e faz as honras.
Senhoras e senhores, conheçam sua majestade real de Poseidonis,
o rei Orin, popularmente conhecido como o primeiro e único
Aquaman.
Como vão todos?
A deixa do professor é suficiente para que os alunos cerquem
os dois homens e os bombardeiem com perguntas e pedidos de autógrafos.
Quinze minutos depois, ambos estão no Departamento de Esportes,
ao lado da piscina olímpica da Universidade.
Como está a água?
Clorada. responde Aquaman, o rosto emburrado Mas é
melhor do que desidratar nas mãos dos seus alunos.
O velho bom humor de sempre, hein, Arthur? O que me leva a querer
saber o real motivo de sua presença aqui. Você não
ia se aventurar tantos quilômetros terra adentro só
para uma visitinha social.
Sinto um tom ligeiramente crítico nessa frase... Mas
você tem razão, Ray. É assunto da Liga. Queremos
você de volta no grupo.
Por que eu? Há tantos outros disponíveis. Aliás,
o mercado de spandex anda meio inflacionado...
Sofremos muitas baixas ultimamente. o ar grave volta ao rosto
de Aquaman O grupo ficou desfalcado.
Eu soube... a Caçadora foi parar no hospital...
Também perdemos Órion e Barda. Foram chamados
de volta a Nova Gênese. Kyle está de licença.
E Aço também está fora, ao menos por enquanto.
Sua armadura foi praticamente destruída na batalha contra
os N'Garai** e ele precisará de um tempo para reconstruí-la.
Além disso, ele quer se dedicar mais à família.
Família... Esse ramo acaba com qualquer possibilidade
de uma vida normal. Sei bem o que é isso...
Ambos sabemos. um silêncio pesado paira no ar por um
momento, os dois homens refletindo sobre as perdas que a carreira
heróica lhes impôs.
Não sei, não. o professor Palmer retoma a conversa
Esse novo grupo é bem diferente da nossa época.
Mais poderoso também. Não sei se eu faria uma grande
diferença, se é que me entende.
Do velho grupo sobramos eu e J'onn. Estamos pensando em trazer
o Ollie de volta.
Ollie? Putz, vocês são doidos...
Quanto a fazer diferença, me parece que você está
querendo confete. Não fosse pela sua ajuda, não
conseguiríamos desfazer os estragos causados pela máquina
da sorte de Julian September***. E, embora não saiba, sua
versão futura nos ajudou a derrotar Darkseid****. Além
do mais, Batman vai querer minha cabeça se eu não
convencê-lo. Ele diz que você é fundamental
para o grupo. E então, o que me diz?
Batman, hein... Tá, tudo bem, pode contar comigo. Além
da vida, do emprego e da sanidade, o que mais eu tenho a perder?

Ao deixar seu lar
na Ilha Paraíso, a princesa Diana de Themiscyra tinha como
missão divulgar a filosofia de igualdade e paz das Amazonas.
Ao chegar ao mundo do patriarcado, combateu a injustiça
ao lado de guerreiros de ambos os sexos e foi batizada pela imprensa
como Mulher-Maravilha, um título que sua mãe usou
com orgulho no passado. Hoje, ela atua novamente como emissária.
Pacientemente, a princesa flutua sobre o céu noturno de
Nova Orleans, aguardando a chegada de outra guerreira. O rastro
de luz que corta a negritude da noite indica que sua espera está
terminando. À sua frente, uma forma luminosa de grande
beleza assume a aparência da ex-Vingadora conhecida como...
Fóton! Fico feliz que tenha vindo. É um prazer
conhecê-la.
É uma honra, princesa.
Sabe por que está aqui?
Para ser sincera, não faço idéia. O Capitão
América não me explicou nada. Disse apenas que a
Liga da Justiça queria entrar em contato comigo. Posso
ajudá-los em alguma coisa?
Pode. E muito. E é por isso que estou aqui. Gostaria
de convidá-la para tornar-se membro efetivo da Liga da
Justiça.
Monica Rambeau já passou por muita coisa em sua vida. Quando
era apenas uma simples capitã da patrulha portuária,
foi bombardeada por energias extradimensionais que lhe deram poderes
inimagináveis, permitindo que transformasse seu corpo nas
mais variadas formas de energia, preservando sua consciência.
Chegou ao posto de líder dos Vingadores, e com eles viajou
aos pontos mais distantes do cosmo. Nada disso, porém,
a preparou para aquele momento.
Na Liga da Justiça? Eu? Você deve estar brincando!
Posso lhe assegurar que não. o sorriso da Mulher-Maravilha
acentua ainda mais sua beleza divina Por que estaria?
Bom, eu sei lá... É que isso me parece tão...
repentino. Mais, me parece desproposital. Por que eu?
Perdemos alguns companheiros de batalha recentemente. uma
sombra de tristeza manifesta-se no rosto da princesa Decidimos
buscar reforços entre os mais poderosos da Terra. Seu nome
foi uma indicação natural.
E o fato de eu ser mulher e negra não teria nada a ver
com isso, teria?
Desculpe, não entendi a pergunta. a Mulher-Maravilha
sente-se desconcertada O que quer dizer?
Princesa, você já está a tempo suficiente
em nossa sociedade para saber que ela é muito diferente
da sua. Costumamos ser intolerantes com tudo o que é diferente.
E as discriminações sexuais e raciais estão
entre as mais antigas. Não seria uma forma de, digamos...
calar os críticos? Uma atitude "politicamente correta"?
Afinal, seu grupo não tem nenhum negro ou mutante. E a
proporção de mulheres também é bem
pequena.
Isso... é ridículo! a Mulher-Maravilha faz um
grande esforço para se conter Chega a ser ofensivo, se
quer minha opinião!
"Acho que peguei pesado", pensa Monica, percebendo a
infeliz colocação de palavras.
Desculpe se a fiz sentir-se assim, princesa. Não foi
minha intenção ofendê-la ou parecer descortês.
Mas vivemos tempos estranhos. A discriminação é
um fato, goste você ou não. Sua herança real,
sua cultura, seus poderes divinos e sua beleza branca a fazem
não entender do que estou falando. Mas quando se nasce
mulher e negra, as coisas tendem a ser um pouco mais difíceis.
De onde venho, Fóton, as pessoas são julgadas
por seus méritos, não pela cor de sua pele ou pelo
sexo. Diana fala com frieza Não importa quanto tempo
eu viva em sua sociedade, jamais entenderei seus mesquinhos preconceitos.
Mas entendo seu ponto de vista. Sinta-se à vontade para
recusar, se quiser.
Confesso que estou confusa, Mulher-Maravilha. Não esperava
um convite desses. Além disso, sou membro-reserva dos Vingadores.
Não sei se isso poderia causar algum tipo de embaraço.
O Super-Homem já conversou a esse respeito com o Capitão
América. Ele disse que não há problemas.
Além disso, a Liga da Justiça só é
acionada para resolver situações de crise mundial,
onde a colaboração dos Vingadores é sempre
bem-vinda. Não há conflito de interesses. Estamos
somando forças, não dividindo.
Monica cala-se por alguns instantes. Estar entre os melhores do
mundo não é o tipo de convite que se recebe todo
dia.
Bem, se o Capitão não vê problemas... Posso
tentar. É uma honra poder ajudar.
Cheguei a achar que não pensasse assim. dispara a Mulher-Maravilha,
ressentida De qualquer modo, isso não importa. Entraremos
em contato em breve para comunicá-la de nossa próxima
reunião. Nós lhe forneceremos um teleportador para
levá-la à Torre de Vigilância.
Não sei se será necessário. Posso chegar
à Lua rapidamente em minha forma luminosa.
Que seja, então. Bem-vinda ao grupo. Veremo-nos em breve.
A princesa amazona alça vôo com a graça habitual,
mas seu rosto permanece duro como mármore. Monica Rambeau
observa enquanto ela se afasta, pensando se agiu corretamente.
"Droga, acho que comecei com o pé esquerdo..."

Enquanto aguarda
para ser atendido, o sujeito de paletó cinza, sobretudo
e chapéu observa o estranho prédio baixo, que se
destaca mesmo aqui, no Soho, bairro de artistas e intelectuais
de Nova Iorque. "Uma construção incomum para
um homem incomum", pensa enquanto toca novamente a campainha.
A porta se abre e um oriental totalmente calvo pergunta, em tom
baixo e ainda com sotaque:
Em que posso ajudá-lo?
Gostaria de ver o doutor Stephen Strange. Tenho hora marcada.
O senhor está sendo aguardado, senhor...
Russell. Paul Russell.
O visitante é conduzido a uma sala repleta de antigüidades
e livros. Um cheiro forte de incenso domina o ambiente. Ele passa
a observar uma curiosa máscara de mosaicos de turquesa
esverdeada.
Lembra algum conhecido?
O visitante se vira na direção de seu interlocutor.
O homem magro de têmporas grisalhas, cabelos, bigode e cavanhaque
negros, parece ter surgido do nada.
Como disse?
Nada importante.
É uma peça muito interessante. É maia?
Asteca. É uma representação de Quetzalcoatl.
O deus asteca da criação.
Exatamente. Nunca imaginei que se interessasse por mitologia
terrestre, senhor "Russell". Ou devo chamá-lo
de Caçador?
Melhor do que isso, responde o alienígena transmorfo,
assumindo a forma na qual ficou mais conhecido na Terra pode
me chamar de J'onn.
É um grande prazer conhecê-lo, J'onn.
Igualmente. Como descobriu?
Poucas coisas podem escapar do Olho de Agamotto, meu amigo.
diz o mestre das artes místicas, tocando o amuleto que
traz no peito. Em que posso lhe ser útil?
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer pela colaboração
contra os N'Garai. Sem seus conhecimentos, o resultado da batalha
poderia ser bem diferente.
Foi um prazer ajudar. Percebi a infiltração dos
demônios assim que eles se materializaram em nossa dimensão.
Preparava-me para partir para o Arkansas quando Batman entrou
em contato.
Suas informações foram muito valiosas. O que me
leva à outra razão que me trouxe aqui. Gostaria
de convidá-lo a fazer parte da Liga da Justiça.
Desde que se tornou o Mago Supremo da Terra, o ex-cirurgião
Stephen Strange tem protegido o mundo de poderosos inimigos. Embora
tenha lutado ao lado de valiosos aliados entre os Defensores,
trabalhar em grupo não era exatamente comum em sua carreira.
Por isso, ele reflete com profundo cuidado antes de responder
ao convite.
É verdadeiramente uma honra, J'onn. Mas não sei
se devo aceitar.
Importa-se se eu perguntar o motivo?
Bem, diferente dos chamados 'super-heróis', minhas...
atividades não são exatamente públicas. Não
tenho uma 'identidade secreta' a preservar, mas apenas minha própria
identidade. Ser o Mago Supremo da Terra não me impede de
levar uma vida normal, se é que isso existe.
Não sei se entendi onde o senhor pretende chegar.
O fato é que a Liga da Justiça sofre de uma...
exposição excessiva à mídia. Seus
membros estão constantemente nas páginas dos jornais
e nos noticiários. Esse tipo de publicidade não
me agrada, nem tampouco me interessa.
Percebo. Infelizmente, é um problema que está
além de nossa capacidade. A curiosidade é um dos
traços mais marcantes dos terráqueos, e a imprensa
apenas cumpre seu papel. Às vezes com um certo exagero,
é verdade. Mas é o preço a pagar.
Fico feliz que compreenda.
Isso não quer dizer que aceite sua recusa...
Desculpe-me, agora fui eu que não entendi.
Respeito sua decisão, doutor Estranho, mas gostaria que
pensasse melhor. Participar da Liga da Justiça não
significa necessariamente ficar sob os refletores o tempo todo.
Se fosse assim, Batman seguramente jamais teria entrado para o
grupo. Além disso, embora sejamos poderosos, estamos particularmente
vulneráveis a ameaças de origem mística.
A invasão dos N'Garai foi uma amostra disso. Mesmo com
a ajuda de Zauriel, tememos não estar à altura de
outros ataques do gênero.
Ah, Zauriel... o doutor Estranho parece subitamente interessado
A imprensa diz que ele é um anjo de verdade, não
é?
Ainda que não fosse um telepata de primeira grandeza, J'onn
J'onzz saberia de imediato que a presença de um anjo na
Terra deveria no mínimo atiçar a curiosidade de
um mago do porte do doutor Estranho. Ele aproveita a deixa.
Um anjo, doutor. Diretamente das hostes do Paraíso para
a Torre de Vigilância. Uma entidade verdadeiramente única.
Hmm... Entendo. Bem, talvez possamos fazer um teste, afinal.
Um período de adaptação. Isso não
representa um compromisso formal, é claro. Mas talvez eu
possa colaborar, desde que isso não implique em exposição
excessiva.
Não se preocupe com isso, doutor. o Caçador
tinha capturado outra presa A Liga só atua em crises
globais de grande porte. Sua privacidade será resguardada.
Tudo o que pedimos é disponibilidade quando seus talentos
se fizerem necessários.
Façamos um teste, então.
Excelente. O senhor receberá uma unidade teleportadora
para que possa chegar à Torre de Vigilância. Bem-vindo
ao grupo.
Os dois homens se despendem e o Caçador de Marte parte,
invisível aos olhos humanos, sobre a cidade de Nova Iorque.
Um anjo...
Disse alguma coisa, senhor? Wong entra na sala e percebe a
ausência do visitante Seu convidado já partiu?
Ele tinha um compromisso e saiu voando, Wong. Como um anjo...

O armazém
está em nome de uma grande empresa de exportação
de maquinário agrícola, mas não são
tratores que os homens cercados de guarda-costas negociam. A transação
de drogas alcançaria cifras de seis zeros se fosse completada.
Se fosse completada. Algo que o homem em traje verde não
pretende deixar que aconteça.
Trouxe o dinheiro?
Está aqui. o traficante coloca uma valise
sobre o capô do carro, mas não chega a abri-la. Uma
flecha trespassa a maleta, chamando a atenção dos
criminosos.
Acho que sua pequena transação foi cancelada.
diz o homem de cavanhaque louro empoleirado no alto de
alguns engradados. Não tentem nenhuma gracinha.
Dois guarda-costas tentam sacar suas armas. Um deles tem a mão
atravessada por uma flecha, enquanto o segundo vê outra
atravessar sua calça, a milímetros dos genitais.
Tente isso de novo e eu grudo suas bolas no chão.
o rosto do Arqueiro Verde é encoberto pelo capuz
Quero todo mundo com as mãos onde eu possa ver.
Armas no chão. Devagar.
Concentrado nos homens abaixo, o Arqueiro não vê
o atirador do outro lado do armazém. O disparo atinge seu
pescoço de raspão, desequilibrando-o e dando aos
outros criminosos a chance que esperavam. O disparo das armas
automáticas deixa-o ilhado no alto dos engradados.
Merda. Eu devia ter olhado com mais atenção.
Agora estou f...
Súbito, bombas de fumaça explodem no meio do armazém,
deixando os traficantes às cegas. Tiros e gritos ecoam
durante os 30 segundos subseqüentes, desaparecendo aos poucos.
Oliver Queen sabe o que está acontecendo e se levanta,
contrariado, para assistir ao espetáculo. Repentinamente,
tudo acaba. Quando a fumaça se dissipa, doze homens estão
no chão, desacordados. O Arqueiro salta dos engradados
e começa a colocar os corpos juntos.
Tá legal, o showzinho acabou. Pode sair para a luz
que eu não estou com saco pra teatrinho.
As sombras ganham vida quando uma figura imponente deixa as trevas.
Você está ficando descuidado.
E você continua metido. O que quer?
Conversar.
Sobre?
Quero você de volta na Liga.
Ah, quer? Foda-se. Estou fora.
Está com medo?
O que foi que você disse?
Exatamente o que você ouviu. Você está
com medo.
E você despirocou de vez. Sabe do que mais, não
quero ficar aqui ouvindo suas babaquices. o Arqueiro dá
as costas para o Homem-Morcego e prepara-se para sair Vou
chamar a polícia e dar o fora daqui. Vê se me esquece.
Você não sairá antes de ouvir o que
eu tenho a dizer.
Virando-se com surpreendente velocidade, o Arqueiro dispara uma
flecha na direção onde o Batman estava. A seta passa
no vazio. Um potente cruzado de direita joga Oliver Queen a dois
metros de distância. Ele cai pesadamente, as flechas espalhando-se
pelo chão. O homem de negro coloca-se à sua frente.
Se você já acabou com a palhaçada,
podemos conversar.
Já disse que não quero saber! Pra que orelhas
desse tamanho se você é surdo?
Preciso de você na Liga.
Por quê? Mais um para o seu grupinho de super-fascistas?
Tô fora!
É exatamente por isso que preciso de você.
Não entendi.
Esta é a mais poderosa formação da
Liga da Justiça já criada. Poucas vezes tanto poder
foi reunido numa só equipe. E o poder absoluto corrompe
absolutamente.
Mais uma razão para eu querer distância.
Não, mais uma razão para que você se
junte a nós. A Liga da Justiça está carente
de humanidade, Oliver. Pessoas normais, que enxergam o mundo do
ponto de vista das pessoas comuns, não do alto de sua divindade.
Alguém que ligue o grupo à realidade que está
além das ameaças cósmicas e dos maníacos
com ilusões de grandeza. Não conheço ninguém
melhor do que você para fazer isso.
E você?
Sua percepção da realidade é... melhor
do que a minha.
Pensei que ia morrer antes de ouvir isso. Mas minha resposta
continua a mesma. Não preciso da Liga da Justiça.
Precisa. Desesperadamente. Você está se expondo
cada vez mais a riscos desnecessários. Morrer não
é a solução, Ollie.
Besteira! Se você pensa que vou pirar como Hal, está
muito enganado!
Você se culpa pelo que aconteceu a Jordan, mas não
tem nada a ver com isso. Cada um faz suas escolhas, Oliver. Você
sempre fez as suas, não importando o quanto isso o ferisse.
Você sabe que estou certo. Junte-se a nós.
Oliver Queen pensa nas palavras do Homem-Morcego. Talvez, neste
momento, a Liga da Justiça seja aquilo de que ele precisa
para ajudar a superar o sentimento de perda que o assola desde
que todos a quem amava o deixaram só.
Tá legal, tá legal... Qualquer coisa para
você parar de encher o meu saco.
Ótimo. Entraremos em contato.
Peraí, você vai saindo assim? Não vai
me ajudar com essa bagunça? o Arqueiro olha para
os traficantes caídos Pelo menos amarra uns dois
ou...
Oliver Queen está falando sozinho.
Eu odeio quando ele faz isso.
:: Notas do Autor
* Como visto em Justiça Jovem.
** Ocorrida em LJA # 03.
*** Melhores do Mundo #20, editora Abril.
**** Melhores do Mundo #18, editora Abril.
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