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Harry Potter Especial

Por Fernanda Aquino

Apenas Mais um Fim de Semana

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Parecia apenas mais um fim de semana de verão, na casa número 4 da rua dos Alfeneiros, Little Whinging, Surrey.

Duas crianças corriam pelos gramados; estes faziam Petúnia Dursley gabar-se a altos tons que os tratava "melhor que qualquer outro".

— Pare já com isso, seu moleque! — bradou Valter Dursley, que sentado à mesa com Guida, sua irmã, bebia conhaque.

— Mas eu não fiz nada...

— Eu vi muito bem quando você tentou derrubar o Duda! Você pensa que eu sou besta, ou algo parecido?

— Eu não estava tentando derrubar ele! Nós só estávamos...

— Chega! Não quero mais conversa! Já para o armário!

— Mas lá é muito quente! E nós estamos no verão!

— Pare de gritar comigo! E vá logo antes que eu resolva lhe arrastar pelas orelhas!

O menino Harry Potter sempre fora pequeno e muito magro. Vestido com as roupas velhas de seu primo Duda, que tinha quase o tamanho de um filhote de elefante, parecia pior ainda. Ele também tinha os cabelos negros e desgrenhados, e os olhos muito verdes. Harry era filho de Lílian e Tiago Potter. Quando eles morreram, "num acidente de carro", Harry tinha apenas um ano, e acabou sendo deixado sob os cuidados de sua tia por parte de mãe, Petúnia.

"Por que eles me tratam desse jeito? O que eu fiz de errado? Eu e aquele porco de peruca estávamos apenas brincando... e dessa vez ele nem tentou me bater..."

Harry estava agora com 8 anos, assim como seu primo, mas sempre fora tratado como um animal imundo pelos tios. Acabava sempre com os restos: as roupas velhas do primo; os presentes que Duda não quisesse; ou aqueles que ele tivesse quebrado e já não serviam para nada. Ninguém, porém, sabia, que quando Duda quebrava algum brinquedo e seus pais o davam ao pequeno Harry, ele conseguia fazer mágicas com aquele objeto...

No outro dia de manhã, Harry acordou com as costumeiras batidas de Petúnia à porta.

— Acorde logo! Vá colocar o café na mesa e termine de fritar o bacon! — gritou tia Petúnia.

Harry gemeu. Seria mais um dia daqueles...

Em direção à cozinha, ainda cochilando, quase foi esmagado contra a porta, quando Duda desceu correndo pela escada, e pareceu nem vê-lo ao entrar na cozinha.

— Eu quero o meu bacon! — gritou esganiçado a rolha de poço.

— Calma, Dudinha querido, o Harry vai terminar de fritá-lo. — disse a tia, olhando com aquela cara de cavalo para Harry, que acabava de se recuperar do quase esmagamento e entrava na cozinha arrastando os pés.

Depois do café, Harry voltou para o seu armário e ficou ali, a contemplar as aranhas que teciam suas teias, cada dia mais, tomando o espaço onde Harry dormia toda noite. De repente, ele levantou assustado, sua cabeça bateu na escada acima e seus olhos se encheram de água.

Moleque! Chegue aqui agora!

Era seu tio, raramente seus tios o chamavam pelo nome. Mas ele já se acostumara àquilo, apesar de em muitas noites ficar até tarde acordado, pensando em como seria sua vida se ainda vivesse com os pais.

Subindo rapidamente as escadas, para que seu tio não achasse que ele não queria atender seu chamado, chegou logo ao quarto principal de Duda.

— Diga, tio...

— Não fale comigo desse jeito, moleque! Nós não lhe ensinamos bons modos? Você tem que responder "em que posso serví-lo, tio Valter?".

— Em que posso serví-lo, tio Valter? — disse maciamente Harry, que não estava com a menor vontade de passar mais um dia de verão trancafiado no armário.

— Tome. O Duda, meu filho querido, acabou sentando em cima desse carrinho e como ele caiu de uma vez, as rodas e a porta desmontaram.

Seus tios nunca admitiam que o filho parecia mais um filhote de elefante que uma pessoa normal, viviam a dizer que não queriam mesmo "um filho magrelo que não agüentasse peso" e que Duda tinha "apenas ossos grandes". E olhavam de esguelha para Harry.

— Tá.

Tá? Eu e sua tia sempre lhe demos o que você precisa para viver, damos-lhe roupas e brinquedos e você responde com um "tá"? — de repente seu rosto parecia ter inchado e virado um tomate de tão vermelho.

— Desculpe, Tio Valter, muito obrigado. — frisou bem as palavras antes de se retirar para o quintal. Era melhor não contrariar tio Valter, ele já parecia estressado o suficiente, como se fosse capaz de quebrar um carro com as próprias mãos.

E mais uma vez, Harry não sabia como, quando recebia aqueles destroços — que um dia já haviam sido um brinquedo — e tentava realmente se divertir com eles, acontecia algo extraordinário e o objeto tornava-se novamente um brinquedo, como num passe de mágica.

Ele nunca ousara mencionar isto aos seus tios, por dois motivos. Se eles soubessem disso, provavelmente, os brinquedos quebrados de Duda iriam direto para a lata do lixo dali em diante. Segundo, os Dursleys não gostavam muito de coisas além da compreensão racional. Qualquer manifestação que parecesse acima do normal, eles tomariam como algo profundamente ofensivo, ou seja, se soubessem dessa história dos brinquedos, Harry ficaria trancado no armário por um mês.

Com grande alegria, antes ocultada do seu tio ao receber os destroços, Harry se enfiou atrás de um arbusto nos fundos da casa e começou a brincar.

Assim que ele chegou a um local onde não podia ser visto por ninguém, o brinquedo retomou sua antiga forma de carrinho. Harry passou horas e horas ali, se divertindo como se nunca tivesse visto um brinquedo antes. Era bem verdade que raramente os tios o deixavam ter um momento de folga para que pudesse ao menos tentar se divertir, mas quando Harry os tinha, aproveitava como se fossem os últimos momentos de sua vida.

Seus tios, dentro da cozinha, se indagavam curiosos. Era a primeira vez que percebiam que Harry realmente se divertia com os brinquedos quebrados de Duda.

— Como está se divertindo tanto, o que será que ele está fazendo lá? Algo bom não deve ser, anormal do jeito que ele é, com sangue daqueles... daquelas aberrações que eram seus pais. Nada que se adeqüe ao resto da sua família, Petúnia, mas sua irmã não era flor que se cheirasse, e aquele marido dela...

— Eu sei, Valter, querido.

— De qualquer jeito, não estou gostando disso, já está anoitecendo e é hora do café, vou mandar aquele moleque folgado vir colocar a mesa.

Harry estava tão entretido com aquela diversão, que nem ao menos percebeu quando seu tio chegou.

— Vá colocar logo o café, moleque.

Harry tomou um susto, seu tio veria o carrinho de Duda inteiro, e com certeza lhe daria um bronca enorme.

— Eu ju-juro que não f-fiz is-isso...

— O que, moleque?

O brinquedo voltara à forma normal, Harry sabia que ele voltaria, mas isso só acontecia quando ele cansava de brincar. Como o tio chegara de surpresa, ele pensou que o carrinho ainda estivesse inteiro.

— Na-nada... nad-da...

— É bom mesmo! E vá logo colocar o café, sua tia precisa de ajuda na cozinha! Você passou a tarde toda brincando! Não posso mais lhe dar nenhum brinquedo, moleque, você nunca se acostumaria a dividir as obrigações com o lazer! Já vi que se continuar lhe presenteando com os brinquedos do Duda, você vai acabar um folgado, acomodado como o seu pai!

— Não fale assim do meu pai! Ele não era...

O quê? Como se atreve a me contradizer? Você nem ao menos viveu para saber o que seu pai fazia! E ele era, sim, um acomodado! Não trabalhava, era um desempregado!

Harry não sabia nada sobre os pais, evitava-se falar deles naquela casa, ele nunca ouvira sequer mencionarem o nome deles sob aquele teto. Mas sempre que ouvia falar mal deles, sentia uma queimação no peito, o que era necessário para saber que nada era verdade.

— E vá rápido para a cozinha! A Guida deve chegar cansada do passeio que foi fazer ontem.

Harry se deu por satisfeito e resolveu guardar o carrinho no armário. Como dissera seu próprio tio, ele não receberia mais nenhum brinquedo e era melhor guardar aquele para que, quando estivesse muito triste, pudesse ao menos observá-lo, mesmo que às escondidas, dentro do seu armário.




 
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