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Homem-Aranha Especial

Por Cesar Rocha Leal

Hora de Falar Sério

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"Passei o dia todo acreditando que alguma coisa estranha irá acontecer. Não que minha vida seja muito normal, afinal aprendi a duras penas que grandes poderes trazem... nah! Acho que você já sabe disso, não é mesmo? Afinal, esse lema foi uma herança de tudo o que me formou."

"Mas estou fugindo do objetivo dessa nossa conversa. Mesmo correndo o risco de parecer estranho, vou falar para você uma série de coisas que são óbvias, mas que precisam ser ditas, para que eu exorcize essa sensação. Meu nome é Peter Parker, fotógrafo, mas as ações que realmente fazem diferença para o mundo são as que cometo na identidade de Homem Aranha."

"Deslizar por teias entre os prédios é algo tão fácil para mim quanto andar de metrô para algumas pessoas. Um fato simples e que ninguém pensa o quanto é diferente para muitos outros no mundo. Às vezes percebo como o gingado resultante de minhas mudanças de direção no ar parece estranho, e como muita gente fica nas janelas de Nova York olhando para mim, e como sempre só consigo lidar com essa estranha situação da mesma forma... sendo engraçado... ou, tentando, pelo menos. Como essa mulher aqui ao lado, por exemplo."

— Putz, do jeito que a senhora me olhou, pensei que o passarinho estava fugindo pelo zíper do uniforme.

"Deixo a mulher tentando entender o que disse para virar a esquina no teto do Yorker Advanced Inn. O telhado baixo da construção é convidativo para uma parada e respirada de ar puro, ou o mais puro que essa metrópole pode ter."

"Lembro de muitas coisas de nossa vida em conjunto, e penso se estou agindo de acordo com que seria certo. Meu humor adolescente quando estou como Aranha é uma fuga de situações em que, quase sempre, estou enfrentando a morte. Poderia dizer que é uma fuga natural de minha personalidade, mas quando jovem tinha vários problemas de relacionamento com outras pessoas e nunca fui engraçado, apenas solitário e triste... Se posso chamar ser o nerd vítima dos valentões de plantão e sem qualquer amigo de 'problemas de relacionamento'."

"Pensando bem, vejo que comecei a ser 'engraçado' quando percebi que minha vida de herói poderia me fazer não voltar mais para casa, pelo menos fora de um saco. Irrito muita gente com essa atitude, e muitos dos meus 'colegas de trabalho' não conseguem me levar a sério exatamente por causa dessa incapacidade de não deixar passar a piada, mesmo no momento mais tenso. O Thor, por exemplo, adoraria descobrir que o Electro teria me deixado mudo pelo resto da vida... mas também, com tantos 'vós' e 'sois' em seu vocabulário, chamar o Doutor Destino de enlatado deve parecer o fim da picada."

"O pior é que nem tudo que faço é resultando das responsabilidades de meu poder. Muitas vezes enfrento bandidos e vilões 'meia-bocas' simplesmente porque é divertido... e acredite, é muito divertido de vez em quando. Eu poderia achar que..."

Ahhhh! Socorro! É o Rino!

"Bem, lá vou eu de novo para o nível da rua. O Rino é muito mais forte... apesar de eu poder levantar um carro sem nem suar, o feioso pode me partir em dois com a maior facilidade... se eu deixar."

— E aí, chifrudo? Tô vendo pelo chifre que você ainda está casado com a mesma mulher...

"Enquanto falo, ajo rapidamente. Salto para todos os lados, acertando ocasionalmente um murro ou outro; eles não têm efeito algum na couraça do gigante, mas servem para deixar o dito-cujo irritado o suficiente para esquecer os inocentes a seu redor."

— Aranha? Eu devia saber...

— Há! Já notou que toda vez que alguém aparece para acabar com a festa, algum de vocês sempre diz a mesma coisa? Claro que deviam saber, isso sempre acontece e ainda voltam para apanhar mais.

— Eu provarei que desta vez não será nem um pouco fácil...

"Desvio de um poste de luz enquanto verifico se não há ninguém no caminho do projétil. Bem, vou continuar com as piadinhas, pois o Rino é muito burro, e a guerra psicológica de minhas piadas consegue deixá-lo mais irritado do que outros inimigos. E um brutamontes irritado prestes a fazer alguma burrada é uma grande vantagem neste ramo..."

— Com uma mira destas vai ser difícil, hein, compadre?

Aaarghh... Fica parado, maldito!

— Tá, pode deixar que eu fico parado para você poder me esmagar mais fácil... dãã...

"Opa... peraí... aquela menina está muito perto do sacana, se ele..."

— Ahá. Venha cá, pequena...

— Não... eu quero minha mãe!

— Você vai ver sua mãe. Assim que o Aranha parar na minha frente e me deixar socá-lo, eu te solto.

"Algo acontece comigo nesta hora. Eu rio para me esquecer do perigo que corro, para deixar meus inimigos desconcertados, para ser simplesmente um chato. Mas tem algumas horas em que isso não é possível, em que a coisa fica séria. Eu não gosto quando isso acontece; me lembra quando ocorreu a morte de Gwen Stacy e não consegui salvá-la."

— E então, Aranha? Não tem mais piadinhas, não é?

"Minha linguagem corporal muda, sinto tensos até meus cabelos por baixo da máscara. E, por mais que os olhos grandes de meu uniforme me deixem parecido com um personagem de desenhos animados, minha postura não deixa dúvida da mudança de humor."

— Como é, carinha? Faz piada agora...

— Sem piadas.

— Ah, então agora o burro do Rino ficou importante... por causa da garotinha.

— Solta ela.

— Só se você deixar eu te acertar... Bwa-ha-ha-ha-ha!

"O que acontece a seguir é muito rápido, nem mesmo percebo conscientemente o que faço. Salto alto, muito alto, e enquanto Rino olha para mim, lanço uma teia para o prédio mais próximo. O idiota olha para o local onde acertei a teia. Ele espera que seja um truque ou uma rota de fuga, mas na verdade... não é nada. Eu solto a teia. Ela cumpriu sua função de distrair o otário e, com uma gingada das mais estranhas, mudo a direção da queda para bem no meio das fuças do brutamontes."

"Rapidamente, aproveito a surpresa do grandalhão e arranco a garota de suas mãos. A menina grita muito, mas eu não ouço absolutamente nada além da pressão sangüínea em meus ouvidos. Usando a cara do idiota como apoio, salto para longe dele."

Maldito! Você me paga! Vou atropelar você e essa franguinha!

"A garota está em pânico. Temo pelo estado de choque e pelo trauma posterior..."

— De jeito algum. A situação perdeu a graça...

"O gigante vem em minha direção. Tento não balançar muito a menina que está em meu braço esquerdo enquanto lanço uma teia na tampa do bueiro no caminho. Com um rápido puxão, que parece arrancar o braço de meu ombro, retiro a tampa do bueiro na hora em que o Rino está com o pé em cima dela. Ele tropeça, sua perna entra no buraco aberto e ele se arrebenta... feio."

"Por mais dura que seja a couraça do Rino, a porrada é forte o suficiente para deixá-lo desacordado. Deixo a garota no chão. Ela me parece melhor, mas não muito. Mas está viva. Isso é o suficiente para meu bom humor voltar."

— Espero que a polícia consiga separar esse cara do resto do esgoto.

"Eu vou embora. Me sinto bem. Mais uma vez entrei naquela dimensão séria em que as piadas me escapam e que minhas ações determinam se um inocente... uma criança... irá morrer. Sabe, eu comecei o dia sabendo que algo iria ocorrer. Estava reafirmando o que sou para me sentir melhor, acreditando que as responsabilidades dos meus poderes vêm apenas do remorso de não tê-los usado corretamente no início. Mas não, a responsabilidade é mais do que agir quando se deve, é ter consciência de que, ao fazê-lo, mudo vidas, e para melhor."

"Obrigado, tio Ben. Mais uma vez percebo o quanto sua criação fez diferença, não por causa do nerd amedrontado ou do herói piadista... mas do homem, consciente do que pode fazer e de quando deve... falar sério."



 
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