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Eras de Ouro - Motoqueiro Fantasma - Anos 70

Por Conrad Pichler

Também Conhecidos Como:
Motoqueiro Fantasma, Blood & Cavaleiro Negro

Dois dias antes do Show, Blaze e sua moto no Mojave:

"Estou correndo muito, mais de cem por hora nesta noite escura das rotas que cortam o Mojave, o maior deserto dos Estados Unidos da América. E tudo que eu posso ver é escuridão... ouço o ronco do motor e, às vezes, um uivo distante de um coiote faminto... mas, mais faminto estava meu coração, estava faminto de uma velocidade que nem minha moto podia me dar, a sensação de estar tão rápido que..."

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Um dia antes de Show, Blaze e os pueblos:

"Passando pela porta semicircular da casa para o interior de densa sombra, vejo a porta que me parece apenas um borrão de luz... vejo uma silhueta se iluminar no interior, uma cama e alguém deitado sobre ela com uma voz sotaqueada e engraçada, dizendo palavras de rimas fáceis. Ele fala do meu velho e de como eu odeio ter de amar ele cada vez mais. O que me fez chegar ao cúmulo de pedir a cura para um câncer a esse curandeiro embriagado de tequila mexicana que talvez, ainda, estivesse dançando com Lucy num céu de diamantes.

Em resposta:

'Não.'

Só isso."

Ainda nesse dia, no Velho Possuído, o Mojave, Blaze adentra cambaleante:

"Estou cansado de caminhar pelo deserto... Me deito com uma serpente vermelha, em profundo sentido de prazer da carne, nestas areias mais quentes do que esse réptil poderia conceber. Eu vesti sua arapuca e sei agora que ele me encontrou no meu profundo. Essa serpente me fez ver que tinha mais fogo nos ossos e entranhas do que eu podia imaginar."

Naqueles dias dos anos 70, havia modos de se fugir da realidade:

"Dois integrantes de uma seita dita satânica morreram esta noite em um show da banda de rock'n roll Black Sabbath. Depois de simularem um ato de sexo explícito, eles participaram de uma boscheana cena de sacrifício humano, na qual tiveram seus órgãos sexuais e dedos amputados. Cremados vivos, encontraram-se vestígios de uma seção de drogas ilícitas e álcool na cena do crime.

O sangue das vítimas/suicidas foi usado, ainda, para transcrever citações às letras do grupo, dedicadas à uma Madame Svleta e Anton Levey.

Em um anúncio extra-oficial, os integrantes da banda apenas assinalaram que tiveram problemas com Madame Svleta, no final da década anterior, no início da banda. De Birmingham, Charles Day."

Correndo da realidade, dentro do globo da morte, Blaze veste o capacete:

"Essa noite eu estréio o show do meu velho. O globo da morte. Ele realizava o salto sobre carros no espetáculo externo, mal saiu da cama e...

"A gente sempre quer virar herói de meia dúzia de duros que não podem ir ao cinema. Tá todo mundo querendo manter uma certa ordem na mente, por que não sabemos que pode acontecer no minuto seguinte. Talvez a gente vá pelos ares essa noite numa explosão atômica ou ainda metade dos velhos podem descobrir que seus filhos estão indo para a discoteca. Não só para dançar ou curtir um rock, mas para se chafurdar no pó, nas bolinhas e nos comprimidos coloridos. Esse também é meu barato, mas fico até arrepiado de pensar o que faria se soubessem que suas meninas já não são virgens de sacrifício e que estão tão rodadas..."

"Como agora, quando Roxanne passa diante de mim e eu posso sentir seu perfume adocicado, eu percebo que só ela poderia valer tanto a pena para eu continuar ao lado do meu velho que me odeia..."

Numa arquibancada alta, o canto mais distante do picadeiro, um homem negro se esconde:

"Detesto dizer que ele tem razão, esse país é um circo."

"Camboja. Há menos de um ano. Eu estava sendo transferido preso numa maca para o agrupamento especial da Cruz Vermelha e via os olhos daqueles médicos amarelos olhando para meu peito todo aberto e fazendo cara de nojo. Um enfermeiro vomitou o chão todo, eu pude ver tudo. Mas não ouvia nada com o zumbido da bomba que explodiu a cinqüenta metros de mim. Eles erraram o alvo... Só pode. Por que apenas nós temos napalm."

"É, ele tem razão, esse povo tem que se esconder em algo do tipo 'qualquer-coisa-idiota-e-bizarra-que-vai-me-fazer-esquecer-do-meu-filho-que-voltou-da-guerra-sem-o-nariz'... Sem honra, porque senão fica difícil até de respirar. "

"Acho que é por isso que eles te dão uma bala de ouro, quando você volta... Acham que isso compra quem você perdeu, te compram da mão do demônio..."

Na noite anterior ao show, o salto sobre carros de Crash Simpson:

— Ele vai até o final da rampa, sua moto envenenada esquenta, esse é Crash Simpson do Crash Simpson's Daredevil Cycle Show! Ele vai quebrar o seu recorde: 'o maior salto, sobre o maior número de carros enfileirados'. Ele está sentado sobre 500cc, ele parte! Deslizando sobre a rampa e salta!!! Esse é o maior espetáculo que vocês verão... Crash Simpson aterrissou!!! Meu Deus, ele foi arremessado! Meu Deus! Chamem a ambulância, Jesus, chamem alguém... chamem..."

— ...

— Blaze? — é a voz da serpente do deserto.

— Sim?

— Você me deve... — é ele.

— Sua desgraçada, você matou meu velho. Ele se esborrachou naquela pista, sua desgraçada...

— Não adianta correr para cima de mim, Blaze, você sabia, sempre soube... que quando ele fosse... ela seria minha... — se tivesse mão ela estenderia.

— Seu... foda-se, desgraçada! Eu escolho para onde vou, eu faço as minhas regras...

— Você escolheu a mim, Blaze. Sua alma agora sou eu! — ele está certo.

O veterano conta como é o show da noite:

"O mestre de cerimônias chama a todos, anuncia o que vai ter a noite toda. Depois, uma a uma, as atrações passam pelo picadeiro. Até que no fim, o mestre volta e anuncia que tudo acabou, que o sonho já se foi e que vamos ter de pisar na lama que está a volta."

"Acho que é sempre assim. Umas mulheres fazem acrobacias, revirando e torcendo os corpos achando que os homens estão pensando em como elas podem fazer aquilo. Mas, de fato, só pensam em quantas posições eróticas aquilo poderia virar."

"Os animais e todas as aberrações gostam de desfilar na nossa frente, o tempo todo, só para gente pensar que tem uma vida melhor do que aquela que a maioria vive! Mentira! Os mágicos são como aqueles velhinhos que vivem de aposentadoria; ou os veteranos de guerra que vivem sem as pernas achando que serviram a pátria, mas servem mesmo é para pedir esmola nas esquinas. Cadê suas balas de ouro?"

"Mas eu tô aqui por causa daquele cara que corre no Globo da Morte. Tem coisa mais imbecil? Um cara de seus 19 anos que corre, corre, corre com toda a ira do mundo no peito e nunca, nunca, nunca sai do lugar. É, é assim que são nosso jovens hoje em dia... não saem do lugar! Com toda a ira do mundo no peito. E eu sinto, como a precisão de uma fria lâmina, que é por ele que eu estou aqui."

"E a nossa volta, a lona furada não nos protege da chuva. Lá fora, apenas a lama... eu me pergunto 'por que a gente continua olhando pro picadeiro?'"

O Globo da Morte:

"Correr, correr, correr para todos os lados e direções e continuar aqui... eu não tenho mínima idéia de para onde é o alto ou o baixo, o leste ou o oeste, norte ou sul... esse é o globo da morte, essa é minha vida... até que tudo explode em chamas e todo aquele lugar é resfriado como no inferno. Sim, o inferno é frio!"

"Dum lado eu vejo um homem barbudo vestido suas camisas amarelas e um colete vermelho. Parecia sujo e velho como uns hippies que rondavam cada cidade deste pais. Mas outra figura apareceu. O homem negro que se aproximava com um sobretudo mancava. Ele tirou de debaixo de sua roupa uma grande espada negra que brilhava. O hippie ruivo de costas ligeiramente arcadas apenas acompanhou o negro com os olhos até ele chegar no centro do picadeiro; sim, era ele o ruivo. Era o curandeiro pueblo de voz rimada..."

"Mas foi só aí que percebi que todo o lugar estava iluminado por chamas e que tinha meu sangue espalhado pelo chão, escorrendo por todo canto e as chamas eram firas e vermelhas e meu sangue pegava fogo como aquilo. Mas eu não ardia, tremia, tremia. Queria poder correr."

A flor de fogo se abre, dentro do globo da morte, no coração de Blaze:

"Quem disse que o tempo não pára? Pára sim, pára. Eu queria que as pessoas pudessem ver essa cena, um moleque correndo dentro do Globo da Morte se desabrochando em uma flor de fogo, a flor da morte que se abriu pra nós. Era todo o perfume do fogo, como gelo é a própria encarnação do anti-napalm. Era o inferno, o inferno era o anti-napalm! Mas que continuava napalm."

O velho curandeiro Pueblo sussurra seus versos nos ouvidos daquele que sobreviveu da guerra, o veterano:

"O fogo resfria todo esse lugar e eu vejo esse moleque vomitar seu sangue que entra em combustão espontânea. Espalhando-se por tudo. E eu aqui só com esse pedaço de metal na mão. Essa lâmina preta. Toda aquela chama derramada sobre aquele garoto que não é mais que uma caveira, um saco de ossos deitado no chão vomitando sangue..."

"O tempo parou, ele pára. Esse picadeiro estava cheio de gente há alguns minutos, agora nem sombra. Sombras estão aqui, sim, em todos os lugares. Por que eu sinto um arrepio frio na nuca. Que demônio me espreita aqui?"

Blaze é apenas um saco de osso e chamas. Mas seus olhos vêem o curandeiro e o velho:

"De repente, parei de vomitar meu sangue. Meu corpo era apenas chamas e, então, vi mais claro que a lua na noite escura. Eu vi aquele curandeiro abraçando o velho negro sussurrando nos meus ouvidos... eu me lembrei que esse sussurrante foi o mesmo que me levou pro deserto, ele sussurrou no meu ouvido. Foi por conta daquele ruivo que eu vi aquela serpente vermelha para a qual eu me entreguei em corpo, aquela que me possuiu... Me possuiu no velho possuído... o ruivo me olhou, agora."

"Estou perto de saber seu segredo, ele sabe que eu sei que ele esteve lá quando eu devorei aquela serpente... ele fixou meu olhar e eu quase pude ouvir sua voz me dizendo para dormir, mas eu quero é correr."

"E eu corro para cima dele quase sem perceber, como quem move as próprias pernas. Eu subi na moto embebida de sangue e chamas e saltei sobre os dois. O velho descambou pra a direita, o ruivo para a esquerda, e com um movimento ele me lançou para longe da moto... e eu senti meus ossos rangerem... mas o frio desse fogo me conforta... e eu salto sobre ele, eu não posso parar, eu corro!"

Blaze ataca o curandeiro ruivo. O veterano não pode ver isso:

"Esse saco de osso nesse mundo de anti-napalm; ele ainda tem forças para saltar sobre mim com aquela moto que despenca no chão roncando e arfando. Esse moleque que vomitou todo o seu sangue tem forças para lutar contra a própria frigidez de suas chamas. Ele luta contra ele mesmo e se debate no chão a minha volta."

"Então, o tempo está parado e frio. Eu me concentro e tudo parece mais claro agora, numa câmera lenta. Eu posso ver a espada negra que está deitada na minha mão. Ela tem um brilho todo especial nesse picadeiro. Ela reflete todo o jardim de flores de fogo e morte. Me sinto estranho, como se a pouco estivesse tomado, possuído, mas agora já não sinto mais aquele peso nos ombros... e eu posso ver, nesse brilho estranho da lâmina, que aquele moleque do Globo da Morte não está sozinho. Aquele saco de ossos briga com outro saco de estrume, um hippie de camisa amarela que sorri nefasto... é, eu posso ver como não pudera ver antes, que as chamas se rendem a minha negra lâmina que se embebeda delas... eu posso ver que aquele rapaz não merece morrer, mas não merece ser o coração negro deste mundo..."

Blaze vive num mundo de contradição... como o próprio mundo que está em contradição a sua volta:

"Meu olhar estava naqueles olhos vermelhos, eu queria que ele sentisse tudo... do meu ódio/amor que me fez entregar-me pelo meu pai que me odiava, da dor de ter todo seu sangue expulso de seu corpo e ser queimado pelo gelo do fogo. Eu queria que ele soubesse como é ver sua alma sendo expurgada do seu corpo porque você queria que seu pai estivesse mais um dia ao seu lado. Mas ver, no fim, que seu velho também está sendo expurgado para o inferno junto com você. Eu queria que ele pagasse!"

O veterano pode ver mais cadáveres diante dele do que "um saco de ossos e chamas". Ele vive uma guerra:

"Venderam tudo que a gente tinha, eu estava nu e não sabia... Voltei andando da Ásia, foi assim que me pareceu. Eu vi mais que uma foto de uma garotinha queimada de napalm. Eu vi mais que uma cena de enterro em Arlington... é, eu vi."

Blaze vendeu sua alma pelo odiado amor que sentia pelo pai:

"Quando Crash me encontrou, ele me abraçou e me disse que eu ia fazer o Globo da Morte. Não era um sonho meu, mas o dele, e fiquei feliz, não sabia que podia ficar feliz vendo ele feliz."

O veterano e a Espada Ébano:

"Eu nunca me vi feliz, me iludi vestindo de verde enquanto as cordinhas me balançavam como marionete e então um dia eu entrei numa loja de armas, queria uma Colt antiga, ia usar a bala de ouro que ganhei, ia usar ela para me tirar da mão do demo, ou me colocar mais ainda nessas garras. Mas vi que tinha uma lâmina novinha, ali num canto brilhando. O lojista me disse que era da Idade Média e que tinha sido de seu tio inglês que lhe trouxe sorte... Ele me emprestou. Por que? Porque, senão, eu ia usar minha bala de ouro nele..."

Blaze agarra com unhas o aliado intimo e hepático do ruivo curandeiro:

"Meus olhos explodiram em chamas e eu quase pude tocar sua alma, mas então vi que o ruivo não estava sozinho... que havia mais uma sombra amarela dentro dele com olhos vermelhos e ele sorriu. Me cantou uma musica como um folk antigo que Crash ouvia no rádio... ela me contava que eu tinha sido seduzido por uma dama obscura das profundezas... eu me vendi e a Crash também; mas o que ele não sabia é que aquela dama também o queria... então projetei meu olhos de fogo para dentro desse demônio e ele, sorrindo, cantou sua liberdade..."

Espada Ébano:

"E essa lâmina pesa na minha mão. Até agora ela pesa. A lâmina se embebeda das chamas e o saco de ossos abraçado com o demônio amarelo. Eu entendo que se aquelas chamas que o motoqueiro francamente derrama para dentro do outro só fortificaram o espírito maligno dentro da pele do ruivo, ele se sente ainda mais em casa... ele sai para esse picadeiro e se sente em casa... esse mundo é sua casa, esse picadeiro em convulsão é seu lar... e as chamas de uma intensidade não cessam há dez anos ou dez mil..."

Olhar da penitência:

"E ele já está tão próximo das minhas mãos, eu posso tocar sua pele pegajosa e hepática... e ele resfria e urra com o fogo do inferno, ele está num gozo profundo de felicidade, mas meus braços pegam-no e com meus olhos eu tento carboniza-lo em chamas frias e ele explodirá diante de minha dor... essa é sua penitência!"

O show chega ao centro do picadeiro:

"Abrem-se as cortinas. Senhoras e senhores, sobre esse picadeiro contemplem um jardim de dor e de flores de fogo. E esses dois artistas se digladiando em ossos e sangue..."

Um caminho de chamas e ossos para o lado de fora:

"Agora que eu o pego no pescoço ele me joga sobre o velho, que eu já havia esquecido estava ali. O hepático avança, invocando as chamas para dentro de seu olhar. Eu o libertei e ele canta sua liberdade... ele me sacode no ar e joga violentamente contra o chão. Eu que não tinha mais sangue, pus para fora chamas e ossos..."

A Lamina Ébano, que devora todo o mal, não pode ficar embainhada:

"Me lembrei que a lâmina estava o tempo toda morta em minhas mãos, mas sua lâmina a cada momento esquentava mais e mais... a ela transformava o frio inferno em um calor esperançoso. Então eu percebi que a espada não poderia jazer morta, mas deveria viver a batalha. Eu sacrifiquei as costas do coitado do moleque e aquele saco de ossos e chamas sangraram novamente... eu sabia, as chamas se extinguiam e no seu lugar todo o sangue regurgitado voltava a seu lugar, o amarelo me olhou espantado com o grito de dor, eu só pude sorrir comigo e..."

De volta a carne:

"Esse velho me arrancou as costas, mas eu não posso deixar minha vingança. Eu não posso deixar esse espírito de vingança se extinguir. Eu o jogo para longe e esse demônio me agradece com seus olhos de lava... então ele me arranca os ossos do peito, com as garras. Mas o velho já está entre nós..."

Ela corta e destrói, devolve a carne, expulsa o demônio. É a Espada Ébano:

"Eu não posso parar com essa espada negra na mão, eu não posso parar de cortar e retalhar... eu, a cada golpe, extirpo uma velha memória e deixo escapar minhas lágrimas, deixo correr as meninas queimadas e os jovens soldados amputados da guerra, eu deixo tudo cair no chão. Assim como o sangue do moleque e as vísceras do demônio... até que eu vejo que todas a minhas lágrimas recaem sobre um corpo... o corpo do ruivo. E eu vejo aquela figura hepática que saiu de dentro dele e entendo que ele foi o nosso mais fiel protetor, um cofre que nos guardou da intensidade desse frio que está tomando desse picadeiro... desse mundo."

Parênteses:

"Estou quase morto e já posso ver que as chamas abriram espaço na lona do picadeiro e eu posso ver a noite... as estrelas que brilham uma luz... que reflete na lâmina do velho... e penso que Crash pode estar num lugar melhor, talvez ele fosse uma pessoa melhor e eu não ia me deixar levar... acho que posso ter meu dia melhor."

O hepático demônio está solto, o curandeiro caído e Blaze agonizante. O veterano tem a chave:

"Eu então entendi que o sangue que se espalhava no chão só rendia vitória ao demônio hepático... o nosso protetor caído tinha de se libertar e devolver o demônio para suas profundas chamas infernais, o seu ruivo coração. Eu traspassei o coração só ruivo e toda as chamas que o cercavam, o rastro que o prendia ao demônio se recolheu violentamente junto com uma forte inspiração do caído... e junto para o interior dele foi o demônio. E eu fui lançado alto com aquela fúria de chamas. Minha espada caiu comigo, eu vi o saco de ossos e também o traspassei, sua carne se moldou rápido em torno da lâmina e as chamas também explodiram..."

Blaze conhece um dom das chamas infernais:

"Eu nunca senti tanta dor. Cambaleei com peito ferido, mas cai com ele curado..."

O fim do veterano, que vislumbra a paz:

"O tempo estava parado e frio. Eu estava caído e a lâmina deitada sobre meu peito; eu via chamas darem lugar a luz uma intensa luz... e no meio delas todas, eu vi algumas crianças saírem, me beijarem a face e então tudo voltou a ficar brilhante e claro... mas foi só um segundo antes do tempo voltar a caminhar e ele não pára... não mais. E eu vou."

Rodando pelas rotas da Califórnia, o circo se vai e Blaze com ele:

"Eu apaguei... quando vi a luz de novo estava rumo ao Arizona... Roxanne chorava no pé da cama e contava que eu quase morrera no globo da morte... talvez todo aquele sangue e ossos não passasse de uma overdose, eu ainda tremia e suava frio... ela chorava e agora que Crash tinha morrido, eu odiava Blaze."

Mais uma manhã, em mais um lugar desconhecido, o curandeiro redescobre seu nome:

Ele acordou numa cama desconhecida, de novo, como a eras. Ele sentiu sua barba crescida coçar e se perguntou quanto tempo teria ficado no escuro... muito tempo, ele sabia, muito tempo, mas o que quase nunca acontecia, aconteceu. Blood sonhou com uma caveira em chamas e com muito sangue incandescente, que mesmo em memória fazia sua alma congelar... mas isso, talvez, fosse um pesadelo, assim como a música que ele ouvia no seu coração, em suas rimas cacofônicas, pele amarela e olhos de lava.

Nesses dias de cenas boscheanas, de divisões permanentes e opostas, de uma busca incessante por fugir e por se encontrar, muitos se perderam, muitos não voltaram e outros tantos simplesmente continuam.



 
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