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Detetive do Sobrenatural # 05

Por Rafael 'Lupo' Monteiro

O Vampiro Carioca
Parte I

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Meu caso mais recente foi matéria de todos os jornais. Felizmente meu nome não apareceu em nenhum deles. Vocês sabem, discrição é essencial para o negócio. Estou falando do vampiro que andou atacando a cidade no último mês. Pra quem esteve em outro planeta, várias adolescentes ou meninas com menos de 20 anos foram atacadas nos últimos meses por um alegado vampiro, que sugava o sangue delas. Não houve vítimas fatais, mas várias foram parar no hospital. Pois tive a ver com a captura dele sim, vou contar como.

Estava dormindo às 9 da madrugada no meu escritório em plena segunda-feira quando tocaram a campainha. Detesto ser acordado antes das 10, principalmente às segundas. Faço questão de dormir até mais tarde enquanto todos os otários têm que acordar cedo pra irem a seus trabalhos. Mas enfim, o chato na campainha não desistiu e acabei levantando.

Era a dona Malu, uma antiga cliente dos tempos em que eu fingia que via os fantasmas. Ela está na faixa dos cinqüenta, mas bem conservada. Dava um bom caldo. Ela estava preocupada com a filha e achou que meus serviços seriam úteis.

— Pois é, seu Almeidinha. Minha Camilinha tem 16 anos, e agora só quer saber de andar de preto. Não me conformo, ela nunca sai pra tomar sol, fica trancada no quarto o dia todo e só sai à noite. O pior é que já faz dois dias que ela anda com um lenço em volta do pescoço... tô com medo dessa história de vampiro que andam falando tanto por aí.

— Dona Malu, você tem certeza que isso não é só um chupão que ela levou de algum namorado?

A mulher se engasgou toda, tive que oferecer água pra ela melhorar. A respiração ficou ofegante, parecia até meio tonta.

— Minha filhinha... tão nova pra essas coisas.

— A senhora é que pensa! Hoje em dia essas coisas não têm mais idade pra começar, não!

Aí é que ela teve um treco. Levei-a até a janela para que tomasse um ar. Achei que devia moderar meus comentários antes que a cliente passasse pro clube dos fantasmas.

— Seu Almeidinha, queria que você a acompanhasse por um dia. Pra saber o que ela anda fazendo.

Eu, babá de adolescente? Essa mulher tá maluca!

— Esse não é o meu ramo. Não tem nada de sobrenatural nessa história.

— Mas e se for o vampiro que tá atacando a coitadinha... — pensei que ela fosse chorar, mas não aconteceu.

— Sinceramente, acho que ela deve estar só namorando, não tem nada de vampiro nisso.

— Eu pago o que for preciso...

Opa! Agora ela falou minha língua!

Cobrei um absurdo de grana, e ela aceitou. Tudo bem que chorou pra caramba pra parcelar, no que acabei concordando.

Quando chegou a sexta-feira, me preparei pra seguir a Camila. Ela era bem branquinha, alta, seios pequenos, cabelos pintados de azul escuro. Encontrou-se com algumas amigas, a maioria vestida de preto ou outros tons escuros. Foram todos a uma boate em Botafogo especializada em rock alternativo (pelo menos eu acho, música não é muito minha praia).

Acabei entrando lá. A música estava alta pra caramba, e a pista de dança era muito pouco iluminada. Era difícil acompanhá-las, mas fiz o melhor que pude. Ah sim, a bebida era cara pra cacete. Logo estava ficando entediado. Foi quando Lélio apareceu.

— Não está curtindo a festa?

Não respondi, com medo que o povo de lá me achasse louco por falar sozinho. Ele logo percebeu e falou:

— Saquei, não vai falar comigo. Tudo bem. Mas dá uma espiada no figura ali.

Era um rapaz também branco — muito branco! Vestido todo de preto pra variar, mas esse tinha um diferencial em relação aos demais: ou era impressão minha, ou o garoto estava cheio de purpurina pelo corpo inteiro (pelo menos no rosto e nos braços tinha). Percebi que o sujeito era amigo da Camila. Eles passaram a noite toda juntinhos, dançando e tal, de mãos dadas. Mas não rolou nem um beijo.

No dia seguinte, peguei mais informações sobre ele com Dona Malu. Seu nome era Eduardo, tinha 18 anos, já tinha sido vizinho deles. Fazia faculdade de jornalismo. Não falei nada com ela, disfarcei perguntando informações sobre as outras amigas também.

No escritório, Lélio resolveu aparecer.

— Seguiu minha dica?

— Tô atrás do garoto, sim. Mas me pareceu inofensivo. Na verdade, inofensivo até demais, acho que o perigo de ser macho ele não corre.

— Algo na aura dele é esquisito. Não brilha direito.

— Deve ser por isso a purpurina então.

— Fica de olho que alguma coisa ele tem.

Na segunda fui na faculdade que ele cursava. E não é que mesmo de dia o cara tava todo purpurinado? Aquilo já estava parecendo ridículo. Ouvi-o falando que iria num barzinho no Centro terça à noite, e quando esta finalmente chegou, pra lá fui.

Eduardo estava sozinho, esperando alguém chegar. Saí da minha discrição e fui conversar com ele.

— Me desculpa, mas você é amigo da Camila?

Ele olhou pra mim de alto a baixo, com um jeito meio esnobe, e respondeu:

— Conheço sim uma Camila.

— A filha da dona Malu?

— Acho que é Malu sim o nome da mãe dela.

— Com licença... — já fui sentando à mesa dele com meu chopp — você é o namorado dela?

O garoto ficou sem graça, até que por fim respondeu:

— Pretendo ser um dia o marido dela.

Engasguei, não esperava essa resposta.

— Mas não são namorados?

— É complicado responder. Eu quero namorá-la, ela também quer, mas temos um problema de visão de mundo.

— Como assim?

— Ela não aceita o fato de que quero que ambos casemos virgens.

Cuspi o chopp que estava bebendo, inclusive voou um pouco na cara dele. Todos em volta olharam para nós.

— Como é que é? — perguntei, em um tom bem elevado. O que estava ouvindo era inacreditável.

— O que tem de errado nisso, afinal?

— Meu irmão, uma menina gostosa dessas querendo te dar e você recusando? O que será que tem de errado nisso, não é mesmo?

Ele fez uma cara de nojinho impagável.

— Vem cá. — continuei — Ligue pra quem você está esperando que vou resolver seu problema. Tenho conhecidos lá na VM que...

— Onde?

— VM... Vila Mimosa, porra!

— Meu Deus! Nem pensar! — parecia que tinha chamado o diabo pra assistir a uma missa.

— Olha só, se o que você curte é homem, já não posso te ajudar muito, mas conheço quem possa. De repente o melhor é você se assumir, vai ficar muito mais feliz consigo mesmo!

— Olha só, você não passa de um desconhecido, quem pensa que é para julgar minha sexualidade?

Neste momento, Camila entrou no bar.

— OK, hora de partir.

Deixei os dois pombinhos — ou seriam morceguinhos? — por lá. Talvez tivesse sido um erro abordá-lo, mas já estava feito. Fui pro bar ao lado, que tinha mesas na rua. Fiquei lá até que eles saíssem.

Saíram de lá já tarde da noite. Foram andando pelos becos mais escuros do Centro do Rio. Segui-os discretamente, pelas sombras. De repente pararam numa esquina, e começaram a se beijar. Ou assim pensei. Logo ela deu um grito, e não foi de prazer.

Corri até lá. Eduardo estava mordendo o pescoço de Camila, e lambia seu sangue.

— Seu pervertido!

Não agüentei. Separei os dois e dei um soco certeiro no nariz do vagabundo. Minha mão ficou doendo, só que aposto que o nariz dele doía muito mais.

— Meu nariz! Porra, você quebrou meu nariz! — ele gritava.

— Quem é você, seu maluco? — Camila estava perdidinha com tudo o que aconteceu.

— Esse cara estava te machucando...

— Não! Ele é um vampiro, estava sugando meu sangue para que um dia eu possa me tornar uma também.

— Vampiro que anda durante o dia e brilha com purpurina? Que diabo de vampiro é esse?

— Ele é conhecido da sua mãe! — conseguiu falar Eduardo, que estava caído no chão com o rosto todo ensangüentado.

— Tinha que ser... ela estragou tudo! — ela falou aos prantos. Abaixou-se e foi cuidar de seu amado — Não se preocupe, querido... tudo vai terminar bem!

— Vem cá, ô mané... essa conversa de casar virgem é só porque você não tem coragem de passar o cerol na menina! Não tem vergonha, não?

— Sai daqui! Nos deixe em paz! — ela gritou.

— Tudo bem, mas aposto que é esse daí que anda mordendo os pescoços dessas meninas todas por aí! Vampiro, sei... isso aí é um espertinho!

— É mentira! Ele nunca faria isso!

— Não apostaria nisso, docinho! Vou deixar vocês em paz, mas se souber de mais um ataque, já sei onde procurar.

Relatei à dona Malu que os dois estavam apenas namorando. Não mencionei meu encontro com o casal. Um mês se passou e já nem estava lembrando dessa história quando Camila foi ao meu escritório.


Continua...




 
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