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Cavaleiro da Lua Especial

Por Robson Costa

Khonshu

É uma noite calma e, para o oficial MacAllister, até silenciosa. Chove, mas é uma chuva tranqüila. Como um delicioso banho de cachoeira. De repente, um som agudo corta a noite, chamando a atenção do policial. Ele não tem reação quando o corpo de uma garota atinge um dos carros estacionados.

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Steven Grant cumprimenta os convidados da sua festa. Alguns o parabenizam pela festa, outros o lembram de negócios a serem tratados posteriormente. Grant apenas sorri, agradece ou confirma. Ele concordou com Marlene sobre a realização da festa. Ela sente falta de tais eventos. Ele não. Após conseguir se livrar de todos, Grant vai para a biblioteca. É uma região neutra na casa, a pedido do mesmo. Ali, ele pode refletir sobre sua vida como Marc Spector, como Steven Grant, como Jake Lockley e, principalmente, como o Cavaleiro da Lua. Como um ato contínuo, ele liga a televisão, mas apenas para iluminar o ambiente. Ele não presta atenção no que é exibido. Contudo, naquele exato momento, uma edição extra do noticiário fala sobre uma garota que se jogou de um prédio na Quinta Avenida.

Grant sente pena da menina, mas não demonstra maior interesse. Serve-se de uma dose de uísque e aproxima-se da janela para ver a chuva. Esta, antes calma e tranqüila, torna-se mais forte, com raios rasgando os céus e trovões soando ao longe. Grant toma mais um gole quando um relâmpago ilumina a biblioteca. De início, ele não acredita no que vê, mas, no final, se convence. Foi uma aparição rápida, menos que um piscar de olhos. Mas, a imagem de Khonshu surgiu na janela. Ameaçador, como se cobrasse de Grant uma falha imperdoável.

Ele larga o copo e pega o interfone. Disca rapidamente o número e espera.

Alô, Marc. — fala do outro lado da linha Francês, motorista de Grant e colega de Spector nos tempos de mercenário.

— Prepare o helicóptero!

Marlene entra na biblioteca.

— Steven, as pessoas estão te procurando. Já acabou o seu tempo de retiro...

Ela não completa a frase. O aposento está vazio. Em cima da mesa, vê um copo de bebida pela metade. Um barulho que passa desapercebido de todos é ouvido por ela. Marlene aproxima-se da janela e vê o helicóptero com forma de lua, afastando da mansão.

— O Cavaleiro da Lua retornou.

No helicóptero, Spector veste o uniforme do Cavaleiro da Lua. Francês sintoniza o rádio para pegar a freqüência da polícia, ao mesmo tempo em que vários monitores espalhados exibem noticiários comentando sobre o incidente.

— Mais um suicídio, Spector! — fala Francês — Tem certeza que é necessária a atenção do Cavaleiro da Lua?

— Para Khonshu, sim. Já localizou o prédio de onde ela caiu?

— Sim. É aquele à nossa frente.

— Muito bem. Prepare os dispositivos de camuflagem e desça-me pela corda.

Lentamente, uma corda é baixada do helicóptero, com o Cavaleiro da Lua pendurado a ela. Pelo que foi levantado na imprensa e polícia, a garota caiu da cobertura do prédio. Spector salta, usando sua capa como um pára-quedas. Assim que ele toca o chão da varanda do apartamento, Francês recolhe a corda. O Cavaleiro da Lua vê que a porta da varanda da cobertura está aberta e entra no apartamento. Ele acha estranho não encontrar policiais e legistas lá. Sabe que o trabalho da polícia técnica é minucioso e não sairiam tão rápido do local do incidente. Ele reconhece que a conclusão de suicídio foi muito rápida e uma análise superficial demonstra que muito mais aconteceu lá. Papelotes de cocaína estão espalhados em uma mesinha no centro da sala. Garrafas de bebida alcoólica estão vazias.

"Aconteceu uma festinha por aqui." — conclui Spector. Em um aparador, ele encontra fotografias dos moradores do apartamento e os reconhece. O proprietário chama-se Edward Nielsen, amigo de Grant e parceiro em alguns negócios. Enriqueceu rápido. Alguém que pode ser usado para negócios rentáveis rapidamente, um interesse para Steven Grant. Em outra foto, está Margareth, segunda esposa de Nielsen, Ted, filho do primeiro casamento, e James, filho do segundo.

Spector escuta um barulho da porta do apartamento. Rapidamente, ele se esconde entre as cortinas da sala. A porta se abre e surgem Nielsen, Margareth e os dois filhos. Nielsen está irado.

— Ted, você tem idéia de quanto tive que gastar para que essa sua burrada não viesse a público e que a polícia dissesse que o que houve foi um suicídio?

O filho apenas gagueja, numa tentativa de desculpa e agradecimento, mas nenhum som é emitido. Margareth e James apenas observam calados, mas com um ar de reprovação. Spector acha que já é o bastante e se revela, jogando sobre a mesinha de centro os papelotes que encontrou. Os moradores, de início, são pegos de surpresa, mas logo Nielsen assume uma postura ofensiva:

— Mas o que significa isso? Isto é uma invasão ao meu lar!

— Esta história ainda não acabou, senhor Nielsen. — fala o Cavaleiro da Lua — Tem muitos pontos obscuros.

— Você pode meter medo para aqueles bandidinhos pé-de-chinelo que você está acostumado a prender, mas não a mim, Edward Nielsen, acostumado a encarar tubarões muito mais perigosos que você. James, chame os seguranças!

O filho mais novo rapidamente dirige-se ao interfone, mas antes que possa chamar os seguranças do prédio, o herói joga os seus dardos em forma de lua que cortam o fio do aparelho, deixando-o mudo. Nielsen pega o seu celular.

— Agora quero ver você fazer alguma coisa, vigilante. — desafia o proprietário.

Mas o telefone está sem sinal. Imediatamente, Nielsen pede para que os outros tentem, mas o mesmo resultado é obtido. Acima do apartamento, no helicóptero, Francês ligou um aparelho que bloqueia os sinais de telefone celular.

— Muito bem! — avisa o Cavaleiro da Lua — O show acabou. A hora da vingança chegou. Todos para a varanda.

Agora, intimidados e acuados, os moradores do apartamento seguem a ordem do herói e dirigem-se para a varanda. Lá, Ted se interpõe entre a família e o herói.

— Fui eu, Cavaleiro da Lua. — ele fala — Era uma colega de faculdade e chamava-se Julie. Os meus pais tinham saído para ir a uma festa e o James não estava. Então, eu a trouxe para cá, cheiramos um pouco, bebemos. E, sobre o efeito da cocaína, ela se aproximou da beirada da varanda, debruçou, perdeu o equilíbrio e caiu. Se tem um culpado aqui, sou eu.

Spector aproxima-se do jovem e pergunta:

— Por que você está mentindo, Ted? Quem você está protegendo?

— Não! É a verdade. Foi isto que aconteceu. E-eu sou o culp-pado... eu...

— Por que mente, Ted?

O jovem tenta rebater a acusação. Gagueja, balbucia, mas nada é inteligível. Ele olha para o herói e, para ele, a figura assume cada vez a forma de um fantasma ameaçador. Ele então se desespera e começa a chorar, pegando a família de surpresa. Ted agarra o braço do irmão.

— James, por favor, mais uma dose. Eu não estou agüentando mais tanta pressão.

— O que você está falando, cara? — fala James, que empurra o irmão para longe — Olha aqui, cara, não sei do que ele está falando.

Nielsen aproxima do filho mais velho, que chora copiosamente, e o abraça.

— O que está acontecendo aqui, James? — pergunta, assustado.

— Ed, não acredite no que Ted está falando. — fala pela primeira vez Margareth Nielsen — Você sabe que ele sempre foi uma criança problema, com tendência a mentir. Tudo o que ele falou é mentira. Ele e este vigilante.

Spector olha para a mulher, mas logo desvia a sua atenção para James Nielsen.

— Muito bem, James. Conte a verdade!

— Não. Não tenho nada a ver com esta história. — ele diz — É tudo culpa do Ted. Eu...

— James, pela quantidade de papelotes e bebida consumidos, não havia apenas duas pessoas neste apartamento. Houve uma "festinha" aqui, mas não foi planejada pelo seu irmão. Ela era bem maior.

James olha assustado para o Cavaleiro da Lua. Em seguida, olha em direção ao pai, que no momento só tem atenção para o filho mais velho. Tenta alcançar com os olhos a mãe, mas o herói está na sua frente. Ele tenta desviar os olhos da figura de Spector para buscar consolo com a mãe, mas parece que o herói cresce cada vez mais. No final, James não agüenta e desmorona. Cai de joelhos na frente do herói e começa a confessar:

— Ted não é o culpado. A bebida e a cocaína foram compradas por mim e mais três colegas. Estávamos aproveitando que não tinha ninguém em casa. Para a nossa surpresa, chegaram Ted e Julie e convidamos os dois para a "festinha". Eu sou o fornecedor de Ted e sabia que ele aceitaria logo. A menina também não quis passar por careta e entrou. Eu e os meus colegas combinamos então de pegar a garota. Assim, demos mais bebida para os dois. Eu sabia que Ted era fraco e logo cairia no sono, que foi o que aconteceu. A menina era mais dura na queda. Então, fomos para cima dela. Ela brigou bastante, acertou uns chutes, nos arranhou e conseguiu se desvencilhar e saiu correndo aqui para a varanda. Mas sob o efeito da cocaína e da bebida, ela perdeu a noção de espaço e acabou por se jogar pela varanda. Os meus colegas se apavoraram e saíram correndo do apartamento. Fiquei desesperado. Neste momento, o Ted acordou e eu lhe contei o que aconteceu. Ele também ficou atordoado. Assim, aproveitei para fazer uma chantagem: ele assumiria a culpa de tudo o que aconteceu, pois caso contrário, eu cortaria o fornecimento da droga. Ele aceitou imediatamente. Já está muito viciado. Ligamos para o papai e o resto você já sabe.

O silêncio cai sobre o apartamento. Apenas o choro sentido de Ted ainda é ouvido. Nielsen olha para o filho mais novo, com uma mistura de sentimentos.

— Maldito! — grita, de repente, Margareth — Você hipnotizou o meu filho para que ele assumisse a culpa. Não vou deixar que ele estrague a sua vida em uma prisão!

Margareth avança raivosamente em direção do Cavaleiro da Lua. Spector apenas desvia, porém a mulher é envolta pela capa do herói. Ela se atrapalha. Parece que está nadando em um mar totalmente branco. No fim, quando consegue se desvencilhar da capa, ela está perto da beirada da varanda. Ela não consegue parar e acaba por se jogar, como Julie. James grita em desespero e corre em direção da beirada, mas é detido pelo pai, que o abraça. Os dois jovens choram. Nielsen tenta consolá-los, mas não sabe como. Ele olha meio apalermado para Spector que nada lhe diz, nem consolando, nem reprovando.

O Cavaleiro da Lua pressiona um botão em seu cinto e a corda, que o levou até ali, surge agora para içá-lo. Ele põe o pé no estribo e começa a subir para o helicóptero, deixando a família Nielsen com o seu sofrimento e as suas reflexões. Assim que entra no helicóptero, Francês lhe pergunta da missão.

— Khonshu foi atendido, Francês. — e o herói recolhe-se ao seu silêncio, sem comentar mais nada com o amigo de longa data.




 
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