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Cena do Crime # 01

Por Marcelo Augusto Galvão

Cave Canem (*)

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Balas rasgavam órgãos e músculos, dilaceravam artérias e veias, estilhaçavam ossos e cartilagens. Os gangsters tombavam ante a fúria das armas do Justiceiro e Cão Raivoso.

Mas o trabalho ainda não havia acabado.

— Vespucci está fugindo! — o homem com a caveira branca pintada no peito mostrou o criminoso, que corria para o bosque que cercava o centro de convenções. O vigilante fez menção de mover-se, mas o homem com um cão vermelho estampado na camisa o impediu:

— Ele é meu. Eu cuido disso.

Meia hora atrás.

Aqueles quatro homens de terno e gravata lidavam com bilhões de dólares envolvendo negócios escusos por todo o país — de extorsão e fraudes na internet até prostituição e tráfico de drogas, passando por contrabando de armas, jogo ilegal e assassinatos por encomenda. Encontravam-se reunidos em um dos salões do mais novo centro de convenções de Quad Cities, como é conhecida a região abrangendo as cidades de Davenport, Bettendorf, Rock Island e Moline, ao longo da divisa de Iowa e Illinois.

Os quatro homens sentiam-se seguros ali dentro. Eles sabiam que o salão, especialmente reservado para a reunião, era à prova de escuta eletrônica. O moderno prédio de três andares, construído com dinheiro sujo do crime, era vigiado por guarda-costas posicionados nos corredores, no estacionamento cheio de carros blindados e no teto com amplas clarabóias.

Mas o quarteto enganava-se: eles não estavam seguros.

Os capangas responsáveis pela segurança no teto estavam mortos, seus pescoços quebrados. O homem que os eliminara silenciosamente estava agora ao lado da clarabóia. Uma máscara de goleiro de hóquei escondia seu rosto, apenas mostrando um par de frios olhos cinzas. Vestia uma camiseta azul com a estampa de um cão vermelho sorridente — o mascote dos Red Dogs, o time de futebol americano da universidade local — calça camuflada, luvas e coturnos. Levava na mão uma submetralhadora Jati-Matic, fabricação finlandesa, calibre 9 mm, com carregador de quarenta cartuchos.

Aquele homem era o vigilante conhecido como Cão Raivoso, responsável nos últimos anos por acabar com os negócios de várias organizações criminosas em Iowa e Illinois.

E ele estava interessado na reunião no salão abaixo da clarabóia. Especialmente interessado, na verdade, no homem que começava a falar:

— Senhores, obrigado por terem comparecido. É um grande orgulho estar aqui com...

— Corta o papo furado e diga por que chamou a gente aqui, Michael. — disse um dos criminosos, rosto marcado por rugas e pequenas cicatrizes; um charuto aceso pendia dos lábios murchos — Já é quase meia-noite e eu deveria estar na cama! Nem estaria aqui se você não fosse um Vespucci.

Vespucci! Cão Raivoso cerrou os punhos ao ouvir aquele nome. Cicatrizes dolorosas foram reabertas, irrompendo lembranças confusas. Por um instante, ele não era mais o vigilante de Quad Cities, mas apenas Jack Wheeler, um jovem ex-fuzileiro naval. Ele viu-se de novo conhecendo a bela Claire Carmonti, por quem se apaixonaria. Reviveu os momentos felizes que passaram juntos.

E também reviu o brutal assassinato da moça a mando dos irmãos Carlo e Carmine Vespucci, apenas porque ela era filha de um gangster rival em Chicago.

E sentiu o ódio, que não desaparecera quando eliminara os irmãos, aumentar ainda mais.

— Serei o mais objetivo possível, dom Raphael. — Michael Vespucci disse — Como sabem, assumi os negócios da minha família depois que meu pai Carlo e meu tio Carmine foram mortos. Aos poucos, estou reerguendo nossas empresas, sempre respeitando os acordos sobre territórios estabelecidos entre vocês e eles anos atrás.

Os três criminosos concordaram. Aqueles homens representavam pequenas famílias de gangsters, espalhadas pela América. Enquanto os Vespucci cuidavam do meio-oeste, dom Raphael comandava os negócios na costa leste. Lucius Infantino, um gordo calvo e de barba farta, tinha sua base na costa oeste. Já Vincent Conrado, um sujeito de óculos com cara de professor, tinha como território o sul dos Estados Unidos.

— Mas está na hora de mudar. — Michael disse e viu os chefões ficarem visivelmente preocupados — Há décadas que cada família cumpre sua parte, nunca interferindo com a outra, salvo uma ou outra desavença que surge de vez em quando. Um acordo de cavalheiros feito entre vocês que, ao invés de nos fortalecer, produziu o efeito oposto.

— Do que você está falando? — Conrado manifestou-se, ajeitando os óculos grossos no rosto — É verdade que nosso lucro não é tão bom quanto antes mas...

— Exatamente! Nosso lucro diminui a cada dia que passa, seja porque sofremos pressão dos concorrentes mais poderosos como o Rei do Crime e a Maggia, ou porque somos atacados pelos chamados "combatentes do crime". Isto não deveria acontecer.

— E o que você sugere? — a voz grave de Infantino ecoou pelo salão. Michael Vespucci encarou cada um dos chefões por alguns segundos antes de responder:

— Eu sugiro, senhores, que já é hora de unirmos nossas forças definitivamente! Formarmos uma organização coesa, que possa enfrentar de igual para igual nossos concorrentes! Uma organização forte o suficiente para estar um passo adiante desses vigilantes e combatentes que nos trazem prejuízo. Precisamos adotar medidas proativas contra eles! Esta é a tática que proponho para sobrevivermos nestes tempos.

Dom Raphael balançou a cabeça:

— Proativas, hein? Fácil de falar, mas difícil de fazer.

Do lado da clarabóia, Cão Raivoso decidiu que já ouvira o suficiente. Conferiu quantos cartuchos carregava e destravou a submetralhadora.

— Não é tão difícil assim, dom Raphael. Por isso quero que conheçam — Vespucci apontou para a porta do salão — estes homens recém-contratados pela minha organização: Joseph "Parkinson Joe" Rossini...

Parkinson Joe, alto e forte, carregava uma enorme sacola de nylon na mão esquerda; a direita estava enterrada no bolso do longo sobretudo que usava. Um tremor acometia todo o lado direito do seu corpo.

— ... e Timothy "Rapunzel" Smith, senhores.

Apesar do apelido, não havia qualquer sinal de cabelo no crânio de Rapunzel Smith; na verdade, em lugar algum do seu corpo, pois nascera com ausência completa de pêlos. Mais alto e musculoso que o companheiro, vestia um estranho casaco de pele. Observando-se com mais atenção, concluía-se que a peculiar peça era feita de lustrosos escalpos humanos. Trazia em uma mão um machete.

Cão Raivoso apontou a Jati-Matic para a mesa onde os chefões estavam. Bastava atirar, destroçar o vidro da clarabóia, descer pela corda que prendera, pular no salão e matar toda aquela escória.

— E por fim — continuou Vespucci — quero que vejam o primeiro resultado da minha tática proposta a vocês...

Meia dúzia de capangas entraram arrastando um homem encorpado, de cabelos escuros e feições com traços mediterrâneos; vestia um uniforme negro, no qual destacava-se uma caveira branca pintada no meio do torso.

— ... apresentando-lhes Frank "O Justiceiro" Castle!

Os chefões não acreditavam no que viam, completamente surpresos. A mesma reação teve Cão Raivoso ao ver o homem que, como ele, havia declarado guerra total ao crime, agora subjugado por bandidos.

— Mas como você conseguiu capturá-lo? — dom Raphael perguntou, o charuto pendurado nos lábios.

— Colocando em prática o que sugeri. Precisamos estar sempre à frente daqueles que nos provocam prejuízos, como o caso do Justiceiro. — Vespucci disse e viu os chefões sorrirem satisfeitos.

Parkinson Joe jogou na mesa a sacola que carregava. Nela havia um arsenal suficiente para abastecer um pequeno exército:

— Ele tentou usar isso contra a gente. — Parkinson Joe sacou um fuzil M-16 da sacola, seu cano retorcido e inutilizado — Mas fiz ele mudar de idéia.

Um zumbido irritante soou no salão quando o bandido tirou a mão direita do bolso. Seu braço acabava na altura do punho; o resto fora substituído por um britadeira portátil, implantada no coto. Era ela a responsável pelos tremores involuntários no corpo do bandido.

Joe encostou a sacolejante e barulhenta "mão" na M-16. O que restava da arma virou sucata em segundos.

— Excelente! — Vespucci disse e aproximou-se do Justiceiro — Você sempre foi um transtorno para nossas organizações, senhor Castle. Está na hora de acabar com isso.

Vespucci ficou na mira da Jati-Matic. Cão Raivoso escutou um ruído a centímetros do ouvido; era o característico som de uma arma sendo engatilhada.

— Solta essa metralhadora no chão, bem devagarzinho. — disse o guarda-costas que se aproximava. Sem alternativa, o vigilante começou lentamente a abaixar a arma, enquanto praguejava em silêncio por não ter verificado com mais cuidado o teto.

— Hoje será o primeiro dia uma nova era! — Vespucci encarou o Justiceiro — Uma era onde nós iremos esmagar você ou qualquer outro herói que se meta em nosso caminho. O que acha disso?

O Justiceiro encolheu os ombros.

— Estamos em uma guerra. Alguns soldados tombam, outros prosseguem. Se eu morrer, outros irão tomar meu lugar.

Vespucci não conseguiu evitar um sorriso:

— Dentro de segundos, seu corpo será despedaçado por uma britadeira enquanto o couro cabeludo é arrancado, e você ainda diz "se eu morrer"? — Vespucci agora gargalhava — Definitivamente, você é louco!

Cão Raivoso curvou o corpo, colocando a submetralhadora no chão. O capanga se aproximou para pegá-la. O vigilante de Quad Cities estendeu a perna e golpeou o torso do outro homem. O capanga tentou se equilibrar, mas não conseguiu; tropeçou nos próprios pés e caiu na clarabóia.

Seu grito desesperado confundiu-se com o som do vidro sendo estilhaçado.

— O que é isto? — Michael Vespucci gritou quando o homem atingiu a mesa no salão, quebrando-a. O arsenal na sacola se espalhou pelo chão; Dom Raphael, Infantino e Conrado se afastaram; seus guarda-costas sacaram as armas.

Da abertura do teto, Cão Raivoso disparou. Os tiros atingiam os capangas. Alguns deles revidavam, outros caíam. No meio do caos, Justiceiro saltou em direção do seu arsenal, agora no chão, e agarrou uma Glock, uma Colt .45 e alguns pentes de cartuchos.

— Vamos embora daqui! — Lucius Infantino disse para os outros chefões, encurralados em um canto do salão, atrás de uma fileira de guarda-costas que aos poucos eram abatidos pelos tiros.

— Não façam isso! — Vespucci implorou — Meus homens podem cuidar da situação, esta é hora de ficarmos unidos.

O outro gangster abriu a boca para responder, mas a única coisa que saiu foi uma golfada de sangue, escorrendo pela sua barba espessa: uma bala acabara de varar seu pulmão.

— Isso não pode acontecer! — Vespucci gritou — Parkinson e Rapunzel, façam alguma coisa!

Os dois capangas sacaram suas pistolas e atiraram na direção do Justiceiro, tentando acertá-lo. Ao mesmo tempo, Cão Raivoso desceu pela corda, atirando sem parar.

Michael Vespucci reconheceu o vigilante que há anos minava suas operações. Naquele instante, ele se deu conta que só lhe restava sair dali com vida. Com Rapunzel e Parkinson Joe dando cobertura, Vespucci e os outros chefões poderiam rastejar até a saída do salão.

Mas não seria fácil. Os dois vigilantes, agora próximos um do outro, continuavam a atirar.

Foi quando Rapunzel achou a granada. Ela havia caído da sacola do Justiceiro e agora estava a alguns metros do bandido. Com um sorriso sádico, ele puxou o pino e a jogou.

Granada! — gritou o Justiceiro. Ele e Cão Raivoso pularam em direções opostas quando o artefato caiu entre eles.

A explosão abriu um buraco na parede. A onda de choque seria suficiente para machucar ou no mínimo atordoar qualquer homem. Era com isso que Rapunzel e Parkinson Joe contavam.

Mas Frank Castle e Jack Wheeler não eram homens comuns. Além de terem jurado eliminar o crime e o terrorismo, eles tinham em comum o fato de serem ex-fuzileiros navais, preparados pela melhor força armada do mundo. Seu treinamento era rigoroso; eles deviam estar preparados para tudo.

— Já tá de pé?! — foi a reação de Rapunzel ao ver Cão Raivoso levantando-se. O vigilante apontou a submetralhadora e apertou o gatilho.

Mas ao invés de um estampido, o que se ouviu foi um clique seco.

— Parece que o Totó tá sem seu brinquedinho... — o bandido sem pêlos riu. Guardou a pistola que carregava e sacou o machete que levava por debaixo do mórbido casaco — Sabe, espero que cê tenha bastante cabelo debaixo dessa máscara.

Rapunzel deu mais um passo e o vigilante de Quad Cities não perdeu tempo: agarrando com força o cano da submetralhadora, desferiu uma poderosa coronhada no rosto do bandido. Este gritou e recuou; o sangue brotou de um corte na testa e, sem os pêlos da sobrancelha para contê-lo, escorreu diretamente nos olhos.

Cão Raivoso agarrou um pente de cartuchos no cinto e recarregou a arma. Rapunzel, agora desesperado, limpava o sangue que lhe cegava. Quando conseguiu, viu o cano da Jati-Matic a centímetros do nariz.

— Você não ia gostar do meu cabelo. — Cão Raivoso disse — Eu tenho muita caspa.

Ele apertou o gatilho e o crânio pelado de Rapunzel estourou numa nuvem de sangue e cérebro.

E parte do carpete bege do salão ganhou uma nova tonalidade avermelhada.

Os três chefões — Infantino jazia morto no canto do salão — aproveitaram a confusão para fugir. Seus guarda-costas, reduzidos a uma meia dúzia, tentavam protegê-los enquanto se arrastavam para a saída.

Perto dali, Justiceiro estava com problemas. Parkinson Joe avançara rapidamente em sua direção e, antes que o Justiceiro percebesse, estava ao seu lado.

— Tu vai morrer bem devagarzinho. — o bandido falou. Com um movimento rápido, deu um forte empurrão no vigilante. Este recuou alguns passos, mas permaneceu em pé. Joe repetiu o ataque, com mais força, e desta vez o Justiceiro perdeu o equilíbrio entre os destroços da parede destruída pela granada, caindo com violência; suas armas voaram longe com o impacto.

— Vou ficar famoso entre a bandidagem quando souberem que eu te matei. E nem vou precisar de uma arma de fogo. — e dizendo isso, Parkinson Joe ligou a mão-britadeira; seu braço tremia, em meio ao ruído ensurdecedor provocado pela máquina.

O bandido avançava cada vez mais. O Justiceiro se arrastava, tentando afastar-se de Joe e alcançar a Glock.

Parkinson Joe desferiu um golpe com a britadeira. O vigilante só teve tempo de se desviar e ver a ponta da máquina abrir um buraco no chão. Justiceiro rolou e mais uma vez o bandido deslanchou outro golpe. Por milímetros a britadeira não atingiu o rosto do seu alvo.

Mas o Justiceiro continuava no chão, em desvantagem. Ele recuou mais um pouco, ganhou espaço e, quando o bandido menos esperava, chutou com violência a virilha dele. Grunhindo, Parkinson Joe encolheu os braços para proteger a área de outro golpe.

Justiceiro levantou-se e atracou-se com a mão-britadeira de Joe.

— O que cê tá fazendo? — o bandido perguntou, a voz trêmula tanto pela dor na virilha quanto pelos espasmos produzidos pela máquina.

Mas ele já sabia resposta. Justiceiro tentava forçar a ponta da máquina no rosto de Parkinson Joe. O bandido fazia o possível para evitá-la.

Não conseguiu. A britadeira encontrou a garganta de Parkinson Joe, rasgando pele e músculos, trucidando laringe e vértebras. Justiceiro viu o bandido tombar tremendo em uma poça de sangue.

Uma rajada de tiros voltou a atenção do vigilante para o outro lado do salão. Cão Raivoso atirava nos guarda-costas dos chefões, que haviam alcançado o corredor. Justiceiro juntou-se ao outro homem, mas já era tarde demais: as portas do elevador acabavam de se fechar, com os gangsters lá dentro.

— Vamos perder muito tempo se formos pelas escadas. — Justiceiro apontou a porta vermelha indicando a saída de emergência. Voltou-se para a corda que pendia da clarabóia por onde Cão Raivoso descera; em seguida, virou-se para a única janela do salão.

Cão Raivoso fez que sim com a cabeça. Enquanto ele recolhia a corda, Justiceiro pegava a sacola de nylon com seu arsenal.

Tão logo as portas do elevador abriram, Vespucci, dom Raphael, Conrado e os capangas sobreviventes correram para seus carros blindados, estacionados a alguns metros de distância.

Foram recepcionados por uma saraivada de tiros. Deslizando pela corda presa na janela do salão, Justiceiro e Cão Raivoso haviam chegado no estacionamento com um vantagem de cinco segundos.

Tempo suficiente para uma carnificina. Vincent Conrado saltou em direção do seu Mercedes à prova de balas. Abriu a porta, entrou mas antes de fechá-la viu algo pequeno, redondo e escuro ser jogado e cair no tapete do carro. Ele só compreendeu o que era meio segundo antes da granada detonar.

Dom Raphael puxou seu velho e confiável .38 do coldre. Sequer teve tempo de usá-lo: uma rajada da Jati-Matic costurou o velho gangster da artéria femural à aorta. Seu charuto caiu e apagou-se na poça de sangue que formou-se ao redor de dom Raphael.

Os capangas restantes teimavam em atirar; Justiceiro e Cão Raivoso revidavam. Balas rasgavam órgãos e músculos, dilaceravam artérias e veias, estilhaçavam ossos e cartilagens. Os gangsters tombavam ante a fúria das armas dos dois vigilantes.

Mas o trabalho ainda não havia acabado.

— Vespucci está fugindo! — Justiceiro mostrou o chefão do crime no meio-oeste, que corria para o bosque que cercava o centro de convenções. O vigilante fez menção de mover-se, mas Cão Raivoso o impediu:

— Ele é meu. Eu cuido disso.

Michael Vespucci sempre vivera em Chicago. Ali, na mata, estava completamente perdido. A única coisa que tinha para fazer companhia era a 9 mm que carregava sob o paletó.

Jack Wheeler nasceu e sempre viveu em Quad Cities. Ele conhecia a região como a palma da mão. Foi uma questão de minutos para achar a trilha do criminoso.

Com medo, Vespucci ficou em alerta para qualquer ruído ou movimento estranho. O problema é que ali tudo era estranho, fosse o piar de uma coruja ou farfalhar das folhas pelo vento.

Cão Raivoso percebeu que seu alvo estava à frente e recarregou a submetralhadora. O gangster ouviu o som peculiar da troca de munição e, em desespero, sacou a arma e começou a disparar a esmo.

Sei que você está aí! — gritou.

O vigilante permaneceu oculto nas sombras, protegendo-se atrás de uma árvore e esperando sua presa se cansar. Logo a munição da 9 mm acabou. Cão Raivoso preparou-se para morder.

Quando viu o homem com a máscara de hóquei, Vespucci berrou e recuou, tentando municiar a arma. Seu nervosismo o impediu.

— N-não faça isso, por favor! Tenho dinheiro, podemos fazer um acordo! — ele implorou, jogando a pistola na relva.

Cão Raivoso continuou a caminhar na direção dele, a arma mirada no criminoso.

Vamos lá, me diga seu preço!

O vigilante deu mais dois passos.

Mas que merda! — Vespucci gritou — Por que você não fala alguma coisa?

Cão Raivoso parou e levantou a Jati-Matic.

— Cão que ladra não morde. — e apertou o gatilho até o fim, descarregando toda a munição em Vespucci.

Sirenes soavam perto dali; em poucos minutos, o local estaria infestado de policiais. Cão Raivoso encontrou Justiceiro no estacionamento. O cheiro de pólvora e morte pairava no ar.

— Estamos em uma guerra. — o calejado vigilante disse — Alguns soldados tombam, outros continuam. É bom saber que, se eu morrer, alguém pode prosseguir com a batalha.

Com um sutil aceno de despedida, ele caminhou para um dos veículos ali estacionados. As sirenes estavam mais próximas. Cão Raivoso respirou fundo; sua missão fora completada. Naquela noite, Jack Wheeler dormiria em paz.

Pelo menos naquela noite.


:: Notas do Autor

(*) Inscrição latina que significa "cuidado com o cão", encontrada em mosaicos nas casas dos patrícios romanos. voltar ao texto




 
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