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The Cast # 01

Por JB Uchôa

The Big Bang

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Sede da Star Pictures. Prédio central, vigésimo andar

— Qual o segredo, sr. Munroe, para o sucesso? — Sabrina Perry debruçou-se sobre a mesa e sorriu — Posso ligar o gravador, não posso?

— A senhorita pode trazer o equipamento que quiser, srta. Perry. — John Munroe Jr. abriu um largo sorriso por trás de sua mesa branca, em seu escritório decorado em estilo grego — Eu não me nego a dar entrevistas.

— Mas não dá a receita do sucesso. — a jornalista ligou o gravador e fez sinal para que o fotógrafo batesse fotos.

— A receita do sucesso é trabalho. Sem fotos, por favor. Prefiro fazê-las em estúdio. — a jornalista sorriu ao fotógrafo, instruindo-lhe, e John continuou a falar — Me chame de John, não gosto de formalidades. Milagres, assim como receitas para uma vida próspera, só se consegue com trabalho. — iniciou o produtor, respondendo à pergunta — Dedicação. Qualquer pessoa que dedique algumas horas da sua vida a um objetivo o alcançará com sucesso.

— O senhor é conhecido no mundo do cinema como alguém que despontou de uma vida trágica para uma vida próspera. Superou as perdas?

— Ninguém supera as perdas, nós as adormecemos. Também não posso dizer que tive uma vida trágica, pois ela ainda não acabou, eu tive um começo de vida difícil. Eu estava com seis anos quando minha tia Agatha chegou em casa com a notícia de que meus pais estavam mortos. — nesse momento a mente de John viajou. O frio da tarde chuvosa, os guarda-chuvas, casacos negros. A mão áspera de sua tia paterna sobre seu ombro...

Califórnia, há 20 anos

Algumas horas atrás, Agatha Munroe chegou na mansão dos Munroe com seus dois gatos. Os empregados, acostumados com a nefasta presença da irmã mais velha do sr. Munroe, ficaram preocupados. O largo sorriso da mulher não combinava com a ocasião. Na madrugada, o carro onde estavam John e Sara Munroe foi encontrado acidentado. Os corpos não estavam desfigurados, mas nenhum dos empregados sabia como dar a notícia ao filho único do casal, de apenas seis anos.

Tom Sanders, o mordomo, havia pedido para o jovem vestir uma blusa branca e um casaco preto quando Agatha avisou que chegaria em breve. Quando o garoto perguntou se viria alguém especial o silêncio reinou no quarto. Quando o garoto soube da morte dos pais suas lágrimas escorreram em forma de luz por sua face. Tom as enxugou e pediu ao pequeno John para não chorar. Durante o enterro, Agatha não mostrava nenhum desespero e constrangimento. Embora o sobrinho preferisse ficar ao lado dos empregados, a mão firme da tia solteira não o deixava se separar. Muitas pessoas compareceram naquele dia e John Munroe Jr. olhava para elas segurando as lágrimas. Parecia um pesadelo e o garoto só esperava acordar.

Ao entardecer, John abriu um sorriso de conforto e correu para os braços de Helen Flood, amiga pessoal dos Munroe e mãe de Guido e Albert, os melhores amigos do filho do casal.

— Tom! Traga o garoto pra cá agora. Isso é um velório, não uma festa de aniversário! — Agatha baixou a vista e encarou Helen e seus filhos — O que essa raça está fazendo aqui? Meu irmão era um tolo!

— Oh, meu querido! Me abrace forte! — Helen se ajoelhou no chão úmido e abraçou o menino. Seus filhos, Guido e Albert fizeram o mesmo — Não tenha medo, Johnny, não tema! Tia Helen, Guido e Al sempre estarão aqui com você. Nós também somos sua família! — quando Helen olhou para John, viu suas lágrimas de luz escorrendo pela face. Os olhos do menino brilharam. Imediatamente, ela tirou seus óculos escuros do alto da cabeça e colocou no garoto — Meu querido, não chore. Seja forte.

— Tia Helen? — falou o garoto, em meio a soluços — Por que as pessoas pedem para eu não chorar? — John esfregou a mão no rosto — Tom pediu para eu não chorar hoje.

— Mais tarde eu ficarei junto com você para nós chorarmos baixinho. Agora, John e Sara gostariam que você continuasse o garoto feliz que sempre foi. Poderia fazer isso por eles? — o garoto limpou as lágrimas de luz do rosto e acenou com a cabeça positivamente. Helen se levantou e deu a mão ao menino. Tom correu ao encontro deles.

— Sra. Helen, boa tarde.

— Que tragédia, não é, Tom? Já notei o olhar frio de Agatha para mim. Ela já se apossou da casa?

— O jovem John chorou novamente? — Tom desconversou e ficou preocupado quando viu o garoto com enormes óculos escuros.

— Deixe meus óculos com ele, não daria para despistar. O garoto é o centro das atenções hoje.

Agatha não gostou quando Helen Flood, a quem sempre se referia como a "amiga plebéia de minha cunhada", ficou ao seu lado segurando a mão de seu sobrinho.

— Uma vez na vida Agatha, respeite seu irmão. — Helen a encarou no rosto.

— Você é mesmo uma petulante. Sua laia nunca...

— Morda a língua para falar de minha raça. Você sabe que esse garoto tem tanto sangue seu quanto meu.

Uma lástima! Mas ele vai esquecer de tudo quando for para o Canadá comigo. Ouvi falar de uma escola em Westchester para pessoas como... vocês, mas com você por perto quero ter o garoto sob meus olhos.

— Você não pode fazer isso! — Helen suspirou e levou a mão à boca — Por Deus, Agatha, eu suplico.

— Não sabia que sua raça acreditava em Deus, mulher. Eu sou a tutora legal dele, meu irmão não deixou testamento.

Em um certo momento, John se separou das pessoas e foi chorar baixinho atrás de uma lápide. O garoto esfregava constantemente as mãos no rosto para enxugar as lágrimas. Um homem calvo de espessos óculos de grau aproximou-se.

— É muito triste perder os pais, não é menino? Chore à vontade. — com um gesto ele levantou os óculos escuros do garoto e viu as lágrimas de luz, notando que os olhos do menino já começavam a emitir um brilho — Perfeito.

— Posso saber o que é perfeito, professor Hamilton? — Helen pegou John nos braços — Afaste-se dele! Lembre-se do que posso fazer com o senhor se voltar a se aproximar desse garoto ou de minha família!

— A leoa ruge, hein Helen? Boa sorte! — o homem foi embora. Helen abraçou o menino com força, enxugando as lágrimas com um lenço.

Helen passou a noite com os filhos no quarto de John; o menino chorou a noite inteira e Agatha apenas viu a fresta de luz trêmula sob a porta. No outro dia, Helen ainda suplicou que ela não levasse o garoto embora. Agatha apenas zombou do desespero de Helen e dispensou os empregados. No aeroporto, mãe e filhos choravam baixinho pelo destino de John.

Sede da Star Pictures

— Você começou cedo. Era um garoto quando teve acesso a fortuna dos pais nas mãos. — Sabrina sentou-se confortavelmente, encantada com a história.

— Eu realmente não me dava com minha tia, ela tem um temperamento muito difícil. Mas em Toronto tive bons amigos e o pai de Andrew, que era advogado, conseguiu que aos quinze anos eu tivesse minha emancipação e que tia Agatha não fosse mais minha tutora. Foi quando voltei aos Estados Unidos. — John ficou sério — Aqui reencontrei meus amigos e posso dizer que me encontrei novamente.

John chegou aos EUA no dia do aniversário de dezessete anos de Albert Flood. O contato que tinha com os amigos era apenas por cartas escondidas de tia Agatha, que detestava Helen e seus filhos. Os três amigos ficaram se olhando algum tempo antes de se abraçarem. John sorria ao ver o longo cabelo de Guido, nunca poderia imaginar que o amigo iria deixar o cabelo crescer. Albert já ostentava costeletas e se mostrava bastante vaidoso com o cabelo e o corpo. Os três se deram um longo abraço. Passados nove anos, John ficou sério ao ver sua amada tia Helen se apoiar em uma bengala, que sorriu ao ver novamente o menino. Os dois se abraçaram forte e choraram. Haviam anos de sentimentos guardados ali, esperando esse reencontro. John sabia que ela estava doente, mas não imaginava que estivesse tão debilitada.

— Você se tornou um homem muito bonito, John. E se ainda o conheço, sei que se tornou tão bonito por dentro quanto por fora. — Helen sentou-se e John se ajoelhou perto dela.

— A senhora também está muito bem, não mudou nada desde a última vez que a vi.

— Não me engane, menino! Alguns cabelos brancos apareceram e de alguns anos para cá a força vem se esvaindo de mim. É muito bom saber que meus filhos vão ter você para se apoiar. — John abraçou Helen com força e disse que não ia chorar.

Alguns amigos de Albert chegaram e John notou uma menina que se destacou na multidão. Helen sorriu ao ver o garoto acompanhar a menina com os olhos pelo apartamento.

— Vá se divertir, querido. Temos algum tempo para colocar a conversa em dia. — Helen levantou-se e deu um beijo na testa de John.

Ei, Johnny! — gritou Albert — Deixa eu te apresentar minha galera! — um pouco tímido, John aproximou-se. Albert e Guido conversavam animadamente, relembrando há tempos que conhecem o amigo. John sentiu-se em casa — E por fim, meu amigo, essa é Ericka Rainier. — as pernas de John tremeram, ele sabia que estava diante de uma das pessoas que tornariam sua vida inesquecível. A bela menina de olhos castanhos, cabelos negros e pele alva sorriu. As pessoas sentaram na escada de incêndio e passaram a conversar.

— Você fala francês? — perguntou Ericka, iniciando a conversa.

— Oui. — sorriu John — Tanta palavra mais difícil para mostrar que falo francês e escolho a mais fácil!

— Certamente. — Ericka sorriu e olhou nos olhos de John — Não é difícil morar em um país que fala duas línguas oficiais?

— Aqui também não é assim? As pessoas não falam espanhol? — os dois riem da piada — Também sei fazer algumas coisas em francês.

Ericka sorriu e os dois se beijaram. Guido virou-se e cutucou Albert para que prestasse atenção no recém-chegado amigo. Antes que os irmãos Flood pudessem puxar um coro de palmas algo aconteceu. A felicidade pelo beijo deixou John em êxtase. Seu corpo passou a emitir uma aura luminosa. Ericka se assustou, afastando-se. A aura desapareceu. Os outros convidados não perceberam o espanto. Helen saiu do quarto e viu John correr pela porta.

— Albert, Guido, vão atrás dele. Agora! — Helen gritou, em um tom fraco. Os irmãos saíram correndo pela porta.

Guido percebeu que John entrou no Central Park. Como era mais veloz que o irmão mais velho, apertou o passo e o deixou para trás. Guido possuía treinamento em quase todas as artes marciais e desde pequeno foi apaixonado por luta. Albert, por sua vez, sempre cuidou do corpo, mas nunca teve o temperamento para dedicar-se a alguma coisa. Ao curvar-se para trás, Albert esbarrou em uma garota na entrada do parque.

Afe!! Você não olha para onde anda?? — a loira recolheu os livros no chão.

— Desculpe... eu... — Albert começou a ajudá-la a juntar os livros e papéis.

— Você... — os dois se olharam — Tem nome?

— Albert... Flood. Desculpe, realmente. Estava com pressa e não a vi.

— Meu nome é Maria. — eles levantaram-se — Você bem que podia me pagar um sorvete! Aceito como pedido de desculpas!

— Eu estou meio duro. Hoje é meu aniversário e eu estava em casa com meus amigos, até que...

— Você parece ter uma história longa. Eu pago o sorvete dessa vez! — Maria jogou os livros nos braços de Albert e se apoiou em seu braço esquerdo — Eu gosto de uma sorveteria aqui perto. — os dois caminharam lado a lado, Albert sorriu desconcertado.

No parque, Guido gritou para John parar. A última vez que seus poderes se manifestaram foi no dia dana morte dos pais. John conviveu não sabendo nada desses dons. O medo da rejeição, do escândalo, o fizeram correr apenas. Sem destino certo, sem olhar para trás. Guido saltou sobre o amigo e o empurrou para um lago. Assustado, John brilhou tão forte que cegou o amigo temporariamente. A luz cegante emitida pelo corpo de John fez com que Guido se assustasse e algumas rajadas saíram de suas mãos, destroçando uma árvore. O som fez com que os dois se olhassem seriamente.

— Não tenha medo John. Somos todos iguais.

Depois do que aconteceu no parque, John pediu para Helen chamar os antigos empregados da mansão e resolveu morar sozinho. Saiu de Nova York e foi para a Califórnia. Helen sentiu-se triste, pois pensava que John iria morar com ela e os filhos. A mansão na ilha foi reformada e apenas Tom retornou. A casa recuperou o esplendor dos anos passados e John finalmente sentia que poderia reconstruir sua história.

Escritório da Star Pictures

John Munroe Jr. olhou pela janela enquanto terminava de falar da reforma da mansão.

— Sentia que sua vida estava recomeçando com a reforma da casa? — perguntou Sabrina, docemente.

— Não... na verdade, eu sentia que estava retomando minha vida do exato momento em que ela parou. Passei alguns meses para reconhecer toda a história que havia ficado naquele lugar. Mesmo tendo sido demitido por tia Agatha, Tom Sanders cuidou para que a casa não fosse desvalorizada. Tom prezou pelo meu passado e serei eternamente grato por isso. Ele ia sempre que podia e fazia sozinho a faxina da casa.

— Seu pai nunca foi investidor na área cinematográfica. Por que resolveu seguir esse caminho? — John virou-se com a pergunta da jornalista e sorriu.

— Sigo o que meu coração manda. Eu não teria o menor tino para tocar os negócios iniciados por meu pai.

— Onde Camilla Stempis Price se encaixa na sua vida?

— Camilla é um anjo na minha vida.

John já estava com dezoito anos. Guido, Albert e Helen foram mandados para a Flórida por John. Havia um médico que podia tratar da doença da matriarca dos Flood. Ao caminhar pelas ruas, ele notou um estranho brilho em um beco e aproximou-se. No chão, encontrou uma mulher de aproximadamente sua idade. Suas roupas estavam rasgadas e lembravam uniformes de super-heróis.

O lixo pairava sobre ela e circulava, como se a protegesse. John abriu a mão e utilizou seus poderes de converter energia solar em luz para queimar o lixo. A garota tinha o rosto machucado, gotas de sangue e o uniforme em pedaços. Quando ele tocou no seu rosto, ela acordou. Imagens foram compartilhadas em sua mente. Sangue, medo e um homem de jaleco branco. É só que John conseguiu visualizar. Os olhos da menina estavam vidrados no dele, como se ele pudesse sentir o medo que ela sentia.

— Me tira daqui. — sussurrou a garota.

John a pegou em seus braços, se certificou de que ninguém estava olhando. Alçou vôo e a levou para sua casa. Com o passar dos anos, descobriu que seus poderes eram maiores do que emitir uma luz. Podia voar, converter a energia solar em luz, lasers e até torná-la sólida. Com a ajuda de Tom, a alimentou e a deixou forte novamente. Ela se apresentou como Camilla e conversou com ele sobre seus poderes, dizendo que havia mais pessoas no mundo como eles e que deveriam se unir.

— Nós temos essa responsabilidade nas mãos! Ninguém pode viver sem conhecer sua história. Nós temos que procurar os outros, eu posso encontrá-los! Só precisamos de dinheiro, tempo e vontade. — mesmo tremendo, as palavras de Camilla eram firmes.

— E o que você sugere para conseguirmos dinheiro? Tenho algum, mas não tenho investimentos.

— Garoto, nós vamos fazer cinema! — Camilla sorri.

Star Pictures

— Quer dizer que a idéia da Star Pictures partiu de sua sócia?

— Exato. Estou satisfeito com sua entrevista! — John estendeu a mão para cumprimentar a jornalista.

— Eu poderia perguntar sobre os custos das produções?

— Eu disse que estava satisfeito, srta. Perry. — as palavras de John encerraram o bate-papo — Agora é só esperar pelo amanhã.


No próximo número: Não perca mais revelações surpreendentes sobre o universo da série The Cast.





 
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