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Batman # 19

Por Leonardo Araújo

Gladiador

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Ultimamente tem chovido muito em Gotham. Agora, neste início de noite, a chuva resolveu dar uma pequena trégua. Selina Kyle assiste ao noticiário local após um quente e revigorante banho. Ela percebe uma presença sinistra em sua sala.

— Humm! Acha que não o percebi? A que devo a honra desta visita? — pergunta Selina.

— Minhas intenções não eram de me ocultar de você. — responde Batman.

— Então não virou voyeur.

Slade Wilson. Sabe se ele está em Gotham?

— Esteve dormindo fora da caverna, querido?

— Sem brincadeiras, Selina. Wilson é muito perigoso. Se ele estiver na cidade, alguém, ou até toda Gotham, corre perigo.

— Hotel Escarlate, é o que dizem. — responde a bela anfitriã enquanto se levanta do sofá em direção ao vigilante. Seus passos são graciosos. O perfume dela está em todo o ambiente.

— Desde quando?

— Quando um homem como o Exterminador chega na cidade, todo o submundo sabe. Aposto que seus amigos também sabem dele. Por que não perguntou ao passarinho?

— Não quero que eles se envolvam. Eles iriam querer enfrentá-lo também.

— Ele está aqui há uns dois dias, no máximo... o que você disse? Não quer que eles se envolvam? Como pretende cuidar disso? Vai mandar uma passagem para ele sair de Gotham?

— Ele não deveria ter vindo na minha cidade.

— "Minha cidade"! Quanta testosterona. Pretende enfrentar o Exterminador sozinho? — ela pergunta, parando à sua frente com os braços cruzados.

— Como sempre faço.

— Sabe que há apostas no submundo sobre esta luta?

— Ouvi rumores. Wilson é muito perigoso para eu me deixar levar por este tipo de comentários.

Ela o contorna até completar uma volta, apóia-se nele, reclina a cabeça em seu peito, estica o braço direito para cima e segura a cabeça dele por trás.

— Se as coisas não saírem como espera, pode voltar aqui que eu cuido direitinho de você.

Ele caminha e gira, ficando novamente de frente para Selina.

— Não sou insensível ao seu jogo de sedução, Selina, mas algo precisa ser feito quanto ao Wilson.

— Preferi o beijo, digamos, "agressivo" lá nos laboratórios L&C. (*)

O vigilante sai pela janela pela qual entrou, lançando-se no vazio sem escutar um murmúrio da linda mulher que o observa se distanciar:

— Boa sorte!

Em trajes esporte, Slade Wilson, o Exterminador, acaba de sair de um bar: dirige-se ao hotel onde se hospeda. Ele caminha por uma rua pacata. Seria uma caminhada calma, mas sua percepção apurada indica que alguém o segue. Rapidamente, ele sobe pelas escadas de emergência de um prédio velho. A má iluminação piora ainda mais quando Slade chega ao terraço. No outro extremo do mesmo prédio, no telhado da casa de máquinas do elevador, ele observa seu perseguidor soturno: uma conhecida figura local. O contorno revela um homem alto, forte, com traje que evidencia orelhas pontudas e capa. O mercenário não tem dúvida de quem se trata.

— Não fique no meu caminho! — ameaça Slade.

— Saia da minha cidade! — responde Batman.

— Você não tem condições de me ameaçar. Não tenho nada contra você, mas tenho um contrato a ser cumprido e não tolerarei qualquer interferência.

— Quem o contratou?

Pingos da chuva já começam a ser sentidos. O Exterminador, dissimuladamente e aproveitando as sombras, pega uma pistola.

— Nossa conversa acaba aqui! — velozmente, Slade saca a arma e desfere três disparos, acertando o alvo em cheio. O corpo cai.

"Foi estranhamente fácil! Há algo errado." — pensa o experiente mercenário. Caminha até o local onde o corpo está, apenas para confirmar suas suspeitas: um boneco com os trajes do homem-morcego.

— Saia da minha cidade! — ecoa uma tenebrosa voz, enquanto uma chuva de lâminas-morcego cai sobre Slade. Ele salta e se esquiva de todas.

Quando o Exterminador tem certeza que não há mais objetos dos quais deve se esquivar, observa à sua volta:

"Com certeza ele já está longe. Estarei aguardado nosso próximo encontro!" — são os pensamentos do temido mercenário.

Slade Wilson é muito experiente. O mais temível mercenário que pode ser contratado, segundo muitos. Um soro lhe concedeu reflexos sobre-humanos. O conhecimento que advém de sua grande experiência o faz prever que deve cumprir seu contrato no mais curto prazo possível, pois sabe o quanto seu adversário é eficaz.

"Batman é um adversário muito perigoso. Tenho que cumprir meu contrato hoje ainda, para evitar que ele se prepare para tentar me surpreender." — decide Slade. Ele sabe que será vigiado, mas estará atento a isso.

O alvo do Exterminador é um senador de Gotham: Peter Doyle. Doyle é a favor de pesquisa com embriões e células-tronco. Faz uma campanha maciça para convencer a opinião pública dos benefícios prováveis advindos do desenvolvimento de tais técnicas. Para azar do senador, Ra's Al Ghul é contra. Ra's considera a humanidade um mal na Terra e luta para um genocídio em massa. A contratação do Exterminador por Ra's, na ocasião do treinamento de supermercenários à disposição do terrorista, (**) o fez estender o contrato para eliminar alguns adversários. Doyle é um desses.

Após se certificar de que não está sendo vigiado, ao menos de perto, Slade verifica em seu notebook que o senador Doyle tem um discurso público às bases partidárias e eleitores em uma praça aberta, numa festa popular. A arquitetura da circunvizinhança da praça está disponível em seu computador. Agora ele faz um estudo detalhado, com auxílio de um moderno software, do melhor posicionamento de um atirador.

O discurso está previsto para as 23 horas. Faltam mais de quatro horas. É tempo suficiente para Slade preparar suas armas e se deslocar até o local planejado a fim de confirmar seu melhor posicionamento para exterminar seu alvo.

Não muito afastado dali, Batman se prepara para o iminente confronto.

"Ele vai apressar seus planos. Terei que monitorá-lo até sua ação final." — Batman começa a se disfarçar, um cidadão a mais numa multidão. Através de e-mail e celular, contata informantes locais, montando uma complexa rede que se revezará na vigilância de Slade. Até um satélite é mobilizado para que o Exterminador tenha seus passos cuidadosamente vigiados. Terminado o fechamento da rede de monitoramento, o morcego começa a definir sua estratégia.

"O soro que Wilson tomou ampliou muito seus reflexos. Além disso, ele é capaz de manipular com extrema perícia armas brancas, de fogo e explosivos, além de transformar tudo que esteja ao seu alcance em armas potenciais. Tem muita experiência. É versado em diversos tipos de combate corpo-a-corpo. Mas diversos não é suficiente. Ele é mais velho, portanto tenho de prolongar a luta para que canse. A falta de um olho não o faz menos perigoso, mas isso prejudica sua avaliação de distâncias. O escuro deve ampliar essa leve desvantagem. Só tenho de aguardar o próximo passo dele!"

O par de horas seguintes é de tensão e expectativa. Após esse período, finalmente as notícias chegam: Slade foi reconhecido por um dos informantes indo para a festa popular na Praça da Liberdade.

"Ele conseguiu sair do hotel sem ser percebido, mas a rede de vigilância funcionou mesmo assim." — reflete Batman, enquanto se desloca até a praça. A forte chuva que castiga a cidade durante as últimas duas horas começa a ceder.

No local, o vigilante verifica os pontos de boa visão para um disparo discreto e certeiro. Há vários prédios, mas novamente seus informantes indicam o prédio que Slade entrou, o que é confirmado pelas imagens do satélite.

Com o fim da chuva, o melhor local do prédio para Slade é a cobertura. O vigilante sobe num prédio mais alto, ao lado, a fim de verificar se acertou na escolha da posição. Ele pode observar o Exterminador iniciar sua acomodação e preparação para o disparo. Vai usar um rifle de alta precisão para longas distâncias. Fica obvio que o atirador visará o palanque, dada a posição que toma. O rifle é montado cuidadosamente e Slade permanece atento quanto à possibilidade de ser visto.

Logo abaixo, com o fim da chuva, a multidão toma conta da praça. Equipes de televisão locais estão cobrindo a festa popular.

"A televisão dará o outro efeito que desejo: todos verão Wilson falhar. Isso vai deixá-lo furioso e atrapalhará seu raciocínio. Virá atrás de mim onde eu for! Tenho de cansá-lo." — repassa mentalmente Batman.

"Sinto que ele está me vigiando." — apesar dessa certeza, Slade continua seus preparativos. O rifle está montado e o palanque já recebe seus convidados. A qualquer momento, o senador estará lá e alguém anunciará seu discurso. Quando ele o iniciar, será o momento perfeito.

Há tensão em ambos. Suas mãos transpiram e qualquer barulho é entendido como um motivo de precaução.

Usando um potente binóculo, Batman observa o Exterminador entrar em posição de tiro, enquanto o mercenário aguarda seu alvo também tomar posição apropriada. O morcego não tem certeza da vítima, por isso decide agir. Prepara um dispositivo temporizado para disparar cargas luminosas e se lança contra Slade.

A atenção dividida de Slade com as cargas luminosas faz com que ele não perceba o cavaleiro das trevas se aproximando, lançado por uma corda. Apenas a poucos metros é que o mercenário nota seu algoz. Mas isso é suficiente para os reflexos extremamente apurados do Exterminador evitarem o choque direto e fazê-lo esquivar-se e bloquear o golpe, forçando Batman a aproveitar o próprio impulso para se manter a uma posição segura de seu adversário.

— Um ataque direto contra mim não é sinal de boa inteligência. — Slade se reposiciona — Não me decepcione! — disparos distantes são ouvidos, mas são de cargas pirotécnicas.

— Não busco qualquer aprovação sua! — responde Batman. As cargas disparadas, aquelas preparadas pelo morcego, de iluminação, chamam a atenção das câmeras de TV para o ambiente.

Logo a luta deles no arranha-céu de Gotham está em todos os televisores ligados da cidade. "Batman versus Exterminador nos céus de Gotham!": esta é a manchete do momento.

Por dentro da máscara, a expressão de Slade é de fúria.

— Isso foi um golpe sujo, Batman. — ele avança — Terei trabalho para cumprir meu contrato agora, mas eu sempre os cumpro.

— Este contrato não será cumprido! — os olhos de Batman varrem o ambiente.

Slade avança sobre Batman, que se esquiva, mantendo-se afastado. Enquanto o Exterminador descarrega suas armas buscando atingir um alvo de grande agilidade, o homem-morcego lança uma série de batarangues e lâminas metálicas, mantendo seu oponente também em permanente movimento. O combate é intenso, assim como a destruição da cobertura onde estão. Após vários minutos, a munição de Slade parece se findar, assim como todos os batarangues e lâminas do morcego.

Um barulho de helicóptero em aproximação é nítido.

"Polícia ou imprensa. Não quero ninguém ferido aqui!" — pensa o vigilante.

Os intensos movimentos e a tensão entre os lutadores cobram seu preço: ambos já transpiram em abundância. Sabendo que um furioso Exterminador o seguirá, Batman começa a se deslocar por sobre os prédios de Gotham.

— Medo das câmeras, Batman? — grita Slade, ao mesmo tempo em que lança restos de construção, antenas e o que mais acha para tentar atingir Batman ou bloquear seu deslocamento. Mas o embate segue sem qualquer definição por centenas de metros.

O segundo round ocorre em um prédio em construção. Batman permanece com sua tática: investe de longe, mantendo Slade em movimento. Por vezes se detém num combate mais aproximado. Quando isso ocorre, parecem duas feras bestiais em confronto mortal. O Exterminador é muito rápido. O vigilante não pode confrontá-lo por muito tempo, não ainda. Para cada golpe que atinge Slade, três contragolpes são desferidos. A melhor técnica ainda é manter boa distância. Pequenas provocações mantêm o mercenário engajado no combate. Batman tem o gosto de sangue na boca.

— Saia de Gotham, Slade. Não aceite mais contratos na minha cidade.

— E como pretende me tirar daqui? Fazendo-me correr atrás de você até os limites da cidade? — pergunta, com fúria e certo desprezo.

As falas já saem com respirações as intercalando. O suor pinga dos uniformes. Ambos sobem e descem freneticamente os andares do esqueleto do edifício em construção. Mais uma vez, Batman se detém. A espada que o mercenário portava voa longe, mas isso permite a Slade investir com um soco na altura do rosto do vigilante, que é defendido e uma contra-ofensiva atinge o abdome do Exterminador. Este absorve o golpe e gira com violência, atingindo o rosto de Batman. Slade aproveita o impacto do soco e desfere mais dois na altura do abdome, mas recebe uma joelhada no quadril. Um chute explode no peito de Batman, que responde com igual golpe. O mercenário lança o vigilante sobre si, mas este consegue cair de pé, já se defendendo de uma seqüência de golpes desferida por Slade. Alguns atravessam a defesa de Batman, que se vê forçado a tomar uma medida extrema: lançar-se sobre seu adversário o que faz ambos se desequilibrarem e cairem do décimo-nono andar devido à inexistência de paredes no ambiente que estavam.

Helicópteros da impressa, que já chegam ao local, filmam este estágio da luta. Os vigilantes locais se dirigem ao prédio na tentativa de ajudar Batman.

Longe dali, Oliver Queen, o Arqueiro Verde, prepara seu equipamento quando Flash surge em sua sala.

— E aí, Oliver! Já olhou a TV agora de noite?

— Wally, não é hora...

— Sério. Batman e Exterminador estão se pegando. É melhor que vale-tudo!

— Cê tá brincando. O morcego na TV? — Oliver liga a TV — Não é que é verdade?

— Melhor irmos ajudar o Batman.

— O que o faz pensar que Batman precisa da nossa ajuda?

— Eu já lutei com Slade, aliás, eu e os Titãs. Ele dava cabo de todos.

— E daí?

— Cara, os reflexos do Slade permitiam que ele me atingisse. Ele está muito acima de um humano.

— Guri, você já lutou com o Batman?

— Não. Posso até ser meio louco, mas não sou nada burro.

— Eu já. Se me chamar de burro... — ele sorri — Aposto cem pratas no morcego.

— Eu cubro.

Em várias partes do mundo, apostas são feitas. Casa de jogos, esquinas, apostadores ocasionais, profissionais, no submundo das lutas clandestinas e até aliados ou conhecidos dos dois lutadores. Uma grande expectativa se cria quanto ao conflito.

De volta a Gotham.

Dentro da secretaria da escola San Francisco, (***) Robin verifica os arquivos sobre Tom L Hume. Subitamente, seu comunicador vibra. Ele atende, quase sussurrando:

— Pode falar, Caverna. (****)

— Minhas escusas por interromper suas rotineiras atividades noturnas, mas no momento as imagens televisivas que vejo sugerem...

Ele está na TV? — o tom de voz de Robin denota espanto.

— Isso. É deveras importante que verifique a necessidade de ajudá-lo.

— Onde?

— Centro: avenida Washington, na altura da estação Centro do metrô.

Tim reorganiza a sala, para sua "visita" não ser percebida, e sai pela janela rapidamente.

Enquanto isso, o ferrenho combate prossegue. As trocas de socos continuam no ar na trajetória de queda do edifício, mas Slade, com um potente chute, afasta-se do morcego. Este dispara sua corda nas ferragens do prédio e detém sua queda. Ele pode ver o Exterminador vir como uma águia em sua direção, também usando uma corda presa ao prédio, e prefere iniciar uma outra fase de seu plano.

Antes de ser atingido, Batman ganha os céus de Gotham novamente. O corre-corre por cima das edificações recomeça. Saltos de prédios em prédios, descidas e subidas, pequenos contatos ocasionais, tudo sendo coberto pela imprensa, embora ocasionalmente se percam pequenos desdobramentos quando eles entram em lugares fechados, sempre por pouco tempo. A policia local tenta cercar a área, mas o problema é que a região de batalha passou a ser toda a cidade. Até tetos de ônibus, carrocerias de caminhões e metrô já foram usados no deslocamento dos gladiadores.

O desgaste já é grande quando Batman decide que é hora do terceiro assalto. Abre um dos bueiros e desce para as galerias pluviais que, devido às chuvas constantes, estão com boa quantidade de água.

"Ninguém é muito rápido na água. Além disso, os movimentos aqui acelerarão o desgaste da luta!" — raciocina Batman, estrategicamente.

— Resolveu parar de fugir? Não pense que não notei sua idéia. — respira Slade, ofegante — Está tentando me cansar. Antes da minha estafa, você estará morto. — ameaça ele.

A luta atinge o ápice de sua violência, longe dos olhos de curiosos. Como previu Batman, a água na altura da cintura deixou o combate mais lento e custoso. Slade só leva ligeira vantagem nos movimentos de braços neste momento. A escuridão equilibra as coisas para Batman.

Hematomas e escoriações são visíveis nos lutadores. Há cortes nas faces. Alguns dentes terão de ser reparados. Respirações pesadas e gemidos agora acompanham os golpes, tanto de quem desfere quanto de quem recebe, tamanho é o cansaço. A fibra dos guerreiros fazem cada minuto ficar mais difícil, na medida que ninguém arrefece os golpes. Punhos atingem os rostos sucessivas vezes, com ligeira vantagem ainda pra Slade. Batman, percebendo que a troca de golpes esta o deixando em desvantagem, agarra o Exterminador e mergulha nas águas pluviais, um teste para o fôlego de ambos. Um procura afogar o outro. Após minutos, Slade percebe que a tática do homem-morcego está dando resultado: seus pulmões queimam e ele sobe para tomar ar. Isso faz o mercenário repensar a estratégia.

Nada mais é dito. Qualquer fôlego precisa ser economizado para o combate. Já faz mais de cinqüenta minutos que essa guerra iniciou. Agora é Slade quem tenta manter distância ou fugir do local. Usando seu conhecimento da arquitetura dos esgotos de Gotham, Batman aproveita a vantagem e direciona o mercenário para uma saída específica, junto a um antigo armazém próximo ao cais.

Desabrigados vêem quando a imensa tubulação de água barrenta vomita os gladiadores para o mar. Numa constante troca de golpes, Slade atinge o vigilante no rosto com um chute parcialmente amortecido e se dirige para a área construída do cais. Enquanto o Exterminador sai da água e corre por entre os armazéns, Batman aproveita seu conhecimento da região e o intercepta: o morcego se lança, agarrando o mercenário, e este violento choque faz com que atravessem uma velha janela de um dos armazéns.

Logo a notícia se espalha pelo submundo de Gotham.

Dentro do armazém, não há palavras. Dois corpos exauridos se mantêm em pé movidos pela vontade de ferro das mentes treinadas destes homens. Eles sabem que este é o último round: dois entraram, mas só um sairá caminhando. Talvez nenhum.

Novas seqüências de chutes e socos são desferidas, agora nitidamente mais lentas que as do início da luta. Cada movimento já cobra seu custo em dor. Eles bufam enquanto tentam se atingir. Cada um dos golpes desferidos é carregado de técnica e procura lesionar regiões que provocariam grandes estragos, uma vez que não têm a mesma potência do inicio do combate.

As esquivas e bloqueios permanecem. Por isso, costelas, abdomes, braços e pernas são atingidos constantemente, sem grandes conseqüências além da fadiga e dor.

Uma pequena multidão começa a se forma em torno do armazém. Câmeras começam a chegar. Celulares são usados para registrar a luta.

Distante dali:

— Oliver, agora eles estão na internet! — em frente a um micro, Flash grita para o Arqueiro que, na sala, mudava de canal na tentativa de achar mais notícias.

— Nossa, a coisa tá feia pros dois. Os caras estão um trapo.

No armazém, o combate tem seqüência.

"Slade é um mercenário. É muito bom em lutas, mas não em todas. As técnicas de solo não são muito praticadas nas forças armadas ou por mercenários." — pensa Batman.

Já faz mais de quinze minutos que eles trocam golpes neste local, sem definir a luta. Então, o vigilante se afasta de Slade, usando a escuridão do ambiente para se camuflar temporariamente. Na seqüência, lança sua capa contra o Exterminador. O mercenário tem sua atenção desviada pela capa por frações de segundo, o suficiente para Batman agarrá-lo num combate com técnicas de luta greco-romana, judô e jiu-jitsu. Estão ambos de pé, mas em um abraço potencialmente mortal.

O Exterminador percebe o perigo que corre e tenta travar os movimentos de Batman, pois não deseja levar esta luta para o solo. Confiante na sua superioridade em lutas de solo, o vigilante força a queda de ambos. Batman está em aparente desvantagem, com Slade em posição de dominância, ou seja, por cima.

O detetive evita que o Exterminador passe a guarda, mantendo suas pernas cruzadas acima do quadril de Slade, e o agarra firmemente, não deixando qualquer espaço entre ambos. Fazem uma luta visualmente desagradável, mas com muita técnica.

A multidão aumenta lá fora. Pequenos pontos vermelhos, de câmeras, podem ser vistos. Ninguém da assistência ousa entrar. De repente, Batman rompe o silêncio:

— Não interfira!

A ordem é dirigida a Robin, que já está no armazém em posição de agir. A maneira enfática com que a frase foi dita o faz parar, embora seja frustrante.

— Não vai usar... seus amigos? — pergunta um arfante Slade, quase sussurrando.

— Não preciso!

Slade tenta finalizar a luta com chaves ou até golpes, sempre se mantendo por cima. Já há doze minutos Batman está em desvantagem nesta posição. Neste tipo de luta, o simples fato de se estar por cima sobrecarrega a respiração de quem está submisso.

Mas a excepcional estratégia adotada durante todo o combate pelo cavaleiro das trevas surte claros efeitos: o cansaço leva o Exterminador a tentar finalizar com golpes, mas estes têm de ter espaço para que os punhos adquiram velocidade. Slade tenta afastar seu tronco, numa tentativa de "montar" seu oponente, para desferir socos. Batman percebe a oportunidade, pois a força que Slade faz o desequilibra, e aproveita o momento único para girar no solo, ficando com seu tronco atravessado em relação ao tronco de Slade. Num rápido movimento de pernas, numa técnica desconhecida pelo mercenário, Batman toma a lateral do seu adversário, travando-lhe o braço e iniciando uma progressiva inversão na posição.

Como uma anaconda, em movimentos progressivos e lentos, Batman vai dominando o Exterminador, até chegar a passar totalmente a guarda, deslizando da lateral para as costas do mercenário. Slade está nitidamente exausto. As diversas táticas combinadas surtiram efeito.

— Está entendendo, Slade? Essa é minha cidade... e você não vai mais voltar aqui. — toma novo fôlego — Vai ter de conviver com essa derrota. Seu empregador... viu você não cumprir o acordo, sua reputação está manchada.

Batman interrompe sua fala para pegar mais fôlego enquanto o suor pinga dos corpos castigados. O Exterminador tenta impedir que o morcego encaixe seu braço direito por sob sua garganta. Em seguida se debate, num derradeiro esforço, já sem qualquer tática, mas e diferença técnica e o cansaço tornam o desfecho previsível. Aqueles que apostaram em Slade estão preocupados.

— Quem o contratou?

— Não vou dizer... nunca.

Batman encaixa um mata-leão, um golpe de estrangulamento.

— Quem o contratou? — pergunta Batman, quase urrando. Há uma poça de suor e sangue no chão. O vigilante aperta ainda mais o golpe. A face de Slade, observada parcialmente por rasgos na máscara, apresenta vermelhidão e veias inchadas: a asfixia é evidente.

— Não.. vou ... dizer...

Batman mantém a pressão. Seus músculos queimam. O Exterminador, com as mãos, tenta evitar o estrangulamento, buscando enfiar os dedos entre o pescoço e os braços de Batman.

— Quem... o contratou? — a pressão chega ao limite do que resta de forças.

— Pro... inferno... — são as palavras de Slade Wilson, o Exterminador, antes de perder a consciência.

Robin desce e segura Batman.

— Acabou! Pare! — grita o jovem.

Batman rola para o lado em busca de oxigênio. Slade está imóvel. Robin toma os sinais vitais dele e avalia o pescoço. Faz um sinal positivo. O vigilante está deitado, de costas para o chão, com braços abertos e a respiração muito acelerada. Procura se recuperar.

— Precisam de ajuda? — pergunta o Arqueiro Verde, ao lado de Flash.

Batman se levanta vagarosamente. Procura a capa. Pode-se ouvir a imprensa juntar-se à multidão do lado de fora. As sirenes da polícia também se aproximam.

— Flash, leve Slade para Gordon. O resto... — pausa para respirar — me ajude a sair daqui.

— Grande luta! — diz Flash, pouco antes de partir levando o Exterminador.

— Por que não me deixou ajudar? Orgulho? — pergunta Robin.

— Talvez. De qualquer forma, agora Slade sabe.

— Sabe o quê?

— Que Gotham deve ficar fora dos planos dele.


:: Notas do Autor

(*) Em Batman # 13. voltar ao texto

(**) Em Batman # 17. voltar ao texto

(***) Na edição anterior. voltar ao texto

(****) Codinome usado para Alfred para reforçar a segurança nas comunicações. voltar ao texto




 
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