hyperfan  
 

Birds of Prey # 08

Por Igor Appolinário

April Fools' in Love (*)
Parte I

:: Sobre o Autor

:: Edição Anterior
:: Próxima Edição
:: Voltar a Birds of Prey
:: Outros Títulos

Torre do Relógio — Gotham City

— ...nãããããããão, é claro que eu não acho que isso é uma obsessão. — diz Dinah, sarcasticamente, para Bárbara — O fato de você acompanhar todo o tratamento psiquiátrico e guardar um álbum com os crimes dele é supernormal...

— Não sabia que sarcasmo fazia parte do seu rol de habilidades...

— Hoje eu estou inspirada.

Bárbara Gordon está em frente aos seus computadores, vigiando o mundo como Oráculo, enquanto Dinah Lance, a Canário Negro, revisa alguns de seus equipamentos em uma pequena bancada.

— Afinal, qual é o problema em querer o saber do destino do maluco que me aleijou?

— Calma! Só estou dizendo que vigiar esse maluco incansavelmente vai acabar deixando você louca também.

— É pelo bem de Gotham e sua população. Nenhum dos médicos do Arkham foi capaz de curá-lo.

— Mas, pelo que você me disse, eles contrataram uma nova psiquiatra.

Uma insanidade! Querem dar o caso a uma recém-formada; brilhante, mas ainda assim novata...

— Você não confia na capacidade da doutora Harleen Quinzel?

Asilo Arkham — Gotham City

Asilo Arkham, a maior e mais conceituada instituição para o tratamento de doenças mentais do país. Pelo menos essa é a imagem de quem nunca foi paciente do lugar. Quem conhece o interior das instalações, sabe que não passa de um sistema falido, em que os criminosos são, no máximo, contidos, nunca curados.

Em um escritório mal-iluminado, repleto de livros de psicologia e administração, Harleen Quinzel espera pacientemente a chegada do doutor Jeremiah Arkham. Ela olha pelas grandes janelas que se voltam para cidade ao longe, mas não vê nada além da escuridão que cerca o Asilo e as luzes distantes. A porta se abre com um grande ruído, sobressaltando a jovem doutora Quinzel.

— Espero não tê-la feito esperar muito. Por favor, sente-se. Vou ser breve pois tenho que visitar mais alguns pacientes.

— Eu compreendo. Mas quando eu verei meu paciente?

— Logo, doutora. Mas devo informá-la de alguns procedimentos da instituição. O paciente é considerado de alta periculosidade e portanto atenderá às consultas completamente atado, impossibilitado de se mover. Aconselho-a também a manter contato estritamente profissional com o paciente. Já tivemos excelentes terapeutas que ficaram extremamente abalados com os relatos das atrocidades dele. Creio que me fiz claro.

— Sim, senhor.

— Ótimo. Precisamos, nesse lugar, estar atentos a todo momento; com medo de tudo e sem medo de nada. — o doutor ajeita os óculos, limpando-os com uma pequena flanela retirada do bolso — Eu mesmo tive de tirar uma licença por alguns dias; do contrário, enlouqueceria (**). Você poderá começar o tratamento a partir de amanhã. Creio que o brilhantismo que mostrou em seus recentes trabalhos será eficiente também com "ele".

— Muito obrigada, doutor Arkham. Será um desafio excitante...

Torre do Relógio

MO: Queria tanto que você estivesse aqui. NY parece tão estranha e fria sem uma companhia...

BG: Você sabe que eu adoraria estar aí com você, mas eu tenho muito que fazer aqui em Gotham...


BIP! BIP! BIP!

"Droga! Logo agora..." — Bárbara Gordon interrompe sua conversa com o professor Marcus Oebius e começa a checar os sistemas de seu alter ego Oráculo. Alguns assaltos estão em andamento na cidade e ela precisa coordenar as equipes...

MO: Aconteceu alguma coisa? Por favor, diga que não...

BG: Não. Mas aí eu estaria mentindo pra você. Eu tenho que ir...

MO: Eu não vou deixar você fugir de mim. Ainda vou descobrir o que tanto toma seu tempo... tchau.


Babs desliga o monitor e começa a trabalhar com as equipes, coordenando vigilantes e a polícia atrás dos assaltantes

"É tão difícil encontrar homens inteligentes e realmente interessantes. E quando eu encontro um, Oráculo toma todo meu tempo. Desse jeito vou ficar como o Bruce..."

Parque Robinson

Dinah Lance corre pelas alamedas arborizadas do parque. Ela libera sua mente de todos os pensamentos e apenas sente o vento em seu rosto. De repente, Dinah percebe que alguém a segue de longe, um homem também usando roupa esportiva. Ela muda seu caminho entre as diversas ruelas, mas o homem continua a segui-la, ainda sem se aproximar muito.

"OK, vamos ver o que você quer..." — pensa Dinah parando próximo a um banco e se sentando nele. O homem se aproxima ofegante e senta-se ao lado de Dinah.

— Ufa! Você corre rápido, hein? Desculpe a falta de educação, eu sou John Perkis. Você é...?

— Alguém que não está interessada...

— Ora, ora, por que tanta brutalidade? Só estou tentando ser agradável.

— Seguir pessoas por aí não é nada agradável, eu posso garantir.

— Certo, eu comecei com o pé esquerdo, mas você bem que poderia me dar uma chance...

"Hum, o que eu tenho a perder? Não posso ficar esperando o Oliver para sempre..."

— Que tal um jantar hoje à noite? — pergunta John, esperançoso.

— OK. Mas nada de me seguir até em casa.

Torre do Relógio

Oráculo monitora a cidade a procura de qualquer anormalidade, o que em Gotham é quase certo de se encontrar.

— Certo, B. Você pode seguir pela Brubaker até a ponte Robert Kane, mas duvido que eles consigam chegar tão longe.

— Pesquise as saídas mais próximas e prepare-se para tomar o controle do carro...

Enquanto Oráculo preocupa-se com suas funções, a nova moradora da Torre do Relógio tenta se adaptar as regras da casa. Cassandra Cain, filha adotiva do assassino profissional David Cain, comprometeu-se com Bárbara a aprender métodos de luta não-fatais, tarefa complicada para a jovem que pode matar um homem com um único golpe

— Continue treinando com esses bastões, Cass. E lembre-se: imobilize, não mate.

— Hunf! — faz a garota, que continua batendo no boneco com seus dois bastões de alumínio. Sempre que atingido em algum lugar vital, o boneco acende os olhos, mostrando que foi mortalmente ferido, o que deixa Cass frustrada, pois ele não pára de se iluminar como uma árvore de Natal.

Bauducci's — Gotham City

O Bauducci's é um dos mais sofisticados restaurantes em Gotham. O fato de ser comandado pelo chefão da máfia italiana na cidade é um mero detalhe. Detalhe este, aliás, que até acrescenta uma atmosfera misteriosa ao ambiente.

Dinah está maravilhada e plenamente satisfeita com a farta refeição que acabou de comer com seu acompanhante, John. A garrafa do delicioso espumante ainda pela metade dá a eles ainda algum tempo para conversar distraidamente, as mãos juntas, carinhosamente pousadas uma sobre a outra.

— Você me surpreendeu mesmo. Pensei que fosse só mais um desses doidos que ficam seguindo as pessoas pelas ruas.

— E você não ficou com medo de mim?

— Bom, vamos dizer que eu tenha meus meios de me defender...

— Humm, uma mulher perigosa. Bom sab...

BIP-BIP-BIP!!!

"Droga!" — pensa Dinah, imediatamente colocando a mão dentro da bolsa e procurando seu comunicador disfarçado, mas inesperadamente John pega seu pager no bolso e vê que está sendo solicitado.

— Sinto muitíssimo, mas eu tenho que ir. — diz ele, levantando-se da mesa — Eu prometo que te ligo. Essa noite vai ficar suspensa, por enquanto...

Ele dá um beijo no rosto de Dinah e vai saindo do restaurante, deixando a vigilante completamente sem fala e reação, apenas ali sentada, olhando a porta de saída do local.

Arkham

— Eu sou a doutora Harleen Quinzel e hoje iniciaremos seu tratamento.

— Harleen Quinzel... Harley Quinn... Arlequina! Ha! Ha! Ha! Ha!

— Doutora Quinzel será o suficiente. Podemos começar com você me dizendo seu nome...

— Eu tenho muitos nomes, doutora. Maluco, Psicopata, Assassino, Sádico... Coringa... Mas pode me chamar de "Pudinzinho"...

— "Paciente" vai ser o suficiente... agora podemos começar.

— Se nós vamos jogar, você precisa me soltar... — diz o "paciente", se mexendo no divã, braços e pernas atados.

— Você ficará amarrado como manda o regulamento. Hum... diga-me: qual é a motivação dos seus crimes?

— Eu sou de Aquário, ascendente em Áries, e você?

— Suas técnicas de dispersão não funcionarão comigo. Qual o trauma que o transformou no "Coringa"?

— Acho que foi quando minha mãe arrancou a cabeça do cachorro com os dentes ou será que foi quando eu encontrei meu pai vestido de bailarina? Você me pegou nessa, doutora Arlequina...

— Pare com isso! — diz Quinzel, ríspida — O que é preciso para fazer você cooperar?

— Ora, ora, parece que estamos falando a mesma língua agora. — diz Coringa, muito consciente agora — Me solte e serei muito cooperativo...

Dinah e Babs pintam uma grande parede de verde. Bárbara pinta a parte de baixo, enquanto Dinah cuida da parte superior, com a ajuda de uma escada. Elas conversam e riem, se divertindo com o trabalho.

— Adorei a novidade, Dinah!

— Pois é; estou me realizando. É meio que uma volta às origens... estou muito feliz!

— Dinah Lance? — pergunta um senhor grisalho colocando a cabeça para dentro da loja.

— Sim, sou eu. O senhor é...?

— Eu sou o Smith da loja de vidro, vim colocar o letreiro.

— Ah, claro. Bom, é aquela vitrina na entrada. O senhor já tem o texto?

— Sim, senhora. Vou já começar o trabalho, com licença.

— Vida?

— A grande piada… — responde o "paciente", agora livremente recostado no divã.

— Morte?

— Diversão. Pura diversão...

— Crime?

— Perder uma boa piada!

— Amor?

— Você, minha Arlequina.

— Você nunca vai me levar a sério? Talvez seja preciso o tratamento de choque...

— Nananinanão! Eu sou protegido pelo Estado, mon amour.

— Acho que terminamos por hoje...

Dinah agora tem a ajuda de Cassandra na loja. As duas prendem algumas prateleiras nas paredes pintadas, agora já secas.

— Obrigada, Cass.

— Hum-hum. D-d-de N..na..da!

— Uau! Mais um pouco e você vai estar falando muito bem!

— É o que eu espero. — diz Bárbara, entrando na loja carregando alguns vasos vazios — É difícil interagir com alguém que não fala. Nem a linguagem de sinais ela sabe. Ainda bem que está aprendendo a falar rápido.

"Esse homem é um mistério. Intrigante e, estranhamente, atraente. Uma personalidade magnética... fascinante... o maior desafio da minha vida."

— O que levou você a praticar crimes?

— Ora, doutora, você me insulta voltando ao seu velho método de interrogação. Mas me deu um a idéia: Qui pro quo. Eu respondo se você responder...

— Eu conheço o termo, mas por que concordaria em abrir minha vida a você?

— Você quer respostas que somente eu posso dar, minha querida. E tenho certeza de que será uma brincadeira reveladora, para ambos.

Quinzel fica estática em sua cadeira confortável, essa talvez fosse a única oportunidade que ela teria de conhecer esse homem a fundo, a única oportunidade de penetrar em sua mente...

— Muito bem. — diz ela, finalmente.

— Maravilhoso. Agora me diga: por que escolheu ser médica ?

— Eu... sempre quis ajudar as pessoas... acho que acabei chegando aqui, por que eu tinha uma necessidade muito grande de ajudar aqueles que todos consideram... irrecuperáveis...

— Interessante. Voltaremos a isso depois. Bem, acho que é minha vez. "O que me levou a praticar crimes?"... humm... essa é difícil... acho que a necessidade... sabe, eu era um grande comediante, mas, como a maioria dos artistas, meu talento nunca foi reconhecido. E chega uma hora onde não dá mais pra viver tentando fazer os outros rirem, não quando eles riem e batem a porta na sua cara, não quando se tem uma esposa grávida para sustentar... como eu disse, a vida é a grande piada onde você é o bobo de que todos riem...

Quinzel não consegue tirar os olhos do paciente enquanto ele abre seu coração, revelando seu passado sofrido. Discretamente ela pega um lenço e enxuga as lágrimas sobre a face, o Coringa fita o teto e, segundos depois, abre um largo sorriso e se vira para a doutora.

— Bem, doutora, qui pro quo...

Dinah e Babs conversam na floricultura quase pronta. As prateleiras estão todas no lugar, as paredes pintadas em cores suaves, as vitrines e balcões limpos e prontos para receberem as flores e os demais produtos.

— Dá até vontade de chorar de emoção. — comenta Dinah.

— É, eu sei. É muito bom fazer o que se gosta.

— Só espero que nada estrague essa felicidade...

A doutora Quinzel caminha pelos corredores do Arkham. Mais à frente, uma grande confusão chama sua atenção e ela segue curiosa até os enfermeiros que se aglomeram em torno de uma maca. Ela se aproxima, mas, antes de ver quem se encontra deitado no aparato, uma sombra sai do meio dos homens uniformizados e passa por ela, nem reparando em sua presença.

Meu Deus! Ele existe! O B-Batman...

A sombra some por uma das grandes janelas do Asilo e Harleen volta sua atenção para a maca. Nela, Julian Day, conhecido como o Homem-Calendário, está deitado, nocauteado, com hematomas horríveis e respirando sofregamente.

— Meu Deus, o que ele fez com você...?

— Vai se acostumando, doutora, todos eles voltam mais ou menos no mesmo estado. Acho que ele pega leve só com as mulheres, às vezes...

"Oh, meu Deus! Esse vigilante mascarado fora-da-lei é um animal! Ele espanca esses doentes mentais quase até a morte e se acha um herói? Julian Day, Edward Nigma, Harvey Dent... o Coringa! Oh! O quanto eles sofreram? O quanto aquele pobre homem sofreu..."


No próximo número: a dra. Quinzel parece incrivelmente sensibilizada com a situação do Coringa. Será que tem alguma coisa aí além de pena? Descubra na segunda parte de "April Fools' in Love"!


:: Notas do Autor

(*) Leia ouvindo: "Lovefool" — The Cardigans voltar ao texto

(**) Como vimos na minissérie Dr. Samson — Delírios e Sonhos no Asilo Arkham, publicada no Hyperfan. voltar ao texto




 
[ topo ]
 
Todos os nomes, conceitos e personagens são © e ® de seus proprietários. Todo o resto é propriedade hyperfan.