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Por
Rodrigo 'Camatz' Nunes
BLIM, BLOM
Como toda grande cidade, Seattle também tem suas pequenas lojas 24 horas. O barulho daqueles sinais eletrônicos irritantes anunciam a entrada de mais um consumidor, Malcolm Walter. O dono do estabelecimento é um oriental. Ele não gosta de receber clientes homens solitários durante a madrugada, quando tudo está vazio. É perigoso. Principalmente em noites chuvosas como aquela.
Walter caminha até a seção mais distante do caixa e observa os produtos. Ele é mais um nas estatísticas de desemprego. Negro, sem formação universitária, pobre. Vítima da sociedade, maldade intrínseca ou falta de caráter? Talvez ninguém nunca saiba os verdadeiros motivos de seus atos. Nem mesmo Walter. Ele pega alguns pacotes de cigarro e coloca dentro da calça jeans larga. O longo capote de lã vermelha permite esconder o roubo.
Muito bem, seu marginal. o sotaque oriental vem carregado Levante as mãos. Vou te entregar para a polícia.
Sr. Miag, chinês, 48 anos. Pai de três filhos. Imigrante. Carrega uma velha escopeta comprada após o quinto assalto à sua loja. É a primeira vez que a usa.
Qualé, cara? Pra que isso? Eu não fiz nada. Na moral, eu vou é sair dessa loja fudida, cara.
Você vai é para a cadeia.
Tremendo, sr. Miag pega o telefone e começa a discar. Num gesto rápido e experiente, Walter empurra a escopeta e esmurra o dono do local. Coloca uma das mãos atrás do capote e, ao retorná-la, traz um revólver. Tira seu gorro, como se quisesse respeitar o momento.
Ih, cara. Cê vai começar a cheirar como merda.
Sem mais nenhuma palavra, Walter atira.
Bem-vindo à Floresta
Está chovendo. A chuva bate nas janelas, no concreto dos edifícios. A água escorre tal qual como faz nas árvores das florestas. A diferença é que essas são de cimento.
No alto de um pequeno imóvel, uma figura vestida como nas lendas de Robin Hood observa sua cidade. Um homem vivido, um vigilante. Seu nome é Oliver Queen. Mulherengo, ex-milionário, membro do grupo de seres mais poderosos da Terra. Antes de qualquer desses títulos, o que mais o caracteriza é o de caçador urbano.
Num mundo de super-humanos, de destruição em massa, de alienígenas invasores, ele tem um pensamento incomum: o homem normal, o trabalhador, o pai de família, deve ser protegido. Às vezes de ultra-ameaças. Outras, dele mesmo.
BLAM!
O barulho de um tiro chama sua atenção. Ele vê um homem armado saindo correndo de uma pequena loja 24 horas. É hora de caçar.
Ele desce correndo do lugar onde está. Pessoas chegam ao local.
"Se existir alguma vítima, ela será socorrida por eles." pensa.
Sabe que deve evitar que isso se repita.
Por ruas estreitas, eles correm.
Walter vê que está sendo seguido. Corre como nunca. Numa mão ele segura a arma. Na outra, um pacote de cigarro. O preço de uma vida.
Oliver segue. Numa mão, seu arco longo, arma mortal. Com a outra, puxa uma flecha verde, com ponta metalizada.
Walter não sabe por que seu algoz não desiste.
"O cara deveria ter medo!" pensa. Afinal, ele está armado.
Atira para trás, sem mirar, sem parar.
BLAM! BLAM! BLAM! BLAM! BLAM!
Oliver não desiste. Sabe que sem parar e sem mirar, o perseguido nunca irá acertá-lo.
"Eu também estou armado".
Os pés de ambos pisam em poças d'água que refletem a luz dos postes. A chuva diminui de intensidade.
Castigado pelo destino, Walter entra em um beco, sem saídas. Algumas portas, lixeiras, três prédios. Nada muito limpo. As tentativas de arrombar uma das portas falham. Ele não é forte o suficiente. Sem alternativas, sobe numa das escadas de incêndio.
Oliver chega. Lentamente, pega uma das flechas e a coloca no arco. Ele puxa a corda com força, mas com classe, como se tratasse uma dama. Seus olhos seguem os passos de Walter. Um disparo e o marginal cairia sem vida.
De repente, para ambos é como se, por poucos segundos, o som não pudesse ser ouvido. Enquanto mira, uma gota da chuva escorre pelo rosto de Oliver Queen. Ela percorre sua face e seu cavanhaque até cair, solitária, numa poça. No mesmo momento, a flecha é lançada. Sua ponta se aproxima de Walter e o atinge na perna.
Walter é derrubado. A arma, ao longe, fica inalcançável. Só quando ele, ainda atordoado, se vira para seu algoz, o barulho retorna.
Seattle é uma floresta. E o maior carnívoro da cadeia alimentar é o Arqueiro Verde.
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